Cine Villa Rica e a volta do cinema de rua no coração de Londrina

O Espaço Villa Rica reabriu as portas do Cine Villa Rica, na noite desta quinta-feira (7), com a exibição do filme Belfast, ganhador do Oscar 2022 de Melhor Roteiro Original.

Fui acompanhar a reabertura e como se fosse uma comédia romântica do início dos anos 2000, eu estava atrasada. Uma jornalista correndo, no Dia do Jornalista, mas ao invés de gritar táxi no meio da rua, olhava desesperadamente para a tela do celular esperando que um motorista de aplicativo aceitasse a corrida.

A sessão começava às 19h30 e já era 19h20 quando entrei no carro. Resolvi tentar tirar proveito das vantagens tecnologias que não existiam da primeira vez que o cinema abriu e comprar meu ingresso pelo site. Mas os novos dispositivos não pareciam querer colaborar com a minha visita ao nostálgico cinema.

Acabei não conseguindo finalizar a compra no site a tempo, tendo que refazer meu cadastro que não era usado há muitos anos. Então cheguei e fui correndo para a bilheteria, quando já era 19h35. Por sorte, diferente dos cinemas localizados no interior de shoppings, a distância entre a entrada e a bilheteria é pequena.

Tentei fazer alguns registros do ambiente, com uma linda escada coberta de tapetes vermelhos, grandes espelhos emoldurados nas paredes, mas na correria consegui apenas pequenos vídeos tremidos. Paguei R$ 25 no ingresso, o preço da entrada inteira, e pulei a sessão de pipoca, doces e bebidas para entrar correndo na sessão e não perder o início do filme.

(Portal Pop3/Reprodução)

De certa forma, existe algo nostálgico em correr para não perder a sessão. Entrar rapidamente na sala de cinema, enquanto os trailers dos próximos lançamentos já rodam na telona. O cheiro de pipoca, o barulho de garrafas de água com gás sendo abertas, as últimas conversas antes do show começar. Um filme que não espera por você estar pronta para apertar o botão do play. O tempo é dele, não seu.

Cheguei a tempo de assistir o trailer de algum próximo lançamento de uma produção sobre dinossauros, um dos meus temas favoritos da infância. E quando o filme começou, me perguntei por um momento se estava na sala certa, mesmo tendo visto que aquela era a única sessão de estreia. Belfast, que é majoritariamente em preto e branco, é iniciado por cenas coloridas, que eu não estava esperando ver nessa noite.

De forma poética, o filme, que é inspirado na infância do diretor Kenneth Branagh, mostra a perspectiva de um garoto, Buddy (Jude Hill), na cidade de Belfast em meio aos conflitos entre católicos e protestantes, em preto e branco. Enquanto isso, as cenas em que as personagens vão ao cinema, nos mostram narrativas coloridas sendo exibidas na telona. O colorido da arte, em meio a uma realidade conturbada em preto e branco. Me pareceu uma boa escolha de filme para ser exibido na reabertura de um cinema que faz parte da história de Londrina. Um filme que mostra o amor às narrativas cinematográficas.

Quando a exibição acabou e todos começaram a sair, notei que um senhor continuava sentado enquanto os créditos rolavam na tela. Como se ele próprio fosse um personagem em um filme, me perguntei qual seria sua história. Se aquele cinema a marcou de alguma forma.

Na ida pra casa, o motorista que me levava me contou que costumava frequentar esse cinema, que era o melhor da cidade. Recordou as filas para comprar ingressos, que se estendiam na calçada. Recordou assistir ao filme Titanic (1998), com sua agora esposa, quando estavam no primeiro ano de namoro. Agora, eles já estão casados há 25 anos. Existe algo mágico em lugares com memória. Eles guardam parte dos filmes que podem nunca chegar à telona, mas que se repetem para sempre dentro das nossas cabeças.

Belfast está em exibição no Cine Villa Rica de terça à sexta-feira, com sessão única às 19h30 da noite, nos sábados com duas sessões, uma às 17h e outra às 19h, e no domingo também com duas sessões, uma às 15h e outra às 17h. Você encontra mais informações sobre o cinema no Instagram e mais informações sobre o espaço no site.

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