A Queda tira o fôlego, mas desafia a inteligência do espectador (Crítica)
Com uma premissa simples, filme convence até determinado ponto - mas não surpreende em nenhum momento.
Publicado em 29 de setembro de 2022, por João Schiavo • CríticasLançado com a promessa de ser um thriller de sobrevivência, chegou hoje aos cinemas brasileiros A Queda, produção dirigida por Scott Mann e estrelada por Grace Fulton e Ginny Gardner. Com uma trama simples e desenrolar previsível, o que era para ser um dos melhores filmes do ano acaba sendo mais do mesmo, e não surpreende os fãs do gênero.
Antes de entrarmos nos poréns, vamos à proposta da produção: após um evento traumático, duas jovens decidem superar seus medos escalando a maior torre de rádio dos Estados Unidos, chegando ao topo de mais de 600 metros do chão. O que elas não esperavam era que seria impossível fazer o caminho de retorno, e se veem presas e isoladas no topo. A partir daí, o instinto de sobrevivência fica mais do que alerta nas duas garotas.
Parece muito convidativo, não? E, de fato, é mesmo. A sinopse carrega uma responsabilidade enorme, que é a de entregar um filme de tirar o fôlego do início ao fim. E é o que de fato acontece? Se você tiver o mínimo de senso crítico, não…

(Lionsgate/Reprodução)
Um dos pontos técnicos que incomoda, sem dúvidas, é o CGI quase amador em vários momentos. Desde a cena inicial até o fim do longa, a computação gráfica é usada e abusada, infelizmente, sem muito tato. Para bom entendedor, meia noção de realidade durante a produção bastaria.
Inclusive, o principal pecado do filme é subestimar a inteligência do público. Ok, em vários momentos existe tensão, desespero, pânico e uma interrogação gigante quando, junto das protagonistas, nos perguntamos “como elas sairão daí?”. Mas a dúvida e a tensão superficial não é suficiente para captar a realidade desejada na teoria, uma vez que, durante as tentativas de sair de onde estão, ideias totalmente infundadas são colocadas como geniais pelas personagens. Há 600 metros do chão você realmente acharia uma boa ideia balançar suas perninhas no vento, na beirada de uma estrutura enferrujada?
Vale dizer, entretanto, que para os que tem pavor de altura pode ser um prato cheio para descolar o corpo do sofá em diversos momentos. No quesito vertigem, o filme dá um show mesmo, mas para por aí. Nem a atuação mais crua das duas atrizes convence por quase 1 hora e 40 minutos, considerando que, em várias cenas, elas aparecem calmas, serenas, e até conversando sobre questões banais da vida. No momento seguinte, elas estão em desespero, tentando sobreviver e decidir como descer dessa estrutura. Esse intercalar de sensações acaba deixando uma ideia de que nem o roteirista sabia onde encaixar determinadas questões. É óbvio que precisamos de um contraponto na tensão, mas a organização dessa adrenalina dá o tom do sucesso – o que falta em A Queda.

A aflição e a vertigem existem, mas são superficiais no longa. (Lionsgate/Reprodução)
O que pode cativar os poucos que seguirem até o fim do filme é o plot twist dos derradeiros minutos. Com uma reviravolta inesperada, A Queda pode arrancar um bom choque, mas não é o bastante para convencer de modo geral.
Vale a pena sair de casa e assistir no cinema? Se você não for tão crítico ou não se importar com o desenrolar mais detalhado da produção, certamente. É divertido, arranca alguns suspiros de medo e tensão, mas não chega nem perto de ser uma obra prima do gênero sobrevivência. O clímax final até consegue limpar um pouco a barra da sequência de erros e furos de roteiro, mas deixa a sensação de esquecimento. Quando o filme acabou, era como se tivesse sido só mais um de centenas de títulos que já vimos e não lembramos.
Pode não ser pior que uma queda de mais de 600 metros de altura, mas passa longe de deixar um gostinho de quero mais.

Nota: 2
