Aftersun constrói retrato belo para uma memória agridoce (Crítica)
Em Aftersun, Charlotte Wells realiza um filme autobiográfico sobre a sua própria infância ao lado de seu pai
Publicado em 7 de dezembro de 2022, por Amanda Bonfim • Críticas, Oscar 2023Aftersun é um filme sobre o amor que o pai sente por sua filha. E esse representado, em especial, possui um traço autobiográfico da relação da diretora, Charlotte Wells, com seu próprio pai. O filme começa com uma fita sendo assistida, quando Sophie (Frankie Corio) está se despedindo de seu pai, Calum (Paul Mescal), no aeroporto. Depois de dizerem “eu te amo” um para o outro, o filme volta ao início desta viagem.
Sophie está indo para a Turquia passar as férias com seu pai, que está sempre com uma câmera na mão para registrar os momentos. Apesar de Sophie precisar viajar da Escócia para Turquia para ver o pai, a relação entre eles é muito próxima; são muito amigos em vários momentos e isso fica claro. Os acontecimentos normais de férias acontecem, excursão com a agência de viagens para lugares turísticos, atividades no hotel ocorrem, mas é nos detalhes que o filme em si se desenvolve.
O filme se desenrola entre momentos das férias, também sendo visto através da câmera de Calum, e um momento no futuro, no qual percebemos que o filme é sobre Sophie revisitando suas memórias sobre essas férias com seu pai. Isso acaba intrigando ao pensar na razão dessas férias serem tão especiais. Em um momento que Sophie está vendo as filmagens que foram feitas, ficamos sabendo que Calum está quase completando 30 anos e que Sophie tem 11 anos. Por Calum ser um pai jovem, isso é também percebido pelas atividades que Sophie tem: ela prefere ficar com adolescentes do que com crianças da sua idade, algo que se reflete quando Sophie joga sinuca muito bem para sua idade.
Por Sophie já ser bastante madura, ela percebe em diversos momentos que seu pai está passando dificuldades financeiras. Quando eles estão em uma loja de tapetes turco, Calum conta a Sophie uma história sobre os desenhos do tapete, porém ao perguntar quanto é, Calum não o compra. Mesmo o admirando em algumas outras cenas, essa falta de dinheiro começa a afetar Sophie que vê outras pessoas comendo, bebendo, usando o fliperama, ou seja, utilizando o hotel sem amarras, enquanto ela não consegue fazer o mesmo. Como Calum e Sophie possuem um diálogo muito bom, Sophie conta que as vezes se sente sem motivos. Após a sua fala, Calum fica pensativo e apreensivo, primeiro momento que Calum demonstra sua insegurança quanto a ele ser depressivo passar, sua filha poder ser também.
Após esta cena, começamos a perceber que Calum, apesar de parecer muito feliz para sua filha, luta contra uma depressão muito grande. Na véspera de seu aniversário, Sophie o faz uma pergunta que o deixa tão desconcertado que Calum fica grosseiro e percebemos que esta tristeza tão profunda que ele sente, o acompanha desde criança.

(O2 Filmes/Reprodução)
Apesar de ser um filme sobre o amor que o pai sente pela sua filha, mesmo sua criação não sendo a mesma, presente e amorosa, do que teve. O filme também é sobre uma filha que vê a depressão levando seu pai. A sensação do filme é bastante agridoce, ao mesmo tempo que lágrimas escorrem por ser um amor tão genuíno, segundos depois as lágrimas são de tristeza. E Sophie está relembrando esta viagem, porque é seu aniversário. Lembra, provavelmente, porque foi o último aniversário de seu pai e aquela idade a traga uma sensação mista.
O filme estreou no festival de Cannes, está passando por outros festivais, inclusive ganhou o prêmio de melhor filme independente britânico. Em sua produção executiva conta com Barry Jenkins, Aftersun é a estreia de Wells e é um filme muito bonito sobre um assunto delicado e contado, em grande parte, visto sob os olhos de uma criança de 11 anos. É um filme para se encantar, emocionar. Um filme necessário. Um filme para ser visto nos cinemas.

Nota: 5
