Blonde: filme da Netflix desrespeita memória de Marilyn Monroe (Crítica)
Como se não bastasse o sofrimento sofrido pela atriz em vida, filme de Andrew Domink explora e fetichiza Monroe mesmo depois de morta
Publicado em 3 de outubro de 2022, por Victoria Vischi • Críticas, Oscar 2023O novo filme inspirado na vida de Marilyn Monroe, Blonde, lançado pela Netflix e dirigido por Andrew Domink é uma monstruosidade de quase três horas de duração. A produção é baseada no livro best-seller de Joyce Carol Oates e reimagina a vida de uma das mais famosas estrelas de cinema, Norma Jeane, cujo nome artístico sempre foi Marilyn Monroe.
“Esta cinebiografia fictícia reimagina a conturbada vida privada da lendária Marilyn Monroe e discute o preço que a atriz pagou pela fama” descreve oficialmente a Netflix em sua plataforma, mesmo que biografia talvez não seja o que melhor define essa produção.
Misturando fatos com ficção, a trama reconta a história da atriz, desde sua infância conturbada, sob os cuidados da mãe que viria a ser diagnosticada com esquizofrenia paranoica, até sua morte aos 36 anos nos anos 1960. A versão romanceada da turbulenta história de Monroe falha em retratar a exploração sofrida por ela com respeito, ao acabar fazendo o mesmo, criando um espetáculo do seu sofrimento e se aproveitando de sua imagem.

(Netflix/Reprodução)
Blonde deixa um gosto amargo na boca do espectador, dando vida a rumores sem evidência, explorando cenas de sofrimento e acrescentando fetos de CGI falantes de enorme mau gosto em uma campanha antiaborto. O primeiro fake feto a aparecer em cena, seria abortado pela atriz, fato que não tem nenhuma fundamentação histórica, já que não há registro de que Marilyn tenha feito aborto. Da segunda vez que ela fica grávida na ficção, o feto aparece falando, pedindo para não ser abortado. E, como se fosse uma punição por ter abortado o primeiro feto, ela acaba tendo um aborto natural.
Além da violência contra o aborto desses artifícios irreais, essa escolha narrativa se configura como um desrespeito ainda maior ao ser vinculado a imagem de Marilyn Monroe, que, de acordo com os relatos, queria muito engravidar e ser mãe, no entanto não conseguia por complicações causadas pela endometriose.
O filme é um fracasso, com 43% de aprovação da crítica no portal Rotten Tomatoes, baseado em 222 comentários, e 33% de aprovação da audiência, com mais de mil comentários. O que salva na produção é a atuação de Ana de Armas que dá vida a Marilyn e cenas bonitas na fotografia em preto e branco, mas que são ofuscadas no quadro geral ao serem colocadas lado a lado de cenas que deixam a desejar.
Blonde se apresenta como a personificação da indústria que ataca e causa sofrimento a tantas artistas mulheres, e, pior, mostra que nem a morte é capaz de colocar fim a essa exploração. Ao invés de uma produção para honrar a memória e relembrar a carreira de Monroe, que segue sendo um dos grandes ícones de Hollywood, o filme só serve para desrespeitar, fetichizar e manchar a imagem da atriz, mesmo depois de morta.
Se mesmo assim tiver vontade de assistir Blonde, seja por curiosidade para descobrir com os próprios olhos se está realmente tão ruim assim ou não, o filme está disponível na plataforma de streaming Netflix. E, caso já tenha assistido, compartilhe com o Portal Pop3 a sua opinião por meio das redes sociais!

Nota: 2
