Era Uma Vez Um Gênio: cativante como uma boa contação de histórias (Crítica)
De uma narrativa fantástica à discussão da solidão, o novo filme de George Miller traz a narrativa como essencial para o autodescobrimento
Publicado em 30 de agosto de 2022, por Vanessa Freitas • CríticasJá imaginou se, de repente, aparecesse um gênio, ou um Djinn e te oferecesse três desejos? Ele estaria disposto a realizar os seus desejos mais profundos, e só existem três regras para cerceá-lo. Regra número 1: três desejos significam apenas 3 desejos. Regra número 2: é proibido tentar ser imortal. Regra número 3, o curso da vida deve ser respeitado.
A maioria de nós, como boa parte da humanidade, saberia o que pedir sem muita demora. No entanto, em Era Uma Vez Um Gênio (Three Thousand Years of Longing, 2022), somos convidados a conhecer Alithea Binnie (Tilda Swinton), uma especialista em história, mitologia e narratologia (quem estuda narrativas), que — mesmo diante do gênio (Idris Elba) — reluta em desejar e pedir. Para essa mulher a vida, pelo menos a princípio, basta-lhe. O gênio, assim, precisa lhe convencer do contrário. É, nesse momento, que tanto o espectador quanto Alithea Binnie passam a ouvir sua história.
Apesar de o filme usar a voz over para os personagens de Tilda Swinton e Idris Elba, somos levados a vislumbrar as histórias por meio de cenários bem-feitos, figurinos provocativos e boas histórias, o que é comum e esperado dos filmes de George Miller, responsável pela franquia Mad Max.
A fotografia, encargo de John Seale, — mesmo diretor de fotografia do Mad Max: Fury Road (2015) —, ajuda o espectador a entender um pouco mais sobre a conturbada cabeça de Alithea, trazendo planos fechados, câmera na mão (em alguns momentos), e atribuindo a focalização, em muitos momentos, à protagonista. O gênio, por sua vez, é potencializado, não só pelo excelente trabalho corporal de Idris Elba, mas também pelos efeitos especiais. O personagem, como ele próprio se caracteriza, é feito de ondas eletromagnéticas, feito de fogo.

(Paris Filmes/Reprodução)
Assim, mergulhamos inteiramente no ato de contar do gênio. Ele, como Ssherazade, personagem icônica de Mil e uma noites, narra para sobreviver e viver. Para os gênios, contar e ouvir histórias é tão importante quanto respirar. Nesse paralelo, talvez aí esteja o laço que une Alithea e Gênio, ou talvez que una a imortalidade e a humanidade. Estamos desesperados para ser lembrados e, por isso, precisamos contar nossa história, seja através da literatura, seja através do cinema.
O filme, nesse contexto, se apresenta como uma tentativa de unir a mitologia, o fantástico para discutir o que é tão primitivo e humano: a solidão e a ânsia de ser ouvido. O espectador e Alithea Binni são, de alguma medida, atravessados pelo narrar, pelo compartilhamento das experiências. Essas que, vividas ou fingidas, nos atravessam. Somente, a partir disso, é que a protagonista consegue enfim entender quais são seus desejos (se ficou curioso para saber quais foram, assista ao Era Uma Vez Um Gênio).

(Paris Filmes/Reprodução)
Por fim, é possível apontar que ele não é cheio de reviravoltas, plot twist e explosões — como outros trabalhos de Miller —, mas prende o espectador por saber contar uma boa história. Ele é indicado para quem ama narrativa, contação de história e fantasia. Agora, para quem procura um filme de ação e aventura com rostinhos conhecidos, fica a indicação de Trem-Bala, novo filme de David Leitch.

Nota: 4
