Gêmeo Maligno derrapa ao tentar ser diferente, mas entrega terror requentado (Crítica)
Atualmente nos cinemas do Brasil, o terror tenta criar uma atmosfera de horror nórdica, com ares de Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019)
Publicado em 11 de agosto de 2022, por João Schiavo • CríticasSer fã de terror é um mar de surpresas. Todo anúncio, todo lançamento e toda produção chega recheada de expectativa, de competência e, muitas vezes, até de juramentos relacionados à uma renovação no sistema do gênero. O horror é delicadíssimo, assim como a comédia, na hora de botar a mão na massa para executar. Ele tem todos os elementos possíveis para fincar a estaca no extremismo: seja muito bom, ou muito ruim. Por isso, ser admirador desse universo é sempre nadar sem saber onde vai chegar.
E com Gêmeo Maligno (The Twin, no original), que estreia hoje nos cinemas de todo o país, essa natação é um boiar de quase duas horas. Quando digo isso é no sentido de que o filme vende uma coisa, mas entrega outra. Já adianto que não, não é uma produção ruim, mas também não é excelente. Passa batido, assim como Maligno (2019), Tempo (2021) e A Casa do Terror (2019), exemplos que prometiam em seus trailers e prévias, mas acabaram sendo grandes decepções – principalmente Tempo (meu Deus, que filme horroroso!).
O plot de Gêmeo Maligno é o seguinte: Rachel (Teresa Palmer), seu marido Anthony (Steven Cree) e seus filhos gêmeos Elliot e Nathan (Tristan Ruggeri) estão em uma viagem de carro, até que sofrem um acidente que acaba matando Nathan (a cena da descoberta da morte da criança, inclusive, é uma das mais interessantes da produção). Com o trauma, a família decide se mudar para a casa da família de Anthony, que fica na Finlândia. Acreditando trazer novos ares para si e para o filho, o casal começa a perceber que a mudança não foi tão positiva quanto podiam imaginar, e Elliot passa a criar uma relação bastante macabra com o irmão falecido nesse novo espaço.
Um acidente traumático, uma mudança brusca e o início de uma atividade paranormal onde uma criança é o centro: um clichê já visto em dezenas de produções, que não empolga muito quem decidir assistir o filme apenas pela sinopse. Mas Gêmeo Maligno tenta criar uma atmosfera de horror nórdica, com ares de Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019), sem o mesmo êxito da produção da A24. Em uma narrativa linear, sem jumpscares interessantes e sem nenhum tipo de amarração que cative, o filme acaba sendo só mais um na multidão.

(Paris Filmes/Reprodução)
Outra questão que não empolga no longa é o ritmo, que puxa o freio de mão no início e só solta nos últimos minutos — que são, de fato, os melhores. Não há muito desenvolvimento de cenas chave nesse meio tempo, o que cria a sensação de sonolência em alguns instantes, além de picotes em cenas que poderiam entregar mais. Diferente da direção, que exerce um trabalho até satisfatório, a edição pecou em muitos aspectos.
Mas nem tudo é tããão morno nessa história: a interpretação de Teresa Palmer é bem construída, proporcionando aos espectadores o contato com uma mãe fragilizada e tensa, que transmite seu pânico numa delicadeza quase angustiante. Os atores, num geral, não decepcionam, mas caíram no azar de estrelar uma produção sem força, sem brilho e imemorável.
A equipe técnica do longa, inclusive, parece tentar tapar o buraco existente no roteiro com inserções externas para criar uma atmosfera mais tragável. A luz e a fotografia se esforçam para trazer o espectador para dentro da história – se não são puxados pelo enredo, que seja por qualquer outra coisa, né? Quem não tem roteirista, caça com técnico.

(Paris Filmes/Reprodução)
No fim das contas, Gêmeo Maligno tenta desesperadamente enfiar vários conceitos de uma vez, mais confundindo que ajudando. É a sensação de que um novelo de lã foi desfeito e tentaram o enrolar novamente, mas não deu tão certo assim. Chega uma hora que nem quem destine toda sua atenção consegue compreender para onde está indo o filme, o que é um convite para lavar as mãos, pegar seu celular e começar uma nova partida no seu jogo favorito.
Com a promessa de atormentar os cinéfilos de plantão, Gêmeo Maligno mais desaponta do que colabora. Tem pontos positivos, mas se afunda em um montante de tentativas. Infelizmente, fica abaixo do esperado e não deixa nenhuma memória, seja ela positiva ou negativa, o que é pior do que se fosse detestável.

Nota: 1.5
