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Lady Gaga brilha em Casa Gucci, o que não significa muita coisa (Crítica)

A algazarra ambiciosa de Ridley Scott se propõe a ser muita coisa e acaba não entregando nada

Publicado em 25 de março de 2022, por Críticas, Oscar 2022

Quando começaram as especulações sobre os possíveis cotados à indicações para o Oscar 2022, alguns nomes pareciam certos, e muita gente se surpreendeu quando essas apostas começaram a falhar. Uma delas é de todas as possíveis indicações de Casa Gucci, um dos últimos trabalhos do cineasta Ridley Scott, que conta com um elenco estreladíssimo, além de uma campanha milionária por parte da sua distribuidora nos Estados Unidos, a MGM. É claro que um nome nesse elenco saltava mais aos olhos do grande público, e estou falando da grande estrela do pop, Lady Gaga.

No final das contas, o filme recebeu apenas uma indicação, a de Melhor Cabelo & Maquiagem, categoria que inclusive foi jogada para série B da premiação e, assim, não será transmitida ao vivo. A verdade é que as pessoas que ficaram tão surpresas com essa esnobada, provavelmente nem mesmo assistiram o filme. É claro que tem fandom envolvido, e esses aí são causa perdida, não importa se assistiram ou não, vão dar um jeito de dizer que é uma obra prima. A verdade é que quem assiste Casa Gucci sabe muito bem que dizer que o filme tem qualidade duvidosa, na verdade é a forçação de um elogio.

(MGM/Reprodução)

Casa Gucci é adaptado de uma das várias obras de caráter jornalístico sobre os escândalos da família Gucci, escrita em 2001 por Sara Gay Forden (Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte, lançado no Brasil em 2008). A marca que foi criada nos idos de 1921 como uma loja de artigos de couro por Guccio Gucci, mas foi na mão de seus quatro filhos Aldo (Al Pacino), Rodolfo (Jeremy Irons), Vasco e Ugo (que não aparecem no filme) que ela se tornou um grande império do mundo da moda, reconhecida até os dias atuais como uma grife de luxo altamente respeitada, mesmo que não esteja na mão dos Gucci há muito tempo. O escândalo envolvendo o relacionamento do filho de Rodolfo, Maurizio Gucci (Adam Driver) e Patrizia Reggiani (Lady Gaga) é um ponto central para a queda da família, mas que na mão de Ridley Scott parece ter sua importância subestimada a um nível vulgar.

O envolvimento entre Patrizia e Maurizio causa reprovação por parte família Gucci, em especial por parte de Rodolfo, afinal ela vinha de uma origem muito menos nobre e a luta de classes fica bem aparente quando esse tipo de relacionamento ocorre. Eles acabam se casando, tendo duas filhas, e com o forte incentivo de Patrizia, Maurizio volta a se envolver cada vez mais com a empresa da família, chegando a presidência da empresa. Um personagem importante para essa parte da história é filho de Aldo, Paolo Gucci (Jared Leto). Não pretendo me estender muito nessa sinopse, mas basta dizer que pela influência e ajuda de uma cartomante (Salma Hayek), anos depois do divórcio, a história termina no assassinato de Maurizio pelas mãos de um assassino de aluguel contratado por Patrizia.

(MGM/Reprodução)

O maior problema de Casa Gucci está no completo caos criativo em que esse filme foi produzido. Não há uma visão artística, há muitas. Há qualidades no figurino, mas nada que contribua essencialmente para a história a ser contada. A trilha sonora, direção de arte e fotografia não fornecem nenhum aspecto em especial que valha ser comentado. Cada ator do elenco foi para um lado e todos eles acabam sendo bem ridículos quando colocados juntos. Al Pacino parece estar interpretando um advogado de porta-de-cadeia; Jared Leto (talvez o maior dos equívocos desse filme) ridiculariza seu personagem com uma atuação constrangedora; Jeremy Irons faz o apático “rico que não liga para dinheiro”; enquanto Adam Driver começa no mesmo ponto de Irons, mas não entrega o arco de transformação que seu personagem pede.

Mas você deve estar se perguntando: e a Lady Gaga? Pois bem, ela é a única coisa que se salva nesse filme. Não por ela entregar uma atuação incrível e memorável que ficará marcada para a história do cinema até porque, é uma atuação que não consegue nem mesmo salvar o filme em si , mas sim porque Lady Gaga é antes de tudo uma cantora pop, o que significa que a sua arte e aquilo com ela faz com excelência é justamente tudo que deriva disso. A atuação pode até ser um desses derivados, mas não é o principal dos seus talentos.

Sua atuação se salva no meio da bagunça que é Casa Gucci, justamente porque é uma atuação crua. Crua de conceitos, de técnicas ou de conhecimentos formais sobre a arte de atuar. É uma atuação instintiva e que se sustenta principalmente pela incrível presença de palco que uma estrela como Lady Gaga consegue colocar a serviço de sua personagem. Mas verdade seja dita: um dos poucos acertos da Academia esse ano foi não indicá-la à categoria de Melhor Atriz. Cabelo e Maquiagem é suficiente  e talvez até demais.

Casa Gucci
House of Gucci
2021
Ridley Scott
Becky Johnston e Roberto Bentivegna, baseado na obra de Sara Gay Forden
Universal Pictures Brasil

Nota: 2

Nota: 2

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Gosto de música, cinema, artes em geral e de um bom pudim. Membro e pregador fiel da religião "Equilibro é tudo." Sou graduado e atualmente mestrando em Geografia.