Moonage Daydream: um tributo a David Bowie (Crítica)
Moonage Daydream traz uma experiência à la Bowie com cenas inéditas de sua carreira para as salas de cinema
Publicado em 15 de setembro de 2022, por Amanda Bonfim • CríticasO documentário Moonage Daydream é um tributo à carreira de David Bowie, sendo construído a partir de imagens de arquivo de seus shows, bastidores das apresentações, entrevistas e até experimentos do artista, sendo tanto vídeos como fotos. O filme se inicia com uma fala de Bowie em 2002 e a primeira cena é regravada do seu clipe “Blackstar”, música que leva o nome do seu último álbum lançado. Assim entramos no universo de Bowie.
Com muitos vídeos de um concerto de Bowie, alternando para partes de clipes, entrevistas do artista e fãs indo para seus shows, fotos com músicas, falas em entrevistas desincronizadas com as imagens, assim é o tom do documentário. Caótico. Para Bowie, porém, o caos é algo que a humanidade deve aderir; para ele, a vida era melhor com ele — como diz em parte de uma entrevista usada no filme.
O documentário pode ser pensado em três partes, cujas telas pretas em silêncio as separam: o inicio da carreira, o momento após o hiato de 1980 a 1983, e sua carreira após ter se casado com Iman. A primeira parte, na qual em uma entrevista David Bowie diz que sua criação é fazer música com notas diferentes a cada 50 segundos ou trocar as partituras dos instrumentos que pertence para um outro, por isso, é uma música mais complexa e caótica, isto é passado para a imagem. Há imagens de um show, com entrevistas, fotos, imagens feitas em softwares e, às vezes, essas imagens eram sobrepostas, ou trabalhadas digitalmente para ter uma outra cor ou ser duplicada, além de pinturas e esculturas feitas pelo próprio artista.
O som também é muito carregado. Junto das partes de músicas e falas de entrevistas, havia um trabalho no som para trazer uma atmosfera imersiva para o universo do Bowie, que por si só era composto de muita experimentação, mistura e bastante coisa acontecendo ao mesmo tempo. O diretor, Brett Morgen, conseguiu traduzir essa experiência para os espectadores muito bem em seu filme.
A segunda parte, em que Bowie diz, em uma entrevista, querer trazer uma música mais simples para o seu público, também utilizada no filme, é refletida na montagem. Nesta parte não há muita informação ocorrendo ao mesmo tempo. Há imagens de show, com cortes secos, vemos a próxima cena de arquivo e assim vai. Algo muito mais simples de se ver, como Bowie trouxe para sua própria música. E na última parte temos um Bowie apaixonado, tanto pela sua esposa Iman quanto pela sua carreira. E assim voltamos ao caos novamente. Imagens dele com sua esposa, misturando com imagens de sua carreira, com uma sonoridade que lembra seus primeiros anos na indústria musical. No final, voltamos ao clipe “Blackstar”, que dá continuiadade à parte que vimos no início, assim juntando o começo com o fim do filme e de sua carreira, lembrando de seu último álbum.

(Neon/Reprodução)
Sendo o único documentário sobre sua carreira autorizado a ser feito por sua família até o momento, Moonage Daydream é um filme bonito sobre Bowie e tudo que ele fez tanto para pessoas que não o conheciam a fundo quanto para seus fãs. A forma que o documentário foi realizado só funcionou porque o artista era ele. Provavelmente se fosse outro, a mistura de fotos, vídeos dele performando sozinho ou para fãs com falas, música e uma atmosfera sonora para entrar neste universo único não iria combinar.
Mesmo o filme sendo um belo tributo ao artista, ele acaba sendo muito longo pela quantidade de informação que existe na primeira e última parte, sendo um pouco cansativo para os leigos de Bowie. E como o filme é produzido pela HBO Documentary Films, ele foi separado em partes com telas pretas, o que até trouxe uma falsa sensação de término. Facilmente, ele poderia servir como uma série documental dividida em 3 episódios. Claro que o conforto de casa, não traz a experiência imersiva que uma sala de cinema proporciona. Até porque o filme foi pensado para se assistir em um cinema. Ainda assim, apesar de longo, pela experiência imersiva e sua atmosfera sonora, é um filme que vale a pena a ver nos cinemas, mas com esse adendo sobre sua duração.

Nota: 4
