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O Beco do Pesadelo: Del Toro cativa público mesmo com longa duração (Crítica)

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, O Beco do Pesadelo consiste em um remake do clássico noir de 1947

Publicado em 25 de março de 2022, por Críticas, Oscar 2022

Quem já está acostumado com o trabalho do cineasta Guillermo Del Toro sabe que ele gosta de trazer momentos lúdicos e ao mesmo tempo aterrorizantes para as telas do cinema. O Labirinto do Fauno (2007), talvez sua obra-prima, possui todos esses elementos, mostrando que seu estilo está impregnado em boa parte dos projetos que se propõe a realizar. E com O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, no original), o cineasta faz uma adaptação de um clássico de mesmo nome lançado nos anos 1940.

Dessa maneira, a produção se inicia nessa mesma década, ao apresentar Stanton Carlisle (Bradley Cooper) para o centro das atenções. Em um primeiro momento, ele é apenas um homem curioso com as atrações de um circo, cujos principais mecanismos para atrair seu público é usar-se de “aberrações”. Isso inclui o poderoso homem feroz selvagem que é obrigado a matar uma galinha com seus próprios dentes para a alegria dos espectadores. No entanto, Stan, como é chamado pelos outros personagens, acaba se infiltrando nos trabalhos do local e se apaixonando, posteriormente, por Molly Cahill (Rooney Mara).

O passado de Stan também é algo que inunda toda a narrativa, pois sabe-se que ele teve algum conflito com seu pai, alguém por quem nutriu grande desprezo, e deixou sem seu perdão. Mas esses momentos se tornam parte de um mistério maior que Del Toro utiliza em poucos instantes, sobretudo quando deseja investigar mais a fundo a psicologia de seu protagonista. Esse homem tão intenso e repleto de ambição aprende todos os truques ilusionistas de Pete (David Strathairn), que tem Zeena (Toni Collete) como sua companheira.

Mas os anos se passam e há uma quebra da narrativa, contando com elementos ainda mais provocativos na jornada de seu herói principal. A partir desse ponto, Del Toro introduz outros personagens que serão cruciais para o desenrolar da história, como Lilith Ritter (Cate Blanchett), uma renomada psicológa que se envolve diretamente com Stan em um caso extraconjugal. Depois de se desenvolver como um grande ilusionista, Stan agora é bastante conhecido por suas artimanhas e faz shows requintados e glamurosos para uma plateia diferenciada.

E ele quer sempre mais. Ao ser contratado para uma consulta particular, o personagem se envolve com pessoas poderosas, sendo ajudado por Lilith e as gravações de suas sessões de terapia com todos os pacientes da cidade. Sem dúvidas, a chegada de Blanchett ao filme o tornou em algo ainda maior, mostrando como a reconstrução de um filme noir poderia acontecer sem qualquer tipo de problema nos tempos atuais. Isso também é um acerto de O Beco do Pesadelo, principalmente quando se leva em consideração a reconstituição dos cenários e figurinos, bem como maquiagem e cabelo.

No elenco, ainda é possível encontrar Willem Dafoe, Peter MacNeill, Ron Perlman, Mary Steenburgen e Richard Jenkins. Esse último desempenha um papel crucial no roteiro, que se entrelaça diretamente com as desconfianças em cima de Stan, que precisa arquitetar um plano sinistro para convencê-lo a deixar o passado para trás e seguir adiante com a vida — além de também parar de incomodá-lo. Nesse ponto, Del Toro mostra suas garras com uma sequência gore repleta de dinamismo, capaz de deixar os espectadores sem fôlego.

Nesse sentido, apesar de sua construção lenta e ao mesmo tempo suave, o cineasta emprega uma direção concisa em seu objetivo final que é de trazer rupturas essenciais ao desenvolvimento dos seus personagens. Dessa forma, essa questão trata-se de uma grande virada de jogo entre as relações cultivadas por Stan até aquele momento, mostrando como, apesar de tudo, o personagem ainda estava sozinho em sua própria ambição. Portanto, é importante ressaltar a potência de O Beco do Pesadelo, apesar de sua longa duração. Mas, em linhas gerais, não há muito o que se retirar do filme, pois tudo parece fazer muito sentido no final.

Com um estudo de personagem bastante rico em termos narrativos e boas intenções ao abordar essa história tão interessante, Guillermo Del Toro finaliza seu filme com um movimento circular, que poderia até mesmo ser bastante previsível, mas que se torna muito consistente quando se pensa no todo. No Oscar 2022, a produção está indicada a Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Direção de Fotografia e Melhor Figurino.

O Beco do Pesadelo
Nightmare Alley
2022
Guillermo del Toro
Guillermo del Toro, Kim Morgan
Searchlight Pictures

Nota: 3.5

Nota: 3.5

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Escritor por vocação, acadêmico por forçação de barra e apaixonado por televisão desde que Chaves começou a ser exibido no SBT. Graduando em Cinema e Audiovisual que ainda acredita em um encontro inesperado com Hayao Miyazaki.