O Menu valoriza a experiência cinematográfica em sua essência (Crítica)
O Menu traz, por meio da gastronomia, uma experiência cinematográfica que vai mexer com seus sentimentos
Publicado em 14 de dezembro de 2022, por Amanda Bonfim • CríticasSe a experiência de ir à um restaurante nas alturas já é inimaginável, pense agora sobre visitar um restaurante em uma ilha remota, na qual todos os insumos são colhidos e que somente 12 pessoas possuem a oportunidade de experienciar o jantar. Pois bem, essa é a premissa do filme O Menu, cuja experiência é vista a partir de Tyler (Nicholas Hoult) que leva Margot (Anya Taylor-Joy) ao restaurante. Esperando o barco para ir até a ilha, os outros clientes chegam e, dentre eles, há uma crítica gastronômica, um ator em decadência e pessoas muito ricas que gastam dinheiros em coisas luxuosas.
A atmosfera peculiar do filme começa a se apresentar quando o barco chega na ilha e, para continuar, tem uma lista das pessoas irão ter a experiência de jantar em Hawthorne, como o restaurante é chamado. A maître, Elsa (Houng Chau), é uma pessoa muito excêntrica e isso fica cada vez mais evidente ao longo da tour pela ilha até chegar no restaurante de fato. À a atmosfera excêntrica, na parada para ver onde as carnes são defumadas, se junta um clima sombrio para o filme, porém, mesmo que as pessoas quisessem ir embora, não podiam, pois o barco já tinha partido.
Então para quem está estranhando a forma que está ocorrendo as coisas, é mais fácil seguir para achar uma brecha para ir embora. É assim que Margot age em relação a esta experiência. Não sendo uma fã da cozinha molecular, Margot possui severas críticas aos pratos que estão sendo servidos, não comendo nada ou deixando sempre alguma sobra. Assim, os pratos são apresentados ao público como se fosse um reality culinário. O prato está no centro, com fundo preto, há o nome e descrição do que está na comida. Essa atitude de Margot é vista como desdém pelo chefe Slowik (Ralph Fiennes) que é muito controlador. A tensão, que já existe desde a chegada a ilha, aumenta, pois esse ar controlador do chefe transparece pela forma como seus empregados agem, quase robotizados para não demostrar suas emoções como Margot faz.
O receio que existia passa a ser um temor a partir do momento em que Slowik descreve o prato que chama de Lembrança, passa a ser um pavor. A memória que ele evoca do chefe é um momento em que seu pai alcoólico e abusivo quase mata sua mãe, para salvá-la, ele dá uma tesourada na coxa de seu pai. Além de todo estranhamento que a memória escolhida traz, no momento em que ele fala da tesourada, o pedaço de carne que virá nos pratos, também levam tesouradas. A partir deste momento a tensão sobe a cada minuto sem se saber o que esperar, porque, além de controlador, Slowik é uma pessoa surpreendente do que ele pode fazer.
Como o filme preza pela experiência, também farei isto. A surpresa do não saber o que irá acontecer é que faz deste filme genial. Ele evoca emoções tão cruas, pois não teve filmes que trouxeram essas emoções assim, a partir de uma experiência gastronômica. Além de possuir um roteiro original, a atuação de Ralph Fiennes, Anya Taylor-Joy e Houng Chau fazem o longa-metragem ainda mais interessante, pois você enquanto espectador fica curioso para saber o que vai sair daquilo, mas, ao mesmo tempo, também sente certa repugnância dessa sua própria curiosidade.
A partir disso, o filme brinca com nossas papilas gustativas cerebrais — se é que elas existem. Não há grandes experimentações impostas por meio da direção de fotografia ou arte, porém há momentos sublimes que surgem em vista da atuação e do controle da direção em todos esses atores em cena. É um filme que merece ser visto, mas em uma experiência aumentada que a tela do cinema traz. Não é filme tão fácil de se ver, mas como já disse, é um filme que merece ser assistido pela sua experiência completa.

Nota: 5
