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O Telefone Preto faz terror maduro e cativa pela qualidade (Crítica)

Com Ethan Hawke no papel principal, o filme de terror promete e entrega algo grandioso para o público

Publicado em 24 de julho de 2022, por Críticas

Uma premissa relativamente simples: Finney, um garoto medroso e sem grandes aspirações, é raptado por um assassino misterioso que tem aterrorizado a população de uma cidade pequena. Quando se vê preso em um cativeiro com um telefone preto ao seu alcance, o menino passa a receber ligações e descobre um contato com outras vítimas desse sequestrador.

À partir dessa deixa, o desenrolar de O Telefone Preto (2022) prende o espectador com sacadas simples, jumpscares pontuais e uma impecável fotografia, além do roteiro escrito de forma primorosa por C. Robert Cargill e Scott Derrickson, este último responsável por O Exorcismo de Emily Rose (2005) e A Entidade (2012)  ou seja, ele sabe como trabalhar no campo do horror.

Sendo aguardado ansiosamente pelos fãs do gênero, O Telefone Preto chegou aos cinemas do Brasil na última quinta-feira (21), permeado por críticas positivas de forma unânime, além de um certo mistério sobre o que esperar da adaptação do conto de Joe Hill, filho de Stephen King. Anunciado no fim de 2020, mas com produção e filmagens iniciadas apenas no primeiro semestre do último ano, o longa, estrelado por Ethan Hawke, é uma das melhores surpresas para o terror nos últimos tempos.

Como grande fã do gênero e dos produtores do filme, obviamente coloquei a régua da expectativa lá em cima e posso dizer que não me decepcionei. Talvez, se fosse necessário tecer uma crítica negativa, seria a falta de exploração na história do vilão. Ele é ótimo, bem conduzido na direção, com expressões corporais e faladas muito bem executadas, mas fica o gostinho de quero mais. Quero saber mais sobre ele, quem ele é, o que o levou a ser sádico, enfim, questões que talvez nem precisem de respostas, mas a ânsia faz com que eu as deseje.

(Universal Pictures/Reprodução)

Menos sustos, mais maturidade

A produção aqui está claramente menos interessada no medo pelo medo. Não há muita intenção em construir uma atmosfera de pavor onde os jumpscares são os grandes protagonistas, embora eles aconteçam (e sempre de forma muito bem alocada). Na verdade, O Telefone Preto cativa, justamente, pela maturidade e pela construção criativa.

Quando falo de construção criativa, me refiro principalmente à ótima utilização da iluminação, da cenografia e dos figurinos para criar o clima de tensão. O personagem de Hawke, por exemplo, aparece em cena com algumas máscaras diferentes durante todo o filme, que variam de acordo com o humor dessa figura apavorante. Inclusive, esse é um princípio teatral muito respeitado e de difícil execução. Trabalhar com máscaras é muito mais difícil do que parece, viu?

Voltando aos pontos positivos, o filme traz diversos acertos, que começam com o espectro de desespero dos personagens e se desenvolvem com a atuação brilhante de todos os envolvidos. Uma salva de palmas para a excelente Madalene McGraw, que interpreta a irmã mais nova do protagonista. Gwen, sua personagem, tem uma das cenas mais fortes do longa, e consegue caminhar tranquilamente entre o medo e o alívio cômico, sendo também primordial para os ganchos nas cenas do sequestro do irmão.

Destaque, obviamente, para Ethan Hawke que, na minha humilde opinião, entregou a melhor performance de sua carreira arte nesta produção. O protagonista, Mason Thames, também é uma promessa e fez bonito em seu primeiro papel no cinema. A seleção do elenco é uma das estrelas da pré-produção, sem dúvidas.

(Universal Pictures/Reprodução)

Explorando uma história que envolve dores pessoais, amadurecimento e uma figura sádica e sem compaixão, O Telefone Preto ganha fácil um lugar no coração dos fãs do gênero. Essa crítica não explora a narrativa de forma dissecada, justamente para não trazer spoilers e para deixar você, meu caro leitor, com a mesma expressão e reação que eu tive ao assistir. Porém, uma dica: atente-se à atuação e entrega das cenas finais e, principalmente, ao desfecho do vilão.

Nesse sentido, o filme garante, com qualidade, seu lugar ao lado de clássicos contemporâneos do gênero como O Homem Invisível (2020), Maligno (2021), Hereditário (2018), Nós (2019), Casamento Sangrento (2019) e It (2017), algo cada vez mais difícil no cinema de horror, e que deve ser valorizado ao extremo por todos nós, admiradores do gênero. Um filme onde os piores medos são os reais!

O Telefone Preto
The Black Phone
2022
Scott Derrickson
Scott Derrickson, C. Robert Cargill
Universal Pictures

Nota: 4

Nota: 4

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Apaixonado por cultura pop, literatura, entretenimento e baboseiras úteis. Se Fernanda Young e Katy Perry tivessem tido um filho, seria eu.