Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é o melhor filme da Fase 4 da Marvel até agora (Crítica)
Apesar dos clichês e ritmo vacilante, Marvel entrega um lindo e comovente drama familiar com cenas de ações incríveis
Publicado em 6 de março de 2022, por Lucas Ricci • Críticas, Oscar 2022
A Marvel em suas mais recentes produções tem convidado diretores com as mais diversas origens e experiências para pilotarem seus longas. Essa arriscada decisão gera resultados às vezes não muito interessantes, o que não é o caso de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. Nas mãos de Destin Daniel Cretton, essa história de origem se consagra como um dos melhores filmes do MCU e, também, um manual do que a Marvel deve fazer daqui para frente.
Shang-chi (Simu Liu) é um jovem-adulto que mora em São Francisco, Califórnia e trabalha como manobrista em um hotel até ser atacado por homens misteriosos em um ônibus junto de sua amiga Katy (Awkwafina). A partir desse momento, Shang-chi é obrigado a enfrentar seu passado, o que envolve revisitar uma tragédia familiar, um treinamento intenso e doloroso de artes marciais comandado por seu pai Wenwu (Tony Leung) e o abandono de sua irmã Xu Xialing (Meng’er Zhang).
Diferentemente da esmagadora maioria dos filmes da Marvel, o maior antagonista da história não é um ser extraterrestre ameaçando o universo, mas sim um pai de família atormentado pelo luto que se segura a uma esperança irracional. Interpretado de forma excelente por Tony Leung, Wenwu se mostra um personagem complexo e um dos vilões — se podemos chamá-lo disso — mais interessantes de todo MCU.
Por mais que tenha um vilão interessante, o roteiro não surpreende muito e nos apresenta o herói de forma comum ao gênero, sem fugir muito do que já foi feito em outros filmes da Marvel. No entanto, o filme não se prende a apenas introduzir um herói e escolhe focar nas tensões familiares e relações interpessoais, o que ajuda a salvar a história da mediocridade, levando-a além.
Marvel/Reprodução
Tem-se aqui, por cima da fórmula Marvel, um comovente drama familiar sobre luto, que discute questões como origem e destino. O filme explora de forma sensível o efeito de uma fatalidade em diferentes indivíduos de uma mesma família, resultando em personagens memoráveis e uma trama afetiva que emociona.
Para esse feito ser bem-sucedido é necessária uma assertiva escolha de elenco, que aqui é feita de forma triunfal. Simu Liu e Awkwafina tem uma química magnífica e carisma de sobra. Destaque para Awkwafina, que brilha apesar do roteiro comum e de algumas piadas duvidosas, fazendo de sua personagem um ar fresco em meio ao todo MCU. Meng’er Zhang e Tony Leung também apresentam atuações precisas e cheias de camadas, pedidas por seus personagens.
Outro triunfo do filme são suas cenas de ação. Simu Liu se entregou ao papel e passou por um treinamento intenso de artes marciais durante a produção do filme. Todo o trabalho árduo do ator, combinado com uma ótima coreografia e uma excelente direção fazem com que Shang-chi entregue as melhores cenas de ação da Marvel em um bom tempo. Cabe destacar a sequência do encontro entre Wenwu e Jiang Li (Fala Chen) que conta com uma primorosa luta que contém, em simultâneo, a leveza de uma dança e a força digna de um combate.
Marvel/Reprodução
Contudo, o filme sofre por se estender mais do que deveria, levando a um segundo ato longo e arrastado, que nem as lindas cenas de ação e a beleza exuberante da vila de Ta Lo conseguem salvar. O longa se recupera no terceiro ato por um momento, até que a fórmula Marvel entra em ação novamente e temos uma briga entre duas criaturas mágicas gigantes que destoa do que o filme se propôs a fazer até o momento, mas não o prejudica.
Mesmo com um roteiro mediano e um ritmo que deixa um pouco a desejar, “Shang-chi e a lenda dos dez anéis” é um ótimo e emocionante filme sobre questões familiares com cenas de ação empolgantes e extraordinárias. Os visuais encantam com um uso de CGI preciso e admirável. O longa ainda introduz personagens interessantes e atores notáveis que provam que, se depender deles, a quarta fase da Marvel está em ótimas mãos.
Nota: 4
