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The Worst Person In The World e o anseio de ser (Crítica)

Joachim Trier indaga e responde questões profundas da vida de maneira espontânea em seu novo longa

Publicado em 10 de março de 2022, por Críticas, Oscar 2022

Indicado ao Oscar por melhor filme internacional e melhor roteiro original, The Worst Person in The World é um filme delicado, sutil e bruto sobre uma mulher aos 30 anos tentando se encontrar.

Apesar de parecer clichê e até um pouco óbvio essa breve síntese, o filme foge do comum e surpreende pela peculiar e fiel retratação da vida como ela é. Dirigido por Joachim Trier, o longa encaixa-se numa trilogia que sempre busca falar sobre o cotidiano da vida. Ao lado de: Reprise (2006) e Oslo, 31 August (2011), The Worst Person In The World (2021) teve uma grande repercussão e reconhecimento da grandiosidade que o diretor atingiu.

A produção consiste em uma comédia dramática que representa toda uma geração – na qual eu me incluo – onde existe uma grande angústia por não se poder realizar todas as coisas ao mesmo tempo, de não podermos ser tudo o que queremos em pequenas frações de tempo e da incerteza sobre quem somos.

O filme é dividido em 12 capítulos, contando ainda com um epilogo e um prólogo, todos com títulos intrigantes e que agregam à trama do filme. Esses capítulos, permitem que nos acompanhemos aproximadamente 4 anos da vida da protagonista Julie (interpretada por Renate Reinsve). Ao longo deles, toda essa dificuldade de visualizar-se o que ela tem, é retratado com detalhes que acertam e tocam profundamente os sentimentos do telespectador.

Julie é uma personagem real, que visualizamos no inicio do filme ainda procurando um curso superior no qual ela possa se encaixar. Mas que talvez, uma coisa só não seja o suficiente. Foi de médica à fotografa, até o momento em que a passamos a acompanhá-la como assistente numa livraria.

No epilogo e primeiro capítulo (chamado de: “Os outros”) vemos Julie deixando seu namoro de faculdade para embarcarmos numa relação um pouco mais real e complicada com Aksel (Anders Danielsen Lie). Aksel é um homem ao redor de seus 40 anos, com uma carreira já estabilizada – cartunista, com uma diferença de idade maior que 10 anos com Julie. Diferença essa que acarreta diferentes pensamentos e opostos momentos da vida. Procurando evitar possíveis dores, em seu primeiro encontro, o porvir companheiro busca deixar claro que talvez aquela relação não tenha futuro e não seja a certa naquele instante. Mas, a vida é imprevisível e talvez ele estivesse errado, já que a protagonista se vê apaixonada por ele.

NEON/Reprodução.

Neste início, acompanhamos a trama do casal de forma mais lenta que no epilogo – onde enxergávamos apenas a caótica e acelerada jovem adulta. Problemas e indagações começam a surgir a respeito de um futuro filho quando os dois estão num encontro de amigos de Aksel, na qual todos já possuem sua família formada. Aksel ao seus “quarentão” quer ter filhos e formar uma família, o que gera um conflito com sua parceira que ainda não se vê pronta e não enxerga sua maternidade dentro de si. Essa intriga acompanha toda a relação dos dois e é ponto chave na história do filme.

Capitulo II: Infidelidade; iniciando de forma abrupta desde seu nome, chegamos ao momento em que a história passa a complicar-se mais ainda. Deixando uma festa de lançamento de um dos livros de Aksel, Julie vaga pelas ruas até encontrar uma festa e decidir entrar de penetra. Na festa, a protagonista pretende ser uma pessoa que ela não é. Uma médica, com atitudes fortes e provocativas, que a levam a conhecer Eivind (vivido por Herbert Nordrum). Semelhante a protagonista, Eivind não se via totalmente feliz em seu relacionamento. Embarcando numa noite divertida e com desafios de atingir o limite de o que realmente seria traição e o que não seria, os dois criam laços e conexões únicas e reais, que permeiam o pensamento dos dois mesmo após a festa e ajudam a construir a personalidade da protagonista.

NEON/Reprodução.

A personagem, criada de um modo complexo, foge do comum que vemos em filmes em que tudo é perfeito – e por isso o filme tem esse título (Originalmente: Verdens verste menneske, traduzido como: A Pior Pessoa do Mundo). Durante toda o longa-metragem, Julie toma decisões que podem não ser consideradas as melhores. Mas é o necessário para a personagem e talvez fique até difícil para o telespectador julgar ela, já que toda direção e montagem do filme te conduz para que enxergamos a luta da interprete.

Nos aspectos técnicos do filme, tudo é feito de maneira minuciosa e inteligente. Desde a produção, trilha sonora e principalmente na montagem do longa metragem. O trabalho de câmera também aqui é essencial para sentirmos a proximidade, o caos da personagem e sua evolução ao longo do filme. Vale a pena chamar a atenção de momentos cinematográficos como: a cena em que o tempo para e Julie pode imaginar o que aconteceria se ela fugisse daquele relacionamento. Ao contrario de alguns diretores que provavelmente optariam pelo CGI, Trier é ousado e buscou representar algo mais humano e sentimental, pedindo apenas para que eles fingissem estar parado.

Com um show de atuação, Renate Reinsve em sua personagem, consegue simbolizar toda essa crise dos 27 aos 40 anos que chegaremos ou estamos. A adversidade de tomar decisões erradas, a confusão em saber quem realmente somos e a necessidade de se sentir útil. Ao fim do filme, há um grande conforto em visualizar que a personagem sobrevive a essas angustias e dá início à um próximo prólogo – espelhando a vida como ela é. Cheia de ciclos, altos e baixos, conflitos e resoluções.

A Pior Pessoa do Mundo
The Worst Person in the World
2021
Joachim Trier
Joachim Trier, Eskil Vogt
Diamond Films

Nota: 5

Nota: 5

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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.