Trem-Bala cumpre o que promete, entregando ação absurda e deliciosa (Crítica)
Direção e roteiro fazem juz ao elenco estrelado, que conta com nomes como Brad Pitt, Sandra Bullock, Aaron Taylor-Johnson e Logan Lerman
Publicado em 3 de agosto de 2022, por Victor Hugo de Paula • CríticasNão posso negar que entrei com pé atrás na cabine de imprensa para assistir Trem-Bala — novo filme de David Leitch com um elenco pra lá de estrelado contando com nomes como Brad Pitt, Sandra Bullock, Aaron Taylor-Johnson, Logan Lerman, Joey King, Zazie Beetz e ainda com direito à participações especiais — e confesso que foi por uma pontinha de preconceito.
A simples ideia de reunir um elenco desse porte para mais um filme de ação genérico já me fez entrar na sala com as expectativas bem reduzidas. Acontece que aos poucos minhas guardas foram abaixando e fui capaz de aproveitar toda a diversão que a experiência me proporcionou. O roteiro de Zak Olkewicz, baseado no livro best-seller do autor japonês Kôtarô Isaka publicado em 2010, tem grande parte desse mérito de me conquistar como espectador.
A sequência de situações e resoluções inusitadas e às vezes completamente absurdas resulta em uma construção totalmente caótica, e por que não impressionante, e muito disso se deve a qualidade do material de base. A sinopse é muito simples: cinco mercenários de origens e até mesmo de nacionalidades distintas se encontram nos vagões de um trem-bala que corta o Japão de Tóquio até Quioto durante a madrugada, de forma que suas missões e caminhos se encontram e uma única história.
O primeiro a nos ser apresentado é o mercenário de codinome Joaninha (interpretado por Brad Pitt) e que se demonstra cansado do peso de ser extremamente azarado em sua profissão e atrair morte mesmo quando não quer — e ele nem gosta de usar armas. Esse “mercenário nutella“, que tem sempre a ajuda da voz de Maria (Sandra Bullock) no ponto em seu ouvido, tem uma missão bem simples: resgatar uma maleta que, obviamente, está cheia de dinheiro e se encontra dentro do trem-bala em questão.

(Sony Pictures/Reprodução)
Mas a maleta tem dono, que, no caso, é o personagem sem nome interpretado por Logan Lerman, que está sendo resgatado pelos “gêmeos” Limão (Brian Tyree Henry) e Tangerina (Aaron Taylor-Johnson) para serem entregues à Morte Branca, grande chefão do crime internacional interpretado por Michael Shannon. Há ainda duas histórias que parecem um pouco mais distantes desse núcleo principal no começo, mas que logo são integrados à história principal. A primeira delas é que foi apresentada logo no início com os personagens de Andrew Koji e Hiroyuki Sanada e a criança que foi jogada do telhado — que vai se encontrar com Príncipe, a personagem de Joey King, dentro do trem —; e a segunda sendo a do Lobo, chefão do crime no México e que é interpretado por Bad Bunny.
Só pela sinopse confusa e pelos codinomes completamente estrambólicos dos personagens principais já dá para saber que se trata de um filme insano, tanto para o bem quanto para o mal. O roteiro dá conta do desafio de entrelaçar uma quantidade absurda de subtramas deixando pouquíssimas pontas soltas. E em compensação, acaba apresentando um ritmo instável e que tropeça entre os momentos de exposição e desenvolvimento da ação.
A direção de David Leitch por outro lado erra muito menos e imprime com facilidade sua marca ao abraçar e escancarar todo o absurdo do enredo construindo um filme que não se leva a sério, no qual os momentos de humor surgem com naturalidade e timing cômico afiado. Trata-se de uma proeza já realizada pelo diretor, que também foi responsável por Deadpool 2, e que repete aqui usando sem medo todas as ferramentas tarantinescas que dispõe — desde dos famosos banhos de sangue até a multilações brutais.

(Sony Pictures/Reprodução)
Em termos visuais, tanto o trabalho de caracterização e cenários como a equipe de efeitos visuais e práticos foram capazes de entregar um verdadeiro espetáculo de estímulos visuais que combina perfeitamente com a atmosfera caótica que o filme propõe, o que torna as interrupções de letreiros gigantescos e sequências inteiras que parecem ter sido retiradas de algum anime shounen — seja pelo drama das coreografias ou pelas cenas bem brega acompanhadas pela trilha sonora composta por versões japonesas de músicas bregas facilmente reconhecidas pelo público — uma parte integrante da estética megalomaníaca, sem prejudicar a lógica interna da proposta do filme. Além disso, fica evidente que não faltou investimento para concretizar todo esse caos visual. Há que se fazer também um comentário ao elenco que claramente está se divertindo horrores em trabalhar nesse filme, o que fica especialmente evidente na atuação exagerada e carismática de Brad Pitt.
Por fim, apesar do terceiro ato mais arrastado que os demais, Trem-Bala termina com reviravoltas e resoluções surpreendentes que amarram muito bem as diversas histórias apresentadas. Trata-se de um blockbuster por excelência, entregando o que prometeu sem subestimar a inteligência do espectador e divertindo tendo a plena consciência da loucura e da insanidade apresenta, ainda deixando espaço para uma mensagem positiva sobre amizade, sorte e azar. Posso dizer sem vergonha que me surpreendi, e me diverti sem medo de ser feliz. E vale lembrar que tem cena pós-créditos!
Não perca, hein! Trem-Bala estreia nessa quinta-feira, dia 04 de agosto exclusivamente nos cinemas.

Nota: 3.5
