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I Wanna Dance With Somebody traz os melhores momentos de Whitney Houston (Crítica)

Naomi Ackie brilha na pele de Whitney Houston sem construir uma caricatura em torno da figura da cantora

Publicado em 13 de janeiro de 2023, por Críticas

Anualmente, o público consumidor de cinema recebe inúmeras produções para assistir. Entre elas, há cinebiografias que tratam de contar a trajetória de alguma figura bastante especial ou importante, cujos feitos memoráveis não podem passar despercebidos de nenhuma maneira. Nesse sentido, após quase onze anos de sua morte, ocorrida em fevereiro de 2012, aqui temos a primeira cinebiografia de Whitney Houston, uma cantora de voz única e potente, responsável por quebrar recordes quase impossíveis e com uma vida bastante conturbada devido a inúmeros problemas.

Dentro desse contexto, I Wanna Dance With Somebody surge como um trabalho que visa homenagear a artista, visto que aspectos como direção e roteiro são bastante convencionais e tratam apenas de pincelar alguns dos principais momentos de sua carreira. Diferente de outros cineastas que optaram por fazer recortes específicos da vida de determinadas figuras — como é o caso de Judy: Muito Além do Arco-Íris (2019), de Rupert Goold, ou Steve Jobs (2015), de Danny Boyle —, neste longa, a diretora Kasi Lemmons parece estar interessada em falar sobre absolutamente tudo o que é importante.

Assim, a construção estilística e narrativa da obra cria uma experiência quase rasa e sem profundidade para os espectadores comuns, cativando um pouco mais os fãs de Houston por estarem diante da recriação de momentos de uma artista querida. Desse modo, é inevitável não pensar que apenas aqueles que já conheciam o trabalho da cantora irão apreciar o filme em sua totalidade, ignorando todos os seus problemas eventuais e detalhes que se tornam mínimos diante da grandiosidade do nome retratado.

Apesar dos pesares, com uma narrativa bastante clássica e desenvolvida sob causa e efeito, a trama é bastante simples e segue linearmente com construções sutis em torno de seus recortes. Cobrindo cerca de 30 anos de história, em determinadas passagens, é possível contar com o apoio de letreiros indicativos, que situam os espectadores em tempo e espaço. No entanto, esse recurso enfadonho poderia ser deixado de lado em diversas vezes, bem como utilizado em outras tantas. Fica a sensação de que os produtores queriam apenas endossar certos acontecimentos em detrimentos de outros.

As escolhas de direção também soam controversas em mais passagens, embora a decupagem clássica aliada a uma montagem também convencional consiga dar conta do que o enredo pede — vale dizer que há muitas montagens narrativas em diversos momentos embaladas pelas canções de Houston, algo que pode cansar um espectador mais exigente. O filme se inicia com Whitney (interpretada por Naomi Ackie) cantando em corais da igreja. Mesmo sabendo que sua mãe consistia em uma figura importante, ela não tinha muitas ambições e queria apenas cantar. Em um dos primeiros diálogos com Cissy Houston (Tamara Tunie), enquanto ensaiavam uma canção difícil, as intenções ficam bastante evidentes.

A partir disso, outros personagens são introduzidos, como Robyn Crawford (Nafessa Williams), a melhor amiga da cantora, John Houston (Clarke Peters), o pai e empresário de Whitney, e ainda Clive Davis (Stanley Tucci), responsável por descobrir o talento da jovem menina e que se torna um dos coadjuvantes mais importantes e interessantes da produção. Por conta da escolha em passear pelos melhores momentos dessa gradiosa carreira, que se inicia em 1982 e termina em 2012, não há espaço para o desenvolvimento ou profundidade de certos personagens. Até mesmo a relação polêmica e conturbada com Bobby Brown (Ashton Sanders), marido de Whitney, se torna uma presença vazia em meio a outros conflitos centrais mais importantes.

Porém, destacam-se dois pontos fundamentais nesse projeto: a performance de Naomi Ackie e a caracterização de todos os momentos presentes no roteiro. Em linhas gerais, a atuação de Ackie é bastante potente e não soa caricata em nenhum momento — algo que poderia ser perigoso e, como já assistimos em outras ocasiões, acontece com frequência nesse tipo de filme. Contudo, a atriz é contida e respeitosa com quem retrata, bem como não cria reações exageradas sem necessidade. Apesar disso, quando determinadas aparições públicas filmadas de Whitney ganham destaque, esses resquícios quase teatrais são aproveitados. Essa questão fica evidente, sobretudo, na ambientação dos videoclipes da cantora e também em algumas de suas performances ao vivo.

No quesito ambientação e caracterização, há de se tirar o chapéu para a equipe de arte, comandada por Gerald Sullivan e David Offner. Os espectadores enfim conseguem mergulhar, ao longo dos anos, em cenários, figurinos, cabelos e maquiagens primorosos. Ao assistir os vídeos reais de Whitney Houston que são retratados no filme, fica a sensação de que o dever de casa foi cumprido com êxito — aliás, essa se tornou uma das minhas partes favoritas do pós-filme, tendo em vista que não conhecia todos esses conteúdos previamente.

O ponto alto dessas performances, para mim, está na criatividade de Lemmons em lidar com presenças não presentes, como a de Oprah Winfrey. O uso de vídeos e pontos de vistas de personagens inseridos na plateia e nos bastidores foram fundamentais para que as sequências fossem construídas com louvor. Afinal, você realmente compra que é aquilo mesmo que está acontecendo naquele instante. E apesar de alguns furos na colagem da voz, que evidenciam as canções de Whitney com sua intérprete, além da onipresença dos pais da cantora em determinadas cenas e a correria na exposição de fatos, nada disso atrapalha a experiência dos fãs.

O desfecho caminha para uma grande homenagem à Whitney Houston, mesmo trazendo à tona algumas feridas grandiosas para aqueles que a conheceram e a amaram.

I Wanna Dance With Somebody - A História de Whitney Houston
I Wanna Dance With Somebody
2023
Kasi Lemmons
Anthony McCarten
Sony Pictures

Nota: 3

Nota: 3

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Escritor por vocação, acadêmico por forçação de barra e apaixonado por televisão desde que Chaves começou a ser exibido no SBT. Graduando em Cinema e Audiovisual que ainda acredita em um encontro inesperado com Hayao Miyazaki.