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Os Fabelmans faz das memórias de Steven Spielberg uma grande terapia (Crítica)

Desenvolvendo a trajetória de um jovem cineasta em meio ao caos familiar, Os Fabelmans aborda os sonhos de Sam Fabelman, baseado nas memórias de Steven Spielberg

Publicado em 16 de janeiro de 2023, por Críticas, Oscar 2023

O ser humano é nostálgico e vivemos esta nostalgia a partir de nossas memórias. Porém, nem sempre, elas são o retrato de algo que realmente aconteceu, principalmente quando trata-se de uma memória muito antiga. Já fazer filmes sobre memórias, é uma tentativa do seu eu atual entender melhor a situação a qual estava e tentar combinar os subtextos que esses acontecimentos tiveram para entender as partes de uma outra forma. Em linhas gerais, isso é o que Steven Spielberg desenvolve em Os Fabelmans.

O filme conta a história de Sammy Fabelman (interpretado por Gabriel LaBelle) que fica viciado com o cinema desde que seus pais o levam para ver The Greatest Show on Earth (1952) quando criança. A partir desse ponto, ele começa a fazer seus próprios filmes caseiros. Porém, apesar de serem caseiros, existe uma história, atuações, figurino, efeitos práticos, tudo pensado para que o filme fique com cara de filme caro — ou pelo menos pareça algo elaborado. Assim, ele passa sua infância e adolescência trabalhando nesses projetos com sua família e amigos. Seus pais o incentivam a realizar esses filminhos, porém, com motivações diferentes. Enquanto sua mãe (vivida por Michelle Williams) o incentiva de uma forma sobre como a arte pode existir em sua vida, seu pai (Paul Dano) é mais contido, visto que entende que seu filho esteja passando por hobby momentâneo.

Devido a isso, percebe-se o porquê a figura da mãe possuir mais importância dentro do filme, justamente por ser ela quem havia desistido de seu sonho e dom de ser uma pianista de sucesso. Desse modo, Mitzi é quem incentiva Sammy a fazer sua arte, enquanto Burt, que nas profissões de hoje em dia atuaria como um engenheiro de computação, quer que o filho tenha uma carreira profissional mais estável e concreta. Pois, se ainda hoje seguir uma carreira artística é considerado algo ruim, nos anos 1950 deveria ser mais difícil ainda. Porém, Spielberg, não mostra ressentimentos quanto a isso, pois seu pai, em um dado momento, aceita. Pensando, é claro, que esses fatos sejam baseados na sua história, mesmo que levemente. E por ter este pai muito pragmático, lógico e racional, Sammy por ser mais do caótico, subjetivo e emocional entende a solidão que sua mãe possui.

Mesmo muitas vezes o filme parecer um pouco uma propaganda de margarina, que todos são absurdamente felizes, dá para entender o porquê que o cineasta não quis se alongar ou se aprofundar em alguns aspectos emocionais, como a possível depressão que a mãe teria por deixar de seguir sua carreira para atuar como uma singela dona de casa. Spielberg quis trazer as partes boas de suas memórias para refletir sobre elas em uma tela de cinema. Além de seu relato familiar, ele também trouxe um pouco sobre como foi ser um adolescente judeu em uma cidade em que não tinham muitos judeus por perto. E tudo isso com um humor muito impecável e elegante mesmo na parte onde havia um colega antissemita. O cineasta demonstrou ser muito tranquilo, mesmo que enérgico na resolução de seus conflitos.

Spielberg, em seu filme, mostra como é bom ser jovem e descobrir o que ama desde cedo para querer seguir fazendo aquilo pelo resto da sua vida, apesar dos pesares. Nesse sentido, Os Fabelmans mostra como uma família grande com cada indivíduo de personalidades distintas e fortes podem conviver juntos de forma caótica, mas, de certa maneira, funcionam unidos. Spielberg consegue, de uma forma terapêutica e bonita, trazer suas memórias de sua infância e adolescência em um filme que fez para si e para sua família.

Os Fabelmans
The Fabelmans
2023
Steven Spielberg
Steven Spielberg, Tony Kushner
Universal Pictures

Nota: 4

Nota: 4

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Amo música, cinema, artes visuais e cores. Gosto de descansar vendo filmes e, as vezes, isso acaba cansando também. Sou graduada de Cinema e Audiovisual.