Shazam! Fúria dos Deuses: a despretensão em meio ao mundo de ambições da DC (Crítica)
DC aposta na repetição da fórmula nessa sequência de Shazam! mas se perde em meio aos próprios objetivos
Publicado em 17 de março de 2023, por Victor Hugo de Paula • CríticasMinhas expectativas ao assistir o primeiro Shazam!, lançado em 2019 com a direção de David F. Sandberg, estavam muito próximas do nível zero. Isso porque, já naquela época, a sensação de que a inventividade dos filmes baseados em quadrinhos não duraria por muito tempo, e que cada experiência começava a se parecer cada vez mais com a anterior. Também por uma certa antipatia pessoal em relação ao que os filmes do lado DC/Warner da força poderiam me oferecer. Quão grande não foi a surpresa ao perceber o quanto eu estava errado, e que diante dos meus olhos eu tinha exatamente o que eu menos esperava: Um filme inventivo, divertido, sem se levar a sério ao mesmo tempo que explorava um gênero ligeiramente diferente do que já tinha sido feito.
Para os desavisados, Shazam é o nome de um super herói do mundo DC que recebe seus poderes dos deuses antigos das mãos do Mago. O que torna esse plot tão simples em algo excepcional é o fato de que Billy Batson, o garoto escolhido como campeão desse mago, é apenas um adolescente de 14 anos que com o seu nível extremante limitado de maturidade, terá que lidar com as responsabilidades e é claro, com os vilões, que esse tipo de poder costuma atrair. O filme de 2019 acerta, dentre outras coisas, ao escolher os atores Asher Angel e Zachary Levi para interpretar as versões infantil e adulta do super herói, respectivamente.

(Warner Bros. Pictures/Reprodução)
Shazam! Fúria dos Deuses por sua vez, tem o desafio de repetir o sucesso do filme anterior, além de expandir a escala da ação e conectar o filme com o universo cinematográfico DC. Tudo isso é claro, sem perder o tom despretensioso que tornou o primeiro filme tão bem sucedido, e é aqui que a proposta de Shazam 2 começa a apresentar os seus primeiros problemas. Afinal, em meio a tantas mudanças na direção que o DCverso vem tomando, qual o papel que Shazam tem para cumprir?
Antes de qualquer coisa, vale apresentar o que está em jogo na continuação: No final do primeiro filme, Billy Batson divide o seu poder com seus cinco irmãos adotivos, e destrói o cajado utilizado pelo Mago — interpretado por Djimon Hounsou — para dar-lhe seus poderes. O que ele não sabia, é que esse cajado foi utilizado eras antes para armazenar o poder dos deuses antigos e para impedir que eles invadissem o subjugassem o mundo dos humanos, ou seja, ao destruir o cajado ele acabou por libertar esses seres místicos. A continuação então começa justamente com a apresentação de duas representantes desses seres divinos: as deusas Kalypso, interpretada por Lucy Liu, e Hespera interpretada por Helen Mirren (!!!).
Dizer que Shazam 2 consegue repetir diversos dos méritos do primeiro filme não é exagero, já que grande parte da equipe — incluindo o diretor e dois dos três roteiristas do anterior — são os mesmos, e parecem não ver problema em repetir as mesmas fórmulas para envolver o público. O que parece, porém, é que ao escreverem os diálogos, os roteiristas claramente pensaram que tirariam gargalhadas dos espectadores, quando no máximo conseguem tirar algumas risadinhas. Isso não ocorre apenas com os diálogos cheios de clichês, mas absolutamente tudo parece extremamente genérico: a trilha sonora, a montagem, as coreografias e até mesmo parte das atuações, especialmente da parte adulta do elenco.

(Warner Bros. Pictures/Reprodução)
Enquanto temos no Billy Batson de Asher Angel o incremento de gravidade na atuação que o personagem pede, uma vez que ele já não é mais um adolescente de 14 anos e sim um quase adulto de 18 e que mora em um lar adotivo. Ora, se a versão infantil do personagem parece entender exatamente a jornada que está representando, o mesmo não pode ser dito de Zachary Levi, que parece incapaz de sair da atuação no modo criança de 13 anos — o que funcionava no primeiro filme, aqui não mais. Outro exemplo, agora do elenco jovem, é o de Jack Dylan Grazer que interpreta o adorável melhor amigo de Billy, Freddy, mas que aqui atua de forma exagerada e as vezes até mesmo caricata.
Não digo que só há defeitos no filme, já que de forma geral, ele é muito competente em seu objetivo geral: ele diverte sem parecer pretensioso e ainda é capaz de se conectar com o mundo DC, utilizando-se inclusive de participações especiais e recompensas de fanservice típicas do gênero. O tom leve impresso pelo diretor mantém-se bem sucedido, e é possível assistir Shazam! Fúria dos Deuses sem precisar pensar muito sobre como a história impactará nos rumos futuros do universo cinematográfico que está inserido (ouviu isso Marvel?). O problema que Shazam 2 parece enfrentar me parece ser justamente esse: para que serve contribuir para um projeto que parece tão próximo de ser resetado? Isso só os próximos anos poderão responder.

Nota: 2
