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The Quiet Girl é a história comovente de uma criança doce e solitária (Crítica)

The Quiet Girl concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro pela Irlanda e tem uma história muito comovente adaptada de um conto irlandês

Publicado em 8 de março de 2023, por Críticas, Oscar 2023

É um pouco surpreendente a Irlanda concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional, tendo em vista que o inglês é um dos idiomas oficiais do país. O que fez The Quiet Girl estar na lista dos cinco filme estrangeiros selecionados para esse ano foi o fato de o longa ser falado, em sua grande maioria, no dialeto irlandês. O diretor, Colm Bairéad, é bem patriota quanto a isso e sempre faz obras relacionadas ao universo irlandês e seu próprio dialeto.

A trama aborda a história de Cáit (Catherine Clinch), uma criança de 9 anos que, para sua idade, está um pouco atrasada no seu desenvolvimento. Ela tem dificuldade de ler tanto o dialeto irlandês quanto o inglês. Essa dificuldade na escola também é refletida em sua família, já que a personagem possui mais três irmãs mais velhas, um irmão mais novo e sua mãe está à espera de mais um bebê.

Por estar inserida em uma família grande e as férias de verão estarem se aproximando, os pais de Cáit decidem enviá-la para passar um tempo na fazenda de uma prima distante. Na casa de Eibhlín (Carrie Crowley) e Seàn (Andrew Bennet), Cáit é quieta da mesma forma, porém, seu pai, diz que mesmo quieta ela irá dar um prejuízo a eles, pois vai comer muito. Um tanto ofendida, Eibhlín responde que é algo normal para alguém que está crescendo. Sendo assim, ele não se sente muito a vontade e se apressa para ir embora. Assim o faz e nem lembra de deixar as roupas de Cáit.

Esse descaso do pai faz com que Eibhlín tenha mais empatia por Cáit e a deixe mais a vontade o possível. E a forma que ela acredita que irá fazer deixá-la mais a vontade é dando atenção e carinho. Conforme o tempo vai passando e Eibhlín dando banho, penteando seu cabelo, dando boa noite, reflete em como Cáit se comporta. No início, Cáit fazia xixi na cama, Eibhlín faz uma brincadeira com o que aconteceu, dizendo que foi o colchão que chorou a noite, provavelmente, o contrário do que acontece em sua casa. Quando Cáit não faz xixi durante a noite, Eibhlín diz que o que ela precisava era de atenção para que isso não acontecesse mais.

Além desse comportamento na hora de dormir, Cáit começa a ser um pouco mais falante e ajudar nas tarefas de casa com disposição e vontade. Até com Seán, que demora a se adaptar com a presença dela em casa, Cáit o cativa com seu jeito doce e eles passam a conversar mais e passar tempo juntos. Seàn também é um homem de poucas palavras, como Cáit, e parece que Seán está incomodado com a presença de Cáit, com o tempo percebemos que é só o processo de luto que ele está passando por ter perdido o próprio filho. E provavelmente o que o deixa incomodado é a situação de pais mandarem a filha para estranhos cuidarem, algo que não faria, que até Eibhlín chega a dizer isso em dado momento.

O filme não mostra somente a negligência parental de uma família pobre e desestruturada, mas também como o luto pode afetar as relações de pessoas que fazem lembrar da perda que aconteceu. Mesmo com uma temática triste, é um filme muito afetuoso, como as férias acabando, e do tempo de filme também, você torce para aquilo não acabar, pois, aquilo que está vendo é tão bonito e bom para Cáit.

O longa-metragem é ambientado em 1981. A caracterização dos ambientes e figurinos são muito boas, as cores e roupas que Cáit vai usando no filme ajuda a demonstrar como ela está cada vez mais a vontade e feliz com Eibhlín e Seán. A fotografia é simples deixando o que a câmera filma ser a atração principal, pois o que importa é o conteúdo e não como ele é mostrado. Além disso, o elenco é muito competente e consegue passar ao espectador todos os sentimentos que seus personagens estão sentindo.

O filme mostra, de forma sutil, como as atitudes refletem em criança, mesmo que sejam pequenas. Atingem de um forma que reverbera de várias formas. Esse filme é o retrato da negligência em uma criança ocorre, mesmo que da década de 1980. É um filme reflexivo e, principalmente, necessário, trazido pelo diretor de uma forma muito empática, emocionante e nada panfletária.

The Quiet Girl
An Cailín Ciúin
2022
Colm Bairéad
Colm Bairéad
Break Out Pictures

Nota: 4.5

Nota: 4.5

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Amo música, cinema, artes visuais e cores. Gosto de descansar vendo filmes e, as vezes, isso acaba cansando também. Sou graduada de Cinema e Audiovisual.