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Till: A Busca por Justiça traz história real que virou lei nos Estados Unidos (Crítica)

Till: A Busca por Justiça é um filme de época que retrata o racismo existente no sul dos Estados Unidos durante a segregação racial ocorrida no país

Publicado em 9 de fevereiro de 2023, por Críticas

Quando um filme é a representação de algo ou alguém trata-se quase sempre de algo difícil, pois há dois caminhos que podem ser seguidos: o de simplesmente relatar os fatos ou trazer uma precisão na representação de todos os personagens envolvidos. O longa Till: A Busca por Justiça não busca uma caracterização dos atores hiper realista com as personas que estão interpretando, porém isso não diminui a potência que a representação dos acontecimentos possui.

O filme conta a história de Mamie Till (Danielle Deadwyler), uma viúva, que perde o filho, Emmett Till (Jalyn Hall), por um crime de ódio durante a segregação racial que aconteceu nos Estados Unidos. As primeiras cenas do filme começam antes desse acontecimento que muda o rumo da vida de Mamie e a apresentação dos personagens se dá em Chicago, o qual se encontra em um estado muito mais progressista e que não há essa separação. Emmett é nascido e criado na cidade, então não viveu nesse contexto de ódio e medo que é viver no Mississipi. Por isso, Mamie, antes de Bobo, apelido de Emmett, viajar nas férias o alerta sobre os perigos do que é ser negro em um estado do Sul. Porém, pela criação de Bobo, não imaginou que a proporção de chamar uma mulher branca de bonita naquela época faria. 

Ao saber que Bobo tinha sido sequestrado, ela começa uma jornada pela procura de seu filho. E, após saber da morte dele, a jornada vem a ser lutar por justiça para Emmett. Quando o corpo de Emmett chega em Chicago e Mamie vai fazer o reconhecimento, é bem chocante. Pois já havia sido dito que ele estava irreconhecível e a identificação do corpo tinha ocorrido por conta de um anel que ele usava. E então, há uma cena bem impactante, mostrando como o corpo inteiro de Emmett tinha ficado naquele estado.

Essa cena tem um zoom in que, de imediato, lembra o famoso travelling de Kapo, algo considerado abjeto em um texto de Jacques Rivette. Para contextualizar, em Kapò (1959), esse travelling é utilizado quando uma mulher morre em um campo de concentração. Mas, no filme, logo depois, por meio do subtexto, se é explicado o porquê desse recurso narrativo. Mamie faz da morte de seu filho algo impactante não só em sua vida, mas na de todos do país. A partir disso, a personagem procura a imprensa para noticiar, fotografar seu filho e tentar que isso sensibilizasse e justiça fosse feita. Diferentemente de Kapò, este zoom in não é imoral, pois é a representação de um crime de ódio cometido em 1955 e é dirigido por uma mulher negra. O choque que a cena mostra é para representar o choque que Mamie Till fez na vida real. E consegue. Além do conteúdo da cena, Danielle Deadwyler está num atuação tão intensa que faz você se arrepiar com a dor que ela está sentindo. Muito potente.

A forma como Mamie lida e consegue trazer visibilidade para a sua luta, faz com que ela seja uma das mulheres mais influentes da época e ela vira uma referência na luta pelos direitos civis, que foi instaurado em 1957. Além dessa luta, Mamie ajudou a muitas crianças a vivenciar esse momento. Em março de 2022, Joe Biden assinou uma lei que considera o linchamento um crime de ódio. Essa lei possui o nome de Emmett Till.

Junto de Deadwyler, tem Whoopi Goldberg fazendo a mãe de Mamie, Alma Carthan, e o pai, John Carthan, é feito por Frankie Faison que possuem atuações muito boas também. A direção de fotografia trabalha com simplicidade e a caracterização da direção de arte também traz nuances interessantes, porém, ambas, não são pautadas em nada grandioso demais propositalmente para não competir com a atenção do espectador com a história que está sendo contada.

Till: A Busca por Justiça é um filme bastante impactante não só por sua história, mas pelo que se vê em tela também. E algo que é necessário e preciso ser visto, pois precisa ser falado a respeito; crime de ódio não é algo que ficou lá na década dos anos 1950. Infelizmente, mais uma vez, a Academia ignorou uma atuação incrível de uma atriz negra, visto que Danielle Deadwyler nem ao menos foi indicada por este trabalho.

Till: A Busca por Justiça
Till
2023
Chinonye Chukwu
Chinonye Chukwu, Keith Beauchamp e Michael Reily
Universal Pictures

Nota: 4

Nota: 4

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Amo música, cinema, artes visuais e cores. Gosto de descansar vendo filmes e, as vezes, isso acaba cansando também. Sou graduada de Cinema e Audiovisual.