Jô Soares em qualquer hora: sem dúvidas, um dos melhores momentos do Brasil
Jô Soares escreveu seu nome na história da televisão brasileira se consagrando como um dos mais célebres do campo do humor e entrevistas
Publicado em 6 de agosto de 2022, por Matheus Rocha • Melhores Momentos do BrasilEm 1988, quando o SBT ainda não havia completado nem ao menos uma década de existência, um dos nomes mais carismáticos da televisão estava chegando para reforçar seu time artístico. Naquele ano, Jô Soares estreava o icônico Jô Soares Onze e Meia, programa que deu, de fato, a oportunidade do então apenas ator e humorista mostrar seus dotes como um grande entrevistador. O sucesso foi imediato, causando uma certa dor de cotovelo instantânea na antiga casa de Jô. E depois de mais de 6 mil entrevistas em cerca de 2,3 mil programas, o show terminou em 1999, quando José Eugênio Soares retornou à Rede Globo.
Com isso, Jô ganhou um talk show exclusivo cujo seu nome estaria estampado em todas as edições. O Programa do Jô, efetivamente, só estreou em 2000, trazendo convidados ilustres, incluindo celebridades, artistas e políticos. No geral, o carisma do humorista é o fator que fazia toda a diferença na condução das entrevistas. E pode ter certeza que muitos sonharam em sentar-se ao lado de Jô para contar alguma história sobre sua própria vida. Além disso, se no Brasil os programas de entrevista são sinônimo de sucesso hoje em dia, muito se deve ao formato estabelecido anteriormente por ele.
Não há dúvidas, portanto, de que seu falecimento consiste em uma grande perda para a cultura do país. Desse modo, também não poderíamos deixar de prestar nossa homenagem a ele, que foi um dos melhores momentos do Brasil.

(Rede Globo/Reprodução)
Melhores Momentos de Jô Soares
Há muitas entrevistas que ficaram na memoria dos brasileiros ao longo de 27 anos realizando programas nesse estilo. Vale lembrar que inúmeras personalidades sentaram-se ao lado de Jô, como Carlos Villagran, o intérprete de Quico, do seriado Chaves, e seu dublador, Nelson Machado. Os Mamonas Assassinas também concederam uma entrevista bastante importante ao humorista, bem como Renato Russo, o líder da Legião Urbana. Mais recentemente, com o documentário Pacto Brutal, do HBO Max, trechos da entrevista da escritora Glória Perez em seu programa no SBT também foram reproduzidos, mostrando como seu espaço na televisão fora bastante importante também como uma prestação de serviço ao público de uma forma geral.
E no Programa do Jô, muitas foram as entrevistas marcantes. Sempre ao abrir o programa, havia algum causo sendo contado ao público. Muitas figuras passaram pelo palco, incluindo histórias envolventes e engraçadas, como a do ator Eduardo Sterblitch, que falou sobre como teve uma “infância viada” e ainda da artista plástica que detestava tucanos e possuía um jeito bastante rude de tratar aqueles que conversavam com ela. “Sua pronúncia é péssima”, disse ela a Jô após o humorista tentar falar “Via Sacra” em alguma língua nórdica.
Talvez a entrevista mais marcante e lembrada pela maioria das pessoas seja a de Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e Nair Belo. As três amigas inseparáveis promoveram um show de histórias engraçadas em abril de 2000, quando relembraram até mesmo a inauguração da televisão brasileira, na qual Hebe teria fugido após ler a letra do hino que teria de cantar na ocasião. Em meio a gargalhadas, o programa foi resgatado recentemente, proporcionando aos internautas uma série de memes para serem utilizados a qualquer momento.

(Rede Globo/Reprodução)
Nesse mesmo programa, Jô ainda repreenderia uma convidada que não olhava para ele durante a entrevista e ainda cairia da cadeira, literalmente, em determinado momento, colocando a plateia para rir de forma inesperada e até mesmo preocupada. No ano de 2014, após o falecimento de Rafael Soares, seu único filho, Jô se emocionou ao dar essa notícia ao seu público, falando sobre como a energia de sua criança ainda permanecia viva dentro dele. O Rafinha o havia ensinado que com escolhas, sempre há perdas. Um grande ensinamento, não é mesmo?
Um beijo do gordo
Muita gente não sabe, mas além de seus trabalhos televisivos, Jô ainda escreveu alguns romances, incluindo os notáveis O Xangô de Baker Street, publicado em 1995, e O Homem que Matou Getúlio Vargas, de 1998. Todas as suas obras refletiam elementos da sociedade brasileira com muito bom humor, críticas ácidas e personagens ambíguos. Esse primeiro, inclusive, virou filme nas mãos do cineasta Miguel Faria Júnior em 2001. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (2005), As Esganadas (2011) e O Livro De Jô – Uma Autobiografia Desautorizada – Vol. 1 e 2 (2017 e 2018) completam sua bibliografia.
Além de seus escritos, outros programas míticos também preencheram seu currículo. A Praça da Alegria (atual A Praça É Nossa) foi o seu primeiro trabalho na televisão. Entre 1956 e 1967, o artista fez seu nome crescer e se tornar bastante relevante até alcançar grandes voos. A partir dele viveram ainda Família Trapo (1967), Faça Humor, Não Faça Guerra (1971), Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976), Viva o Gordo (1981), Veja o Gordo (1988) e até mesmo o Jornal da Globo, quando atuou como comentarista da área de cultura.

(Rede Globo/Reprodução)
Desde o dia 28 de julho, Jô estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratar de uma pneumonia. Sua ex-esposa, Flavia Pedras foi a primeira a noticiar sua morte nesta sexta-feira (5). Certamente, com sua arte, ele conseguiu se tornar imortal. Um beijo para o gordo!