Girls Aloud: primeira aparição em quase 10 anos sela paz e homenageia Sarah Harding — conheça a história!
Prestes a completar 20 anos de existência, o grupo britânico se reúne para concluir um desejo de Sarah Harding
Publicado em 8 de outubro de 2022, por Matheus Soares • Artigos, MúsicaUm dos grupos britânicos mais bem-sucedidos das últimas décadas, as Girls Aloud se mantém no pódio de uma das melhores girlbands que se aventuraram na música Pop. Não tão conhecidas no Brasil, o grupo se manteve ativo por 10 anos, entre o fim de 2002 e 2013. Nesta semana, o grupo se reuniu “quase” por completo pela primeira vez. Quase, pois uma das integrantes infelizmente foi vítima de um câncer de mama no segundo semestre de 2021. Apesar de uma reunião, o grupo ainda não pretende seguir, por enquanto, na música. Mas já que esse encontro ocorreu, que tal conhecer um pouco mais sobre a Girls Aloud?
Início: o que os vizinhos vão dizer?
O grupo se equipara ao que o Rouge foi para nós, brasileiros. Não só pelo estrondoso sucesso, mas por terem sido formadas em 2002 e no reality show Popstars, o mesmo ano e programa que relevou o grupo brasileiro. Popstars: The Rivals revelou Girls Aloud em novembro de 2002, em um formato muito parecido com o que ocorreu no Brasil: o grupo é formado e o single de estreia é lançado praticamente em sequência.
Mas, um detalhe difere os formatos do reality show: enquanto no Brasil a primeira temporada revelou o Rouge e a segunda o grupo masculino Br’Oz, o The Rivals do Reino Unido promoveu uma competição entre um grupo feminino e masculino, que iriam disputar o primeiro lugar das paradas na semana de Natal de 2022. Assim, em 30 de novembro daquele ano, Cheryl, Kimberly, Nadine, Nicola e Sarah eram os rostos escolhidos para formar a nova girlband do país.
Assim como Rouge finalizou o programa se lançando na música com hits como “Não Dá Pra Resistir” e “Ragatanga”, as Girls Aloud chegou no mercado com o single “Sound of the Undeground” em 16 de dezembro de 2022, junto ao single “Scared Trust”, lançada pelos rivais One True Voice. Atingir o primeiro lugar na semana de Natal do Reino Unido é um marco importante para os artistas, e quem levou o prêmio para a casa foram as integrantes das Girls Aloud.
Com a integrante Sarah Harding sendo a responsável pelo primeiro verso do grupo (“Disco dancing with the lights down low, beats are pumping on the stereo”/Discoteca com as luzes baixas, batidas estão bombando no estéreo), o primeiro single do grupo era um Pop Rock ousado e dominou os charts britânico por quatro semanas consecutivas, dando início a uma nova era de girlbands do país, já que naquele momento as Spice Girls já haviam se aposentado com o Forever. O que surpreende no lançamento é que foram 16 dias entre a revelação e o lançamento do single, o que mostra como o reality Popstars foi um formato inovador e envolvente naquela época.
O fim de 2002 foi de grande impacto para as cinco integrantes, mas 2003 seria ainda maior. Trabalhando no primeiro álbum em um tempo mais tranquilo em relação ao Rouge, que teve o primeiro álbum lançado enquanto o reality estava no ar, o trabalho das Girls Aloud dominou o meio do ano, com o álbum Sound of the Undeground e os singles “No Good Advice” e “Life Got Cold”, ambos mantendo o sucesso do primeiro single ao entrarem no Top 3 Britânico. O grupo também obteve aceitação na Irlanda e alguns países vizinhos.
Genéricas? Talvez, em primeira vista. Mas o grupo já se diferia das outras girlbands por exalarem sensualidade e não se prenderem a um público infantil, que foi um terror para outros grupos da primeira década dos anos 2000. Além disso, souberam conversar muito com a sonoridade da época, mesclando um Pop Rock ao lado de artistas como Hilary Duff, e retrabalhar em canções antigas, tendência para muitos grupos na época. Desta fase, “Jump”, cover de The Pointer Sisters, e o cover do The Pretenders “I’ll Stand By You” — Número 1 no Reino Unido, ambas grandes sucessos do segundo álbum: What Will the Neighbours Say?, de 2004.
Assim como várias girlbands da época, as meninas das Girls Aloud trabalhavam no 220 Volts, lançando single atrás de single e álbum atrás de álbum, além de turnês e aparições na TV. No terceiro álbum, elas já estavam prestes a debutar o 10º single, que acabou sendo um dos principais da carreira: “Biology”. Vale a pena o play!
Neste ponto, “Biology” foi o single mais caótico do grupo e um dos mais ousados já lançados por uma girlband britânica, sendo aclamado a ponto do The Guardian a considerar como a maior música pop daquela década. Tudo isso se deve a uma ousadia de juntar três músicas em uma do produtor Xenomania, parceiro que produziu Sound of the Underground e continuou em todos os álbuns.
Muito parecido com as estruturas usadas hoje no K-Pop, a canção não possui ritmo, refrão e bridge tão bem definidos, transitando em estilos e variantes durante os minutos que se passam. A aclamação da crítica definiu, em tradução livre, que “Biology” era mais uma prova que Xenomania escrevia as melhores músicas pop e que Girls Aloud eram praticamente o grupo perfeito para cantá-las. A canção foi considerada o melhor single de 2005, e a aclamação se mantém até hoje.
Nova Era
Com a chegada das Pussycat Dolls e as novas tendências do mercado Pop a partir de 2006, as Girls Aloud passaram por uma grande transformação e voltaram ao mercado em 2007 com uma nova proposta: canções mais eletropop, com efeitos de autotune e grandes produções musicais. Mesmo com cinco anos de existência, inúmeros singles (até o momento, todos no Top 10 das Paradas Britânicas), o grupo manteve fôlego, e o álbum Tangled Up marcou esta nova era com os singles “Sexy! No No No…”, “Can’t Speak Frech” e a maravilhosa “Call the Shots”.
Mesmo com uma excessiva exposição midíatica em um momento em que a mídia as amava e odiava na mesma medida, os anos de 2008 e 2009 foram um dos mais importantes para o grupo, com uma era que parecia ser a maior e melhor de toda a história delas: Out of Control.
Neste ponto da carreira, em 2008, o pop britânico já estava rodeado de hits em estilo dance e Eletropop, como o álbum X, de Kylie Minogue e Blackout da Britney Spears. Também existia uma volta de interesse por girlbands, como o auge das Pussycat Dolls e o retorno das Spice Girls. Se o último single, “Call the Shots”, já mostrava uma evolução e uma qualidade no grupo, o lead-single do próximo álbum seria o maior sucesso do grupo: “The Promise”.
Sendo um single em que tiveram que brigar para ser o primeiro lançamento, “The Promise” elevou AINDA MAIS o grupo, a ponto de serem o grande destaque do Reino Unido daquele ano. Atingindo o primeiro lugar, a canção e videoclipe possuem referências à era Motown e uma grande pegada nostálgica. Apesar de não tão aclamada como “Biology”, a música impulsionou Girls Aloud até o Brasil! Apesar delas já serem bem conhecidas nas comunidades do Orkut, a canção chegou as paradas Dance daqui.
O segundo single da era Out of Control é uma das minhas favoritas, “The Loving Kind”. Coescrita por um dos integrantes do Pet Shop Boys, a canção é uma balada synthpop que lembra os trabalhos de Robyn, com uma pegada melancólica e uma letra romântica. Assim como em “Sound of the Undeground”, os vocais desta canção são iniciados por Sarah Harding, o que lhe rendeu um meme ao cantar ao vivo em uma apresentação na TV Britânica e… parecer uma pessoa bêbada no Karaokê ao tentar estender vocais e arriscar high notes. A situação ganhou mais notoriedade recentemente ao aparecer no canal The Honest Vocal Coach, que reagiu de forma hilária aos vocais.
Mas, para mim, o melhor ainda estaria por vir: “Untouchable” foi o último single da era, e apesar de encerrar um recorde consecutivo do público de alcançar o Top 10 da Para de Single desde sua estreia em 2002, a canção chegou aos fãs com a incríveis marca de seis minutos e quarenta e dois segundos, o maior número de uma canção original para o grupo e uma minutagem tão comum para um grupo Pop.
“Untouchable” se tornou o último single do grupo antes de um hiato de três anos, em que as integrantes se aventuraram em carreira solo. Não há confirmações sobre a decisão do hiato, mas os rumores apontam Nadine sendo uma das causas, ao contratar um próprio empresário e faltar ensaios e eventos do grupo. Após o hiato, Cheryl alcançou o mainstream ao lado de will.i.am, com singles como “Fight for this Love”, e Nicola conquistou o coração da música alternativa com “Cinderella’s Eyes” — esta merece uma Review aqui no Portal Pop3 muito em breve.

(Girls Aloud/Reprodução)
É um pouco difícil tentar definir o que fez o grupo durar sete anos consecutivos em evidência e alcançando o Top 10, 5 e número 1 nas paradas britânicas, mas, para tentar justificar, trouxe quatro possíveis definições: Xenomania, tablóides e reinvenção musical. Xenomania é uma equipe britânica que esteve ao lado do grupo do início ao fim, dando o tom das produções e o direcionamento musical.
Os tabloides britânicos amaram e odiaram o grupo por décadas, desde um bullying que afetou psicologicamente Nicola Roberts até relacionamentos amorosos e algumas famas de integrantes que bebiam até demais. Assim como o Little Mix esteve em grandes pautas nos últimos anos, as Girls Aloud facilmente apareciam nas manchetes. E reinvenção musical, pois o grupo soube se transformar dentro do mercado Pop, abandonando o que estava antiquado, reinventando visuais e sonoridade. Se você notou, faltou uma quarta definição, e essa é a mais importante: cinco integrantes carismáticas em igualdade.
As cinco possuiam particularidades no quesito vocal, personalidade e posição pública. E isso se itensificou no período do hiato, principalmente com a sobressaída de Cheryl ao atingir o mercado mundial com seus singles. Apesar de aqui no Brasil Nicola ter ficado conhecida por “Beat of My Drum” e “Lucky Day”, Cheryl atingiu o mercado mundial com “Call My Name” em 2012, um clássico até hoje.
E é dentro de 2012, com o grande alcance solo das integrantes, que as Girls Aloud se juntam uma última vez para comemorar os 10 anos de existência do grupo. Apesar de ser um período curto de tempo, pareceu uma eternidade uma nova reunião do grupo, e muitos encararam esta retomada como um comeback, apesar do grupo nunca ter anunciado um fim.

(Girls Aloud/Reprodução)
E posso dizer, por vivência: que “comeback”, viu! Aqui, parecia que estávamos em um novo auge do grupo: os visuais caprichados, uma sensação de novidade, uma abertura ainda maior para a música Pop, que vinha dos lançamentos gigantescos de Lady Gaga, Katy Pery e Nicki Minaj, além da exposição anterior de Cheryl e Nicola. Desta vez, ao invés de um álbum novo, o grupo comemoria os 10 anos com a coletânia Ten e um reencontro com os fãs na turnê de mesmo nome. O lead-single desta era foi “Something New”, um dos maiores clássicos do grupo, e outra música a chegar no Brasil, sendo reproduzida nas pistas até hoje.
Apesar de um retorno bem-sucedido, o grupo anunciou o fim definitivo do grupo no último show da turnê, marcado por uma farpa pública: após um tweet oficial do grupo se despedindo do grupo, a integrante Nadine, um dos destaques midíaticos e com grande destaque vocal, avisou publicamente que não sabia da decisão e que pretendia continuar com o trabalho.
Mesmo sem nunca ter sido confirmado, existiu um rumor que a tensão no grupo se dividia entre Kimberly, Cheryl, Nicola vs Nadine, sendo Sarah a que ficava no muro da bagunça. Ainda neste último show, uma cena que repercutiu foi de Nicola abandonando seu posto ao lado de Nadine e ficando próximas de Kimberly e Cheryl, deixando Nadine desnorteada. Infelizmente, esta cena reberverou durante alguns anos e fez com que, por muitos anos, Kimberly, Cheryl e Nicola fossem definidas como “Mean Girls Aloud”.
O fim amargo percorreu por muitos anos, com poucas declarações sobre reuniões. Como fã, uma das únicas lembranças que tenho sobre conversas de reunião foi uma depoimento de Kimberly dizendo que dez anos era um tempo longo de convivência, e cada uma estava vivendo seu espaço.
Sarah Harding
Uma das integrantes mais animadas, o maior alcance solo de Sarah foi quando venceu o 20º Celebrity Big Brother do Reino Unido, uma grande exposição para a artista. A experiência, que não foi uma das melhores, dividiu opiniões dos espectadores, ao mesmo tempo que agradou pelo carisma. Ela definiu a experiência em seu livro, dizendo que, ao pensar nas razões pelas quais aceitou fazer o programa, concluiu que seria uma boa plataforma para voltar aos olhos do público positivamente.

(Girls Aloud/Reprodução)
No auge da pandemia, Sarah infelizmente foi diagnosticada com câncer de mama. A luta contra a doença a reaproximou das outras quatro integrantes, e pareceu selar uma paz que não havia sido concluída no início de 2013. As integrantes ficaram ao lado da integrante durante a luta, convivendo, ajudando no que podiam e entendendo o que Sarah gostaria que as quatro integrantes fizessem para honrar sua memória. Isso por que o câncer foi descoberto em um estágio avançado e, pouco depois, resultou em uma metástase.
Dentro dos meses de luta, Sarah conseguiu lançar sua biografia, “HEAR ME OUT”. O título foi baseado em uma das suas canções favoritas das Girls Aloud e a autobiografia foi abraçada pelos fãs, contendo toda a honestidade de Sarah ao relembrar momentos de sua vida. No lançamento, Sarah ainda lançou a música “Wear It Like a Crown”, produção realizada em um momento solo de sua carreira.
Infelizmente, Sarah Harding faleceu em 5 de setembro de 2021. Marie, sua mãe, publicou “É com profundo pesar que compartilho a notícia que minha linda filha Sarah infelizmente faleceu. Muitos de vocês souberam a batalha dela contra o câncer, e que ela lutou muito desde o diagnóstico até o último dia. Ela partiu pacificamente esta manhã”.
Os 20 anos de Girls Aloud
Em 2022, o grupo completa 20 anos de existência, mas como prosseguir, sem a “faísca” do grupo?
Sarah não só era uma integrante de grande importância, mas, se notar, eu comentei anteriormente que ela iniciou o primeiro verso do grupo com “Sound of the Undeground”. Citei isso porque, numa triste coincidência, foram seus vocais que iniciaram e finalizaram a discografia do grupo. Na última canção lançada, “Every Now and Then”, seus vocais finalizam o legado Pop que o grupo desenvolveu em conjunto. Em quarteto, o grupo decidiu dedicar o ano de 2022 para sua colega e amiga.

(Girls Aloud/Reprodução)
A primeira atividade foi a corrida RACE FOR LIFE FOR SARAH, realizada em 25 de julho de 2022 e que contou com três integrantes juntas presencialmente – Cheryl, Nadine e Nicola. Kimberly participou de forma on-line. Na corrida, todos os fundos arrecadados foram doados para institutos de pesquisa e combate ao Câncer de mama.
Ao chegarmos no Outubro Rosa, o grupo finalmente se reuniu pela primeira vez em quatro anos, em uma nova campanha. Desta vez, ao firmar parceria com uma marca do Reino Unido, as integrantes lançaram um pijama temático em que toda a venda também será revertida ao combate ao câncer. Embora não seja uma reunião musical, anúncio de single ou turnê, os planos do grupo continuam: ainda haverá um jantar beneficente em homenagem a amiga.

(Girls Aloud/Reprodução)
Mesmo não presente em vida, Sarah Harding possui um legado que será levado em frente pelas integrantes do grupo. Além da música, seu carisma e sua luta contra o câncer já foi abraçado pelas quatro integrantes, que se prontificaram em honrar seu nome.
Sua falta é sentida a cada story, tweet e entrevistas que as integrantes concedem, sempre com respeito a memória de uma das integrantes mais carismáticas de girlbands mundiais. Sarah continua sendo uma grande parte das Girls Aloud a cada play nos serviços de streaming, com sua voz eternizada em canções que marcaram vida de muitas pessoas — minha, inclusa.
Para conhecer mais sobre a discografia das Girls Aloud, acesse o perfil oficial no Youtube e Spotify.
O livro “Hear Me Out” de Sarah Harding está disponível na Amazon Brasil nos formatos Kindle, Capa Dura e Capa Comum.