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Primavera Sound: Mitski entrega carisma e surpreende-se com o público (Review)

Vindo pela primeira vez ao Brasil desde o ínicio de sua carreira, a artista que não parecia tão grande surpreende o público e a si mesma com cantoria da plateia em uma de suas faixas (ou todas?)

Publicado em 9 de novembro de 2022, por Festivais, O Pop do Brasil, Shows

Escrevo sobre o show na minha perspectiva: a de um fã recente de Mitski, que aguardava sua vinda desde o primeiro momento em que me viciei nos hits do maravilhoso Be The Cowboy. A cantora estourou bolhas por conta de virais nas redes sociais como TikTok e Twitter.

Eu a conheci em 2018, no lançamento de seu quinto disco, mas não me aprofundei ou fiquei viciado o suficiente. Em 2020 e 2021, nos meados da pandemia, minha melhor amiga insistiu para que eu ouvisse algumas das músicas do seu quarto disco, o Puberty 2. Canções como “Your Best American Girl” e “I Bet on Losing Dogs” me cativaram rapidamente, posteriormente, me vi viciado e encantado por todos seus discos. Alguns meses depois, passei a ver vídeos da artista, assistir shows antigos e aprendia cada uma das canções, afinal ela estava em um grande hiato e nada estava acontecendo.

No fim do ano passado, a artista retornou das cinzas com o single “Working for the Knife” e anunciava seu sexto álbum, o Laurel Hell. Neste momento, eu já era um fã assíduo da artista, possuía discos, vinis, roupas e tudo que era possível pra demonstrar meu carinho pela grande artista que é. Em março deste ano, rumores de que ela poderia vir ao Brasil começaram, porém, eu já descartava a possibilidade de ver a artista por questões financeiras já que na mesma época, o festival Primavera Sound 2022 começou a aparecer e soar muito interessante, com alguns rumores de artistas que também amo, entre eles: Charli XCX e Lorde.

Não me segurei e comprei o passaporte antecipado do festival — que dava direito aos dois dias de festival e alguns shows na cidade. Um dia depois, o line-up seria liberado, e foi ali que a minha surpresa apareceu e incapaz de proferir palavras eu fiquei no momento que vi o nome “Mitski”; ao lado de nomes grandiosos para mim como: Phoebe Bridgers, Björk, Lorde, Japanese Breakfast, Arca, Shygirl, entre outros. A partir dali, eu sabia que tinha feito uma boa escolha para o festival e desde ali me peguei imaginando todos os momentos que eu viveria.

Esse fim de semana, mais precisamente em 05 de novembro de 2022, eu, meu namorado e meus amigos comparecemos ao festival e finalmente realizei meu sonho de assistir o show da cantora nipo americana. Chegamos no festival cedo e iríamos permanecer no palco primavera o dia todo, afinal, queríamos assistir a Björk e a Mitski bem de pertinho e ali ficamos. Também vimos os shows de Liniker e Luccas Carlos anteriormente. Ao fim do show da Björk, a pista esvaziou e conseguimos relaxar por uns minutos, mas, logo chegaram alguns adolescentes que estavam ali para assistir a Mitski. De primeiro me vi assustado mas logo pensei: “ah, o efeito TikTok”. Eles não seriam uma reclamação para mim se eles não tivessem sido mal educados, mas como ficaram me empurrando e sentando em meu pé, não terei empatia!

Eu, como ansioso que sou, já havia visto setlists do que eu podia esperar e em todas elas a primeira música era “Love Me More”. Então, a partir das 20h45 (o show iniciava as 20h50) eu estava atento para reconhecer o som da canção e começar a gritar como um maluco. E então, começo a ouvir uma gritaria e berros, olho para o palco e lá está ela, no meio da escuridão e alguns vislumbres de luz, com um vestido azul e cabelo cortado. O instrumental que começa é o de “Working for the Knife” e já começo a passar mal pensando em tudo que eu iria viver.

Cantei aos berros a música de abertura, mas logo percebi que todas as pessoas ao meu redor estavam cantando a segunda música: “I Will”. Em diversos momentos do ano, me vi chorando com essa, e ver que a grande parte do público estava ali, presente, e vibrando com a cantora essa faixa que é tão delicada e íntima, me deixou extasiado que minhas lágrimas eram de felicidade. A cantoria não parou e na verdade só aumentou, até que chegamos em “Washing Machine Heart” que rendeu um dos melhores momentos da noite. A plateia cantou a música do inicio ao fim, e no primeiro verso deixou a cantora em silencio total para ouvir a voz de seus fãs e respondê-los ao fim: “Good job”.

Por sorte, Mitski foi colocada no palco Primavera, que na minha opinião, era o melhor em geral. Tinha uma visão boa de todos os lugares, era agradável de estar e era grande. Além disso, ele também possuía uma passarela que permitia que os cantores e músicos pudessem descer e interagir com seus fãs. Eu, como estava na grade lateral, aguardei que acontecesse, mas imaginava que isso não aconteceria. Mitski é uma artista intimista e não a vejo fazendo aquilo tão facilmente (espero ser surpreendido do mesmo jeito que fui com a Phoebe, que em seu show, desceu para cumprimentar sua plateia).

De qualquer jeito, isso não estragou a experiência magnífica. Para mim, um dos grandes momentos e mais emocionantes foi em “Your Best American Girl” que me deixou em lágrimas quando o instrumental da canção iniciou e chegamos na ponte, em que ouvimos apenas a voz da cantora dizendo: “You’re the one / You’re all I ever wanted / I think I’ll regret this” e de fundo alguns fãs cantando baixinho. Ali que minha ficha caiu e que eu estava vivendo aquilo. Uma das minhas músicas favoritas que só se tornaram favoritas por conta da indicação da minha melhor amiga, que infelizmente, está do outro lado do mundo e não poderia comparecer para passar pela experiência comigo. Me debulhei em lágrimas de felicidade o show todo, por poder estar ali por mim e por ela, que também é muito fã da artista.

O show foi encerrado com “A Pearl” — o que eu também já imaginava, visto que ela encerrava outros festivais com essa. Cantei o mais alto que podia para poder me despedir da artista, mesmo que ela não soubesse, queria que ela sentisse o carinho através da minha voz horripilante, rouca e de choro. Era meu sonho que ela cantasse “Two Slow Dancers” ou “Happy” ou até mesmo encerrar com “Carry Me Out”, mas todo o show já havia valido à pena.

Escrevo esse texto na perspectiva de alguém que sempre viu artistas favoritos vindo ao Brasil, mas nunca podendo ir e nunca acreditando que eu seria capaz de viver aquilo. Quem me conhece sabe a importância de música na minha vida e na minha conexão com tudo que envolve isso, e poder vivenciar dois dias com shows de meus artistas favoritos foi muito gratificante — apesar do rombo financeiro que São Paulo me deixou. Deixo esse texto como um encorajamento para quem tem medo de fazer loucuras como a que eu fiz de comprar um ingresso sem saber como o futuro vai ser e se vai valer a pena, pois já dizia Pabllo Vittar: é melhor se arrepender do que passar vontade.

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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.