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And in the Darkness, Hearts Aglow de Weyes Blood é a retratação mais pura da solidão, esperança e busca por conexões (Review)

Explorando novos gêneros, a cantora lança seu quinto disco e emociona com suas reflexões e observações da angustia do amor e solitude.

Publicado em 19 de dezembro de 2022, por Lançamentos, Reviews

Surpreendente, inovador, excêntrico e forte são palavras que definem o quarto disco de estúdio, Titanic Rising, de Weyes Blood — nome artístico de Natalie Maring. Disco este que foi lançado em 12 de fevereiro de 2019 e deu inicio a uma trilogia de discos de acordo com a artista. Além disso, ele foi mundialmente aclamado, abriu portas e levou a grandiosidade da arte de Natalie para novos ouvintes. Eu fui um deles. Agora, três anos depois, a artista americana dá o segundo passo desta trilogia com o lançamento de seu quinto disco intitulado: And in the Darkness, Hearts Aglow.

Abrindo o disco, Natalie já explora e dá dicas sobre como seu novo álbum, diferente do último, irá tratar de questões em uma visão coletiva. Não é apenas um sentimento dela, são de todos — “It’s Not Just Me, It’s Everybody” — revela a dificuldade em se conectar com pessoas, faz referências ao seu trabalho anterior de todas as mudanças que ela viveu e traz reflexões sobre como estamos mudando o tempo todo, a ponto de sermos estranhos até nós mesmos. Com frases fortes e o encerramento com a repetição da palavra “Everybody”, a artista reforça essa corporação de sentimentos em grupo. A canção traz uma nova sonoridade, um ar mais pop e o seu clipe também, mas tudo funciona e não soa estranho.

Esse agrupamento de sentimentos, além de trazer contemplações sobre a solitude e a busca por conexões, também abordam a necessidade de sua geração e as gerações futuras se unirem e perceberem seus impactos em “Children of the Empire”. A dificuldade em se quebrar todo um sistema instalado é representado aqui e o timbre durante toda a canção traz uma sensação de revolta e esperança incomum que apenas sua voz poderia trazer. A gente entende que não somos livre, mas queremos ser e não existe mais tempo para ter medo. Em certos momentos, a letra me remeteu ao que a Lorde tentou fazer em Solar Power.

We’re long gone
In that eternal flame
Trying to break away
From the mess we made
Oh, we don’t have time anymore to be afraid

A artista sempre expôs seu grande talento em produzir canções que soam etéreas e isso fica evidente novamente em “Grapevine” — uma balada majestosa e apaixonante — e na grandiosa “God Turn Me Into a Flower”. A quarta faixa do disco é, sem dúvidas, a que mais brilha em todos os seus aspectos e é com certeza a “Movies” desse álbum. Weyes te convida à uma experiência, de fato, com sons de passarinhos, praticamente te transformando em uma flor. Ao refletir sobre o mito de Narciso, a cantora é capaz de criar uma espécie de louvor que exibe como a pessoa que estamos obcecados em nosso reflexo não é de fato nós mesmos, apesar de nossa busca incessante por amor estar dentro de nós mesmos.

O disco é dividido em duas partes, entre as cinco primeiras faixas e as cinco últimas. A canção que encerra a primeira parte é “Hearts Aglow”, na qual a artista evidência novamente essa busca pelo amor e pelas conexões, só que desta vez, em outra pessoa. A faixa traz a sonoridade e a letra que simboliza tudo que está representado na capa do disco — que é uma das mais bonitas deste ano. O coração brilhante que guia nossas direções em meio à escuridão, mesmo sem saber para onde estamos indo. A faixa seguinte é uma interlude instrumental, se é que podemos chamar assim, de 14 segundos que exibe essa divisão do disco em duas partes.

Enquanto nas primeiras cinco faixas Natalie buscava essa conexão inexistente, esse pertencimento ao amor tão difícil de entender, nas últimas 4 canções a artista levanta novas questões. “Twin Flame” evidência como somos mais que apenas essa fragilidade e essas dores que parecem inerentes ao ser humano. A faixa, diferente das últimas, traz um aspecto mais Dream Pop que lembra alguns trabalhos do Beach House, mas particularmente, é a menos interessante do disco. “In Holy Flux” é uma faixa instrumental que ambienta uma certa transição, parece até uma entrada no céu, algo sagrado.

A penúltima faixa do disco é de longe a minha favorita. “The Worst Is Done” é aberta com algo que soa como a continuação do fluxo da faixa anterior, ao longo de um violão extremamente cativante. Nela, Natalie canta sobre como nos últimos anos (a faixa em certos momentos parece uma interpretação sobre o período pandêmico causado pela COVID-19 e sobre os impactos dela em nossas relações) todos mudaram e traz uma metáfora sobre como o pior não aconteceu realmente, e está apenas começando. Ela traz uma valorização a aspectos que parecem ter sido perdidos — amigos, família e sobre como podemos recomeçar.

Para encerrar o disco, temos “A Given Thing”, talvez a segunda melhor do disco ao lado de “God Turn Me Into a Flower”. Dolorosa, a artista traz um entendimento e uma compreensão tão profunda sobre o que é o amor de fato. É um presente dado, é algo com muitas facetas. Ele arrebata, é eterno, é natural e não precisa ser ruim. Ele flui entre as pessoas e essa conexão que aparenta ser inexistente para a cantora no inicio do disco é entendida com uma característica esperançosa, bonita e mais complexa do que já fora um dia.

A cantora esclarece, em seu novo disco, questões ao redor do amor e da solidão humana de forma singular ao longo de uma produção intimista e que pode parecer lenta para novos ouvintes, mas que é necessária. O coração brilhante que carregamos, que toma as decisões quando nós vemos perdidos e essa coisa que não precisa obrigatoriamente nos destruir ou ser um problema. É um novo passo e uma continuidade dos pensamentos que a artista trouxe em Titanic Rising, mais amadurecido, contemporâneo, novo e fresco e sem dúvidas é um dos melhores discos desse ano.

And in the Darkness, Hearts Aglow
Weyes Blood
2022
Sub Pop
Soft rock, Chamber pop

9.8


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.