Ants From Up There, de Black Country, New Road, é uma triste e épica narrativa cheia de significados (Review)
O segundo disco da banda inglesa é inovador e apresenta um futuro para o rock alternativo
Publicado em 8 de julho de 2022, por Carlos Bueno • ReviewsBlack Country, New Road ou também chamando de BC, NR é uma banda inglesa de rock formada atualmente por Tyler Hyde, Lewis Evans, Georgia Ellery, May Kershaw, Charlie Wayne e Luke Mark. O primeiro e segundo disco também contam com a presença do ex-vocalista e guitarrista Isaac Wood, que anunciou a deixa da banda quatro dias antes do lançamento de Ants From Up There citando problemas de saúde mental. Apesar da saída do vocalista, a banda ainda está na ativa, proporcionando uma tour com novas canções e trabalhas de formas inovadoras com sua nova formação.
A curta discografia da banda contam com canções longas que para desconhecidos pode parecer desanimador, mas tem que dar uma chance. O segundo álbum foi lançado no dia 4 de fevereiro e possui uma capa linda que representam um pedaço da narrativa contada que se constrói mais ainda e deixa mais lindo quando vemos as capas dos singles também, seguindo o mesmo estilo e sendo uma ilustração perfeita para as faixas.
O disco é aberto com a introdução (“Intro”) e em apenas 54 segundos, elas iniciam de forma caótica, atrativa e interessante para então chegarmos ao lead-single “Chaos Space Marine” em que o instrumental da continuidade a essas sensações, acrescentando elementos cada vez mais diferentes. A faixa explosiva e intrigante fala sobre uma forma de escapismo e possui tantas variações, sem seguir uma estrutura comum, que é impossível saber pra onde a faixa está indo, parecendo até que a banda está apenas se divertindo com os instrumentos e sempre com algo novo que se encaixa perfeitamente.
Em “Concorde” apesar do ritmo mais melancólico inicialmente, logo ela cresce e leva a momentos de euforia, algo bem recorrente no disco todo. Sua composição brinca com alguns significados e pontos de vistas. Para o narrador, o parceiro aqui é inalcançável, como um avião supersônico — Concorde, no qual ele é apenas uma formiga quando visto pelo “olhar” do avião. Com o desenrolar da canção e do disco no geral, “Concorde” representa a transformação do narrador e seu encerramento esclarece isso, dando até o significado para o nome do segundo álbum da banda.
O disco não é influenciado pela cultura do tiktok, definitivamente, já que a maioria das suas faixas tem próximos de 5 minutos e contam com diversos versos que mudam sempre. Em “Bread Song” não é diferente. Além de fugir dessa fórmula, a faixa, assim como em “Snow Globes” parece até duas em uma. Tudo muda tão rápido e de forma tão constante que é assustador que dê certo, mas essa é a proposta da banda — que soe como duas bandas em uma. Mas “Bread Song” carrega uma profundidade e solidão inexplicável, desde a voz de Isaac até a produção épica e excêntrica enquanto fala sobre a intimidade de comer uma torrada na cama de alguém especifico.
A quinta canção do álbum “Good Will Hunting” em seu refrão mistura um jogo de frases que parecem não se conectar a primeira ouvida, mas com uma certa atenção, algumas interpretações tornam-se mais claras, e o mesmo acontece na produção. Inicialmente a canção parece um pouco perdida mas as coisas se acertam com baterias pesadas em conjunto de uma guitarra trazendo o puro rock n’ roll e a voz feroz do vocalista para sua finalização. Assim como em “Haldern”. Composta de forma improvisada de acordo com Wood em uma entrevista, essa sensação é realmente ecoada durante a canção que parece se guiar conforme os elementos vão se construindo de forma unida. Nas primeiras ouvidas, “Haldern” foi a música que mais me cativou. A improvisação traz um toque muito especial para a faixa que traz um narrador contando uma triste história de amor com declarações tocantes.
Para chegarmos nas faixas longas — ou seja, 7 minutos pra mais, temos uma interlude “Mark’s Theme” que é na verdade, um tributo para o tio do saxofonista da banda Lewis Ewan que faleceu de covid-19 no ínicio de 2021. Inspirada por “I’ve Made Up My Mind to Give Myself to You” de bob Dylan, a oitava faixa do disco “The Place Where He Inserted the Blade” é uma narrativa com começo, meio e fim que expõe uma codependência de um dos parceiros pelo outro, com uma série de metáforas e referencias as canções anteriores. Ela é composta por guitarras calorosas e a mescla dos diversos instrumentos presentes no disco todo — flauta, saxofone e piano.

(Rosie Foster/Reprodução)
Com uma longa introdução, “Snow Globes” faz referência a Catarina de Aragon e Henry VIII e é composta pela voz de Isaac mais quieta, abaixa do tom, que em certo momento torna-se uma repetição da frase “Oh, god of weather, Henry knows/Snow globes don’t shake on their own” evidenciando uma certa angustia, sendo uma representação de Catarina pedindo a deus o perdão de Henry (tudo isso é interligado com as outras faixas do disco que formam a grandeza do disco).
A última faixa do disco é “Basketball Shoes”, e é possível dividi-la em 3 partes de tão longa (doze minutos e trinta e cinco segundos). Basicamente, ela era inicialmente sobre Charli XCX e sentir tesão! Deixando de lado as piadas, a faixa foi composta a bastante tempo e, anteriormente, realmente poderia ser sobre a Charli, mas a canção em sua versão final parece apenas uma junção de todos os elementos do álbum, e por isso tem essa longa duração. Com tantos elementos apresentados, menos que 10 minutos seria insuficiente para encerrar o segundo álbum da banda.
Com tantas influências, historias e vivências — querendo ou não, eram sete membros presentes na produção do disco, é uma tarefa difícil explicitar sobre tudo o que o álbum é. Afinal, a arte além de ser interpretada deve ser sentida. O disco é um dos melhores do ano sem dúvida e é uma representação de uma nova faceta para o Indie Rock, servindo como inspiração para novas bandas, cantores, compositores e produtores.

9.6