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beabadoobee cria a trilha sonora de uma utopia própria em Beatopia (Review)

beabadoobee lança segundo álbum de estúdio e segue viralizando em plataformas digitais

Publicado em 19 de julho de 2022, por Reviews

Na última semana, mais precisamente em 15 de julho, Bea Kristi ou mais conhecida como beabadoobee, artista filipina britânica de 22 anos, lançou seu segundo disco de estúdio Beatopia. Pra quem não a conhece, ela é dona de uma das faixas virais do TikTok nos últimos tempos. O hit “death bed (coffe for your head)” feito em parceria com Powfu, é nada mais que um remix da faixa “Coffee”, o primeiro single da artista liberado lá em 2017. Sua discografia segue essa personalidade meio dreamy e no violão, bem descontraída e no novo disco da artista, ela explora novas áreas, utilizando ainda se de sua zona de conforto mas com novos elementos. O disco conta com 14 faixas e quase beira os 50 minutos, sendo composto majoritariamente pelos gêneros indie pop, dreamy pop e bedroom pop.

Somos introduzidos a Beatopia com uma faixa de culto — “beatopia cultsong”, que aqui funciona como uma faixa introdutoria para “10:36”. As duas canções em sequência são interessantes pela quebra do ritmo do culto para uma faixa totalmente animada que fala sobre uma dependência e mais precisamente sobre a necessidade que a artista sente de dormir com contato humano. A produção ao lado das guitarras se sobressai muito aqui e em todas as faixas que essa característica se faz presente, como no lead-single “Talk”. No lead-single o que mais se destaca é o refrão único falando de uma perspectiva sobre sair numa terça-feira e viver uma bagunça perfeita. Ela parece até viver em Londrina e frequentar a Terça Tilt.

Mas o disco também é composto por faixas mais lentas e não tão ousadas. “Ripples” é uma dessas lentas, mas que não acrescenta muito ao disco apesar de sua beleza, e a maneira que a faixa é construida remete a momentos de Sling de Clairo. E essa mesma lentidão e com uma estrutura repetida aparece novamente em “Lovesong” que é apenas outra canção de amor sobre alguém importante — provavelmente o namorado da artista, que quebra todo o ritmo construido nas faixas aceleradas. “the perfect pair” distancia-se desses elementos citados, tanto a lentidão quanto a bagunça, para criar uma faixa bem excentrica aqui no disco. Ao lado de violinos, a cantora consegue trabalhar e produzir uma atmosfera que remete até filmes de ação, retratando uma certa angústia de visualizar que aquilo que você mais odeia numa pessoa, faz lembrar de si mesmo. Chamando atenção não apenas pela sonoridade, mas também pela escrita.

Apesar de ser um hit “death bed”, alguns elementos são reaproveitados em “Sunny day” — como a voz repetindo tudo que a cantora diz no pré refrão com algum filtro horrível que proporciona um dos piores momentos de todo o disco. O refrão com aspectos de R&B conseguem disfarçar essa tragédia por alguns segundos pela tranquilidade que transmite e os outros versos com praticamente apenas a voz da artista, mas ao ouvir “I keep you posted, I promise I’m better” novamente, tudo volta a ser tedioso. Momentos como “fairy song” deixam uma sensação confusa pela produção excelente cheio de caos ao lado de uma escrita totalmente brega e que com a intenção de serem bonitas, tornam-se chatas.

O segundo single do disco foi “See you Soon” que conta com instrumentos criando uma atmosfera que vai explodir a qualquer momento, mas que não acontece exatamente após o primeiro refrão. E ainda bem que não acontece. Além disso, a canção é remixada com vários efeitos na voz da artista, sugerindo diversas sensações ao ouvinte, um certo momento de intimidade, para então explodirmos no encerramento da canção. Um dos melhores momentos do disco, mágico, bem dreamy quase como se estivéssemos numa viagem de cogumelo.

Ao longo do tempo, algumas faixas podem crescer, mas a primeira ouvida, a canção com maior duração em Beatopia — “Picture of Us”, não soa tão revigorante. Talvez por ser uma faixa com um excesso de elementos, muitos filtros, instrumentos e com uma letra que não desperta interesse algum por deixar muitos significados em aberto. A faixa, de acordo com a artista, foi produzida e feita inicialmente por Matthew Healy, vocalista da banda The 1975, que está presente em diversos momentos no disco como produtor e compositor.

Próximo ao encerramento do disco, “Don’t get the deal” segue a estrutura caótica das outras faixas já citadas, com um dueto entre Bea e Jacob Bugden — o guitarrista presente no disco e é interessante a forma como as vozes se complementam enquanto tentam ressoar uma impressão de bossa nova que é uma das influências para o disco. Influência que também aparece em “the perfect pair”. Depois, temos o primeiro e único featuring do disco “Tinkerbell is overrated”, ao lado da querida PinkPantheress, que faz uma aparição relâmpago praticamente. Entretanto toda a produção da faixa é feita respeitando essa junção, mesclando a personalidade das duas artistas perfeitamente, mas que ficam meio desconexas de todo o resto do disco.

A faixa final é “You’re here that’s the thing” não é um grande encerramento, mas proporciona a sensação que a artista quis trazer. Sabe aquela música que começa a tocar assim que um filme acaba? Aquela que acompanha os créditos do fim de um coming-of-age ou de um drama adolescente entre amigos. É essa, essa é a música. Mas tirando esse sentimento, a canção não chama atenção e encerra o disco de uma forma meio ok, o que vou ouvir agora?

Beatopia é uma mistura do dreamy pop com alguns realces de um pop ao lado de riffs ótimos de guitarras, mas que erram em letras desinteressantes e faixas que não aproveitam dessa característica. Sem uma linearidade na sequência das faixas, o disco pode parecer uma montanha-russa entre faixas animadas, bagunçadas e faixas lentas com um toque de romance reciclado. Mas ainda assim, momentos como “the perfect pair”, “Talk” e “See you Soon” se distanciam e são as canções que mais pesam e ganham notoriedade na discografia da artista, sendo uma inovação de seus trabalhos passados e uma inspiração para seus próximos projetos.

Beatopia
beabadoobee
2022
Dirty Hit
Dreamy Pop, Indie Pop

6.8


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.