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Big Time de Angel Olsen é um compilado de dor e amor, ao longo de uma viagem entre o passado, presente e futuro (Review)

Em seu sexto disco, a artista explora um lado country, mas sem abandonar seus traços tristes e excêntricos

Publicado em 15 de junho de 2022, por Lançamentos, Reviews

Angel Olsen é uma cantora estadunidense de 35 anos que conta, atualmente, com seis trabalhos em sua discografia, sendo Big Time o mais recente, lançado em 3 de junho. A cantora teve seu grande destaque no ano de 2014 com o álbum MY WOMAN, composto por canções como “Shut Up Kiss Me”, “Never Be Mine” e “Sister” — todas ótimas e viciantes, produções que refletem o jeito característico da artista.

A maneira de cantar, a leveza e sua voz, que consegue ser delicada, desleixada e forte ao mesmo tempo, são particularidades que cativam quem conhece a artista. Os instrumentos são sempre impressionantes e, ao mesmo tempo, sutis em suas canções. Seu último disco, Whole New Mess, foi aclamado pela crítica e conta com canções de seu projeto anterior: All Mirrors (disco que fez eu me apaixonar pela cantora), mas, dessa vez, rearranjado de forma intimista. Ainda em 2021, a artista compilou cinco covers de canções dos anos 1980, como “Forever Young” e “Safety Dance”, que não foram tão interessantes, mas ainda assim, vale a pena citar.

Em 2022, a artista retornou com seus instrumentais e vocais únicos, com mais letras arrasadoras e destruidoras de corações. Sem mais delongas, o álbum Big Time é aberto com o gracioso lead-single “All The Good Times”. A faixa é repleta de elementos novos, como o estilo country e folk em conjunto de uma pegada rock. As letras dispensam avaliações e dão a sensação de estar iniciando uma nova jornada, deixando algo para trás.

A artista se assumiu queer não há muito tempo, e a faixa título expressa e busca transcender as barreiras do amor unicamente. Segundo a cantora, a canção é “sobre as etapas e os processos vivenciados desde o momento em que não nós expressamos totalmente, até o momento que atingimos nossa liberdade” — falando sobre gênero, amor-próprio e autoaceitação.

Além disso, Big Time trabalha muito com as ideias de tempo em todas as faixas. Ao fim do disco, frases do começo ganham outros contextos e sentidos, e é esse o propósito. Angel consegue falar sobre seu passado, futuro e presente facilmente ao longo de todo o projeto, de forma singular e estonteante.

Isso fica bem claro em “Through The Fire” e “Dream Thing” — um dos destaques — em que, apesar de parecer uma simples história contada, os tempos ficam de certa forma confusa, mas sem perder o sentido. A voz de Olsen aqui é comovente desde os primeiros segundos, assim como em “All The Flowers”, faixa na qual ela se declara jamais imaginando que o amor aconteceria para ela (ao mesmo tempo que externaliza feridas pessoais).

Como dito, o amor-próprio aqui é muito valorizado, e em faixas como “Ghost On” e “Right Now” (linda música para representar nosso mês do orgulho LGBTQIA+), a artista parece ser bem direta quanto ao que ela deseja para seus relacionamentos futuros, sempre colocando si mesma como prioridade em momentos como:

And I don’t know if you can take such a good thing coming to you
And I don’t know if you can love someone stronger than you’re used to

Ou

I need to be myself
I won’t live another lie
About the feelings that I have
I won’t be with you and hide

Tristemente, em 2021, seus pais faleceram e muito do disco reflete sua dor do luto. “This Is How It Works” representam uma pequena fração de suas conversas com sua mãe pelo telefone enquanto discorre sobre suas mágoas e amarguras.

“Go Home” é provavelmente a música que mais me remeteu à algumas faixas do All Mirrors — parece até um descarte, se conectando em alguns momentos até com “Chance”, talvez por sua estrutura não tão linear e com momentos grandiosos e explosivos. Mas aqui, foge da coesão do estilo folk e “confortável”, trazido pelas canções anteriores.

Depois de ter abandonado algumas dores em “Through The Fire” (seu encerramento é composto por um momento surpreendente e indescritível), chegamos ao fim do disco com “Chasing The Sun”. A compositora já é conhecida por saber amarrar histórias e terminar seus projetos de maneira primorosa, e não é diferente aqui. Quase como um filme passando em sua cabeça, é possível visualizar tudo que a compositora descreve aqui, como: escrever uma carta para alguém do quarto ao lado ou passar o dia fazendo nada com aquela pessoa.

O disco conta com um filme, dirigido por Kimberly Stuckwisch e Angel Olsen, que demonstra todas as emoções que a artista lidou durante esse período, elucidando tudo aquilo que é possível imaginar com suas composições. Você pode conferir ele logo abaixo:

Enfim, o disco encerra-se. Posteriormente, permaneci uns bons minutos refletindo minha opinião a respeito dele. É diferente. Definitivamente country e folk não é meu gênero favorito, mas Olsen entrega uma qualidade única, ao mesmo tempo em que surpreende ao tratar sobre temas complexos, como o tempo e o amor de forma entrelaçada. A artista consegue emocionar ao longo do disco e, com certeza, é um dos que marcarão presença nos melhores álbuns desse primeiro semestre, principalmente por sua profundidade e simplicidade ao abordar o luto, autoestima e visibilidade queer.

Big Time
Angel Olsen
2022
Jagjaguwar
Country, Folk, Alternative

8.3


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.