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CAPRISONGS reflete a criatividade de FKA Twigs (Review)

Fugindo dos seus trabalhos anteriores, FKA Twigs surpreende ao inovar e brincar com novos elementos em sua primeira mixtape

Publicado em 1 de abril de 2022, por Lançamentos, Reviews

Tahliah Debrett Barnett, mais conhecida como FKA Twigs, lançou sua primeira mixtape neste ano (2022) e foi uma das surpresas mais divertidas e gostosas que tivemos o prazer de conhecer. Antes de possuir uma mixtape em sua carreira, Twigs já contava com 2 álbuns majestosos, complexos e profundos que são muito aclamados pela crítica – por isso, um anuncio feito no dia 6 de janeiro a respeito de um novo trabalho da cantora, dançarina, produtora, escritora e atriz FKA Twigs deixou o mundo do pop ansioso para o que estava por vir.

CAPRISONGS foi lançado no dia 14 de janeiro de 2022 e, pra mim como fã, era o que faltava em sua discografia. Ao contrário de seus últimos dois discos – LP1 e Magdalene, seu novo projeto tem uma pegada mais divertida e descontraída e, mesmo que trate sobre temas como coração partido, é impossível não dançar ao som de algumas das faixas.

“ride the dragon” já abre o trabalho de maneira surpreendente e conta com a mesma letra usada para o anúncio do trabalho CAPRISONGS em suas redes sociais.

Hey, I made you a mixtape
Because when I feel you, I feel me
And when I feel me, it feels good.

Pra mim, a canção é surpreendente pela troca rápida no ritmo da música e porque, ao ouvi-la no fone de ouvido, pode parecer que os sussurros da artista estão saindo de dentro da sua cabeça. Mas ao mesmo tempo que essa intimidade é construída por meio desse artifício, o refrão é totalmente diferente e catchy.

Seguindo com “honda” – a faixa conta com o gênero rap e um beat obscuro, noturno que combina muito bem com o feat Pa Salieu. É maravilhoso ouvir o rap da FKA nessa aqui. Em “meta angel”, um dos pontos mais altos, somos agraciados pela voz angelical da cantora. O beat é diminuído depois de duas músicas animadas e a faixa começa com um áudio perfeito de pessoas conversando sobre autoconfiança. “meta angel” é uma faixa que fala sobre uma força que ajudaria a cantora a se guiar, uma espécie de esperança para os dias de hoje.

Um anjo diferente do que as convenções sociais pregam normalmente. A faixa possui elementos que lembram nossa queridíssima Charli XCX – principalmente no uso do autotune. O interessante dessa música, para mim, é a dualidade entre a doçura na voz e em seu beat mais pesado ao mesmo tempo.

A quarta faixa e primeiro single da mixtape – “tears in the club”, uma colaboração com The Weeknd, é a escolha perfeita para um lead-single. Desde a primeira ouvida, a música fica presa na sua cabeça e não podemos deixar de lembrar que a faixa conta com a produção da Arca. “oh my love” apesar de uma faixa que inicialmente não foi minha favorita, cresceu muito. A canção conta com elementos R&B trap e fala sobre a busca de uma conexão com um amante que não busca o mesmo que você. A maneira que a cantora se apresenta na faixa pra mim é muito gostoso de ouvir pela maneira provocativa e forte – contrastando com seus últimos trabalhos mais “submissos”. Sem contar com a mensagem de amor-próprio no outro falado.

Love yourself, know your worth, and
Fuck crying over these stupid boys that don’t even recognise the worth in themselves
Just tryna steal your youth

Em seguida, temos “pamplemousse” que na minha opinião, deveria ter se juntado com a faixa seguinte “caprisongs interlude (feat. solo)”. As duas canções não são ruins ou não memoráveis, mas ao ouvir o álbum, ela fica parecendo que é parte da interlude – e talvez ela seja mesmo né? O mais divertido aqui é o final falando sobre “Why Don’t You Love Me” – um feat da cantora com a Dua Lipa que foi performado no show virtual Studio 2054 em 27 de novembro de 2020. E ai, FKA quando que sai esse lacre?

Em “lightbeamers” muitos vão se identificar já que é pras mais belas e tristes. Deixando de lado as piadas, a faixa tem um passo não muito comum e pode parecer estranho – talvez por ter muitas partes faladas e não cantadas. A música não é pulável, mas também não foi uma das minhas favoritas. A mais esperada por muitos chega e não decepciona – “papi bones” com o feat da queridíssima Shygirl é perfeita. É dançante, é divertida, esteticamente e artisticamente as artistas combinam demais – parece que suas diferenças se complementam e o que elas tem em comum so fica melhor. De longe uma das melhores do álbum. Amo que no verso da Shygirl tem uma referência a música “papi pacify” de Twigs do EP2 lançado em 2013.

Eyes wide shut, we can rock till the morning
Papi got an itch I could pacify

“which way (feat. Dystopia)” é um pouco confusa. Ao mesmo tempo que ela parece uma interlude, ela não é. Com vocais e elementos contraditórios (não de forma negativa), eles não te levam a lugar nenhum. Talvez a mais fraca da mixtape. “jealousy (feat rema)” segue o gênero mais afrobeat que conta com uma produção muito forte e única. O artista nigeriano Rema faz seu featuring de maneira que combina muito com a voz de Twigs. O vocal dela aqui tá impressionante – como sempre, e a faixa se sobressai pela artista conseguir mesclar seu estilo comum com novos gêneros. A canção está hitando no TikTok (não sei se é só na minha bolha, mas eu vejo potencial, vão dar stream) e óbvio que tem dancinha, diva.

Em “careless (feat. Daniel caesar)” o ritmo desacelera e talvez seja a faixa mais desconexa da mixtape. O instrumental não segue os ritmos das outras canções e conta um piano não tão marcantes quanto outras produções; entretanto, os vocais tanto de FKA e de Daniel são demais. Com falsetes, melodias e harmonias, a faixa fala sobre entregar-se sem medo ao seu amor. Seguindo para “minds of men”, FKA desmantela o patriarcado, fala sobre igualdade de gênero e a mãe natureza enquanto pede para mandar o passinho do bandido. Sim, a faixa conta com um sample brasileiro e a presença da influência do funk brasileiro está presente nela inteiro (parabéns Anitta!).

Chegando ao fim do trabalho, temos mais uma interlude que é seguida de “darjeeling” um featuring com Jorja Smith e Unknown T – como se não bastasse tudo que ela já serviu aqui, ela serve de novo. O feat aqui é feito com maestria e todas as partes da canção são relevantes e o suficientes pra serem marcantes. A produção pode não ter elementos surpreendentes, mas ela é feita delicadamente. Os vocais da Jorja combinam muito bem com a FKA, ansioso para ver mais dessa dupla.

Na faixa final temos um agradecimento ao amante de Twigs por ajudá-la a sobreviver até os dias de hoje; “thank you song” conta com a produção novamente de Arca (essa mulher não cansa de trabalhar?). A faixa é linda e emocionante e encerra a mixtape de maneira excelente.

Apesar de ser seu trabalho menos coeso até hoje, CAPRISONGS faz seu trabalho da maneira certa. Ainda mais por ser um trabalho que a própria artista considerou ser uma diversão. Se libertou das amarras de sempre fazer seu trabalho algo tão sério e monótono, mas ainda conseguiu trazer a qualidade que a artista sempre entregou. Talvez por querer fazer coisas diferentes que não necessariamente precisavam ser coesas quanto seus últimos trabalhos a nomeou como uma mixtape, exaltando toda sua criatividade artística e versatilidade.

CAPRISONGS
FKA Twigs
2022
Young, Atlantic
Pop, R&B

8.1


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.