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Dance Fever, de Florence + The Machine, é o culto à bruxaria que nos leva a dançar (Review)

Depois de alguns anos sem álbuns novos, a banda retorna relembrando suas essências avançando em uma nova direção

Publicado em 24 de maio de 2022, por Lançamentos, Reviews

O novo disco de Florence + The Machine intitulado Dance Fever, lançado no dia 13 de maio, é descrito pela cantora Florence Welch como um conto de fadas em 14 canções. E é a descrição perfeita para um álbum que reflete toda a essência da banda depois de aproximadamente 15 anos.

Dance Fever, quinto trabalho em estúdio da banda, teve vários singles lançados previamente com um trabalho visual impecável, que já mostravam como o projeto da banda não seguiria a mesma vibe do último trabalho High as Hope. O lead-single “King” — faixa que abre o disco, é poderosíssimo e extremamente impactante, escolha perfeita para iniciar uma era. Todo o disco foi feito ao lado do artista visual Autumn de Wilde, que representou muito bem todo esse ar de feitiçaria da banda e da cantora nos clipes e trabalhos da era.

Temas como ansiedade, depressão e problemas desenvolvidos durante a pandemia são relatados aqui e destacam-se em “Free”. A canção tem elementos muito característico de outros trabalhos da banda, mas numa versão inovadora. Quase como uma “Shake It Out”, o ritmo animado e aflito convidam o espectador a dançar e conduz até a liberdade que ganhamos ao dançarmos nossos sentimentos para fora. Imagino que será otima de ouvir-se numa festa, mas ainda não vivenciei pra saber. Toda sua construção ao longo de quebras rítmicas e as diferentes camadas de batidas, deixam as viúvas do Ceremonials em êxtase!

Um pequeno poema dá inicio a faixa “Choreomania” que encapsula perfeitamente o nome do disco. Referindo-se a epidemia de dança de 1518 — uma histeria coletiva de dançomania que aconteceu na França, em que pessoas dançaram sem descanso por dias por aproximadamente um mês e a grande maioria das pessoas morreram em consequências de ataques cardíacos, derrames e/ou exaustão. Apesar de poder ser relacionada com momentos decorrentes da pandemia de COVID-19, a canção foi escrita antes desse período.

Com um verso doloroso que fala sobre viver em suas próprias fantasias para esquecer a realidade, “Back in Town”, produzida por Jack Antonoff desacelera o ritmo e é praticamente um tapa na cara. A voz da cantora esta estonteante e conta com uma produção bem simples, mas que representa bem a dor descrita.

Escrita como uma mensagem irônica, “Girls Against God” expõe alguns impactos que a pandemia refletiu na carreira de Florence e de sua vida. A canção é encerrada com o seguinte outro ao longo de risadas demoníacas:

I met the Devil You know
he gave me a choice
A golden heart
Or a golden voice

Em tradução não literal, Florence diz que conheceu o diabo e ele a deu duas escolhas: um bom coração ou uma boa voz. A partir disso, o disco segue um aspecto mais sombrio que já estava presente, mas apenas no fundo das produções.

Indo a “Dream Girl Evil”, a produção aqui encaixaria-se facilmente no disco Ceremonials e é uma resposta da artista para o que a sociedade espera dela como mulher. Apesar da escrita interessante, ela não é o suficiente para manter o interesse com uma sonoridade um pouco tediosa que fica um pouco mais intrigante a partir de sua bridge e encerramento.

“Prayer Factory” é uma interlude que nós leva até um dos pontos altos do projeto. “Cassandra” conta a história mitológica grega de Cassandra, que foi amaldiçoada por Apollo para contar profecias verdadeiras que nunca seriam acreditadas. Para a cantora, a faixa pode relacionar-se um pouco sobre como seus trabalhos anteriores como “June” pareciam antecipar os acontecimentos futuros de isolamento, mas não eram acreditados. A produção da faixa é espetacular, assim como a lírica e tudo que a compõe.

Em seguida “Heaven is Here” é como uma representação de toda a alegria, fúria e luto que a banda sentiu durante o período de lockdown. Que nos leva até o ápice da loucura em “Daffodil”. No refrão da faixa temos apenas a repetição de seu título, que é o nome de uma planta conhecida como narciso e é a flor favorita do pai da cantora. O encerramento da canção lembra momentos de tensão quando se ve um trailer de filme de ação e suspense e é simplesmente MÁGICO e deixa qualquer um sem fôlego para continuar.

Embora seja boa, a faixa seguinte “My Love” parece descoesa nesse momento do disco tão tenso e gracioso. Na minha opinião, ela se encaixa bem melhor nos primeiros momentos do disco já que conta com uma produção mais descontraída, e acaba perdendo o valor aqui soando como uma canção extremamente genérica e feita para vender.

A interlude seguinte “Restraint” aparece no inicio do clipe de “King” é arrepiante e assustadora, mas em seguida temos a doce e excruciante “The Bomb”. Quase como uma representação de nós que possuímos a vênus em aries, Florence relembra dores já contadas por ela em trabalhos passados como “No Choir” e “St. Jude” sendo uma experiencia única e nostálgica para os fãs da artista.

Para enfim, encerrar o disco com uma pequena homenagem a Elvis em “Morning Elvis” e sobre a influência do artista nas perfomances da cantora. A canção é bem confessional e intima, tratando sobre temas como a sobriedade, sendo ótima para fechar o disco, porém não segue a mesma grandiosidade de outras faixas apresentadas aqui, mas ainda assim é impressionante. A cantora praticamente confirma pediu ao diabo a voz magnifica ao invés de um bom coração (piadas a parte).

Para encerrar, o disco ganhou a versão deluxe que conta com a adição de cinco performances acústicas de algumas faixas que compõem o disco e parece que essa era será trabalhada por um bom tempo. Dessa forma, estamos ansiosos aguardando novos clipes que detalharam toda a historia que Florence quer nos contar.

Dance Fever é um ótimo representante para quem dançou todas as suas tristezas durante o lockdown trancado em seu quarto. O quinto disco da banda é repleto de aspectos que tornam a banda especial e é apresentado ao longo de muita maturidade. Fugindo de aspectos comerciais, o trabalho visual aqui é feito de forma plena, no qual a banda não se preocupa em hitar ou vender, mas apenas divulgar sua arte. Mesmo que todas as faixas não sejam relevantes igualmente, o trabalho proposto e exibido é impressionante e com certeza algo a ser destacado neste ano.

Dance Fever
Florence + The Machine
2022
Polydor Records
Indie Pop, Indie Rock, Alternative Pop

8.7


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.