Dirt Femme de Tove Lo é inovador, delicioso e íntimo (Review)
Depois de três anos sem discos novos, Tove Lo lança álbum com alguns hits, mesclados entre altos e baixos
Publicado em 27 de outubro de 2022, por Carlos Bueno • ReviewsTove Lo marcou o coração de muita gente com o seu famoso single “Habits (Stay High)” lá em 2014. Apesar de não ser uma das melhores faixas de sua discografia, foi a que fez a cantora e compositora sueca estourar na época. Hoje, cerca de 8 anos depois, a artista já conta com cinco discos lançados, sendo seu último lançamento feito na semana passada com o quinto disco de estúdio Dirt Femme. Mais maduro que seu debut Queen Of The Clouds e com certeza mais audacioso que seu álbum anterior Sunshine Kitty, Dirt Femme é o primeiro trabalho da artista sob sua própria gravadora Pretty Swede Records e talvez essa liberdade tenha permitido que a artista abranja sua feminilidade e liberdade.
Ansiosamente o disco é aberto com o lead-single “No One Dies From Love“, em que a artista está debulhando-se em desentendimento sobre um termino e também a intensidade da dor — ela soa como uma pessoa com Vênus em áries. A cantora recusa os padrões de um relacionamento esperado para a mulher, ela rejeita a submissão e a vida planejada com filhos, a vida no subúrbio e de ser uma “Stepford wife” em “Suburbia” que é acompanhada do synth presente em todo o disco e permanece na mesma batida ao longo da canção, sem soar cansativa.
Em “2 Die 4”, a cantora utiliza da interpolação com o instrumental de “Popcorn” de Gershon Kingsley, uma canção de 1969. Essa interpolação já foi feita algumas vezes e até mesmo alguns fãs reconheceram por conta da faixa “Popcorn” do Crazy Frog. Mas aqui no disco, ela é a que mais assemelha à um grande hit. Ela cria uma tensão até chegarmos ao refrão, que libera toda a energia carregada.
Os temas aqui são a diversão e o romance, que tem continuidade na faixa seguinte “True Romance“. Diminuindo totalmente o BPM, Tove Lo em seu momento mais introspectivo do disco, traz uma canção de amor, uma balada muito delicada e íntima — diferente de suas outras. A faixa é inspirada no filme “Amor à Queima-Roupa” (True Romance) de 1993, em que uma pessoa está disposta a quebrar regras e leis para estar com seu parceiro, que é explicitado no refrão da faixa.
We are meant to be, I’d die for love and loyalty
In danger of a true romance
A faixa não é o único momento lento do disco, mas é a que mais chama atenção. Em “I’m to Blame”, temos uma balada típica, no qual a cantora mostra que esse amor verdadeiro já parece ter encerrado, mas a artista ainda mantém suas esperanças naquele relacionamento que acabou. Tove Lo é bem objetiva em suas palavras, e apesar desse termino, ela já prepara o ouvinte antes de qualquer coisa na faixa “Cute & Cruel” — uma parceria com First Aid Kid. Ao longo das harmonias, a cantora tenta mostrar o que o amor faz ao ser humano, de forma crua, mostrando a verdadeira face do que é o amor.
Mas em Dirt Femme, a artista também aborda temas pessoais como as dificuldades que ela lidou em relação ao seu corpo na faixa “Grapefruit”, um dos pontos altos do álbum. Tove Lo ao seus 15 anos teve de lidar com distúrbios alimentares na qual a artista via dificuldades em enxergar o seu verdadeiro corpo, sempre tentando entrar numa dieta cada vez menos saudável. Dolorosa e sem parecer, a quinta faixa explicita esses obstáculos que ela vivencia mesmo depois de todos esses anos e como ela batalha com sua dismorfia corporal.
A artista contou com a produção de SG Lewis em “Call on Me” e “Pineapple Slice” — pra quem não conhece, ele tem participação em hits como “Hallucinate” da Dua Lipa. Em “Call on Me” é impossível não enxergar a influência dos dois últimos discos de The Weeknd. O disco aqui aparece, mas mesclado com os elementos do synth utilizados ao longo do Dirt Femme. A faixa parece ter os mesmos componentes de “2 Die 4”, mas respeitando suas diferenças. Em “Pineapple Slice”, temos vislumbres da antiga Tove Lo, a do grel* d*ro. Não vou me alongar, mas tudo aqui é muito bem executado.
Em “Attention Whore”, além da cantora sueca, também temos a presença vocal do Channel Tres que traz um certo calor pra canção. Ele parece estar propondo a atenção que a artista tanto pede e a construção dos dois em conjunto das batidas é feita organicamente, sendo extremamente prazeroso ao chegarmos no refrão. A artista disse que a música é sobre quando você apenas está sendo meio ciumenta, invejosa e pir*nha! Particularmente, é minha favorita.
O disco é encerrado com “Kick In The Head” e em seguida “How Long” e as duas deixam um pouco a desejar. “Kick In The Head” parece utilizar de um sample da segunda faixa “disco tits”, de seu terceiro disco de estúdio BLUE LIPS e não entrega quase nada interessante ou cativante. “How Long” faz parte da trilha sonora da série original da HBO — Euphoria e dá uma sensação de descontinuidade em relação as outras faixas do disco. Apesar de possuir os elementos synth trazidos, as histórias não se conectam, já que o proposito está mais relacionado com a história de Nate e Maddy (da série) do que com o álbum em si.
Apesar de alguns pequenos problemas, Tove Lo consegue abordar diversos temas, fugindo de seu estereotipo de sexo & drogas. Apesar dos temas aparecerem na superfície, o foco não é mais esse. A artista inova quando comparado aos seus trabalhos anteriores e mantém uma coesão sonora por todo o disco sem soar enjoativo ou repetitivo com exceção de “Cute & Cruel”.
Mas Dirt Femme peca em alguns deslizes como em “Kick In The Head” que não brilham tanto quanto “Call On Me”, “Grapefruit” ou até mesmo “Suburbia” — que de forma íntima e sem explosivos, consegue cativar. Para representar toda a era, assim como nos discos Lady Wood e BLUE LIPS, a artista fez um trabalho todo visual que está disponível no YouTube, permitindo entendermos toda a profundidade e visualizar as sensações que ela traz aqui.
E você, o que achou do disco?

8.0