EMOTION: Carly Rae Jepsen serviu emoções quando ninguém entendia sobre (Review)
Extremamente memorável e único no mundo pop, terceiro disco da cantora é um dos maiores presentes que ela poderia ter entregue em 2015
Publicado em 14 de dezembro de 2022, por Carlos Bueno • ReviewsCarly Rae Jepsen, aos seus 30 anos de idade, conseguiu encapsular todas as emoções sentida por gays e mulheres ao se apaixonar ao longo de 15 faixas. Pra quem não conhece, ela é uma cantora e compositora canadense que estourou no mundo da música com a faixa: “Call Me Maybe” que faz parte de seu segundo disco Kiss lançado em 2012. Sua discografia conta com 6 discos de estúdio e um EP que dá continuidade ao disco que vou revisitar hoje, o EMOTION, e discorrer sobre. Seu último trabalho foi The Loneliest Time, que foi lançado neste ano de 2022.
Apesar de tantos trabalhos em sua carreira, os fãs da cantora consideram seu terceiro disco (EMOTION), lançado em 2015, não apenas o melhor de sua carreira, mas também o mais relevante da artista para o mundo pop no geral. Com tantos hits EDM e sem personalidade naquela época, Carly continuou fazendo seu trabalho seguindo seu coração e conseguiu entregar diversas obras primas e faixas majestosas. A artista pode ser considerada para alguns, de certa forma, repetitiva, básica e enjoativa, mas não é verdade aqui.
O disco é aberto com trompetes que te chamam atenção desde o primeiro momento e provavelmente está na lista dos inícios de faixas mais icônicos do mundo pop. “Run Away With Me” marcou uma geração. É possível criar uma faixa que soe exatamente como um coração quando está apaixonado? A resposta é sim e está aqui. Seja pela seu refrão explosivo, pela batida ou pela voz estonteante da artista que consegue flutuar em vários tons aqui.
O disco não é composto por apenas faixas tão cativantes assim e podem te assustar já na terceira faixa. “I Really Like You” é provavelmente a pior canção aqui, e é confuso que ela foi a escolhida para ser o single que daria continuidade a carreira da artista após o hit fervoroso de “Call Me Maybe”. A quantidade de vezes que a cantora diz que realmente gosta de você é um pouco excessivo, mas o grande problema pra mim dessa faixa, foi que ela tocava na rádio, e eu peguei asco dessa repetição.
A faixa título dá continuidade as sensações proporcionadas na faixa que abre o disco de forma menos acentuada e mais calmas. A produção menos explosiva te leva a momentos íntimos em que Carly está perguntando a seu parceiro sobre a fantasia criada pela suas emoções. Na ponte, quando ouvimos a frase “What if I turn the lights right down?”, de fato a sonoridade faz parecer que as luzes se apagaram. “Let’s Get Lost” tem uma produção que se assemelha à “Emotion”, entretanto, a voz da cantora e os trompetes mostram sua unicidade. Ao pedir para tomar o caminho mais longo para casa (“Baby let’s take the long way home”) a frase soa como o melhor convite e também como se a artista tivesse implorando de uma forma muito doce, e essa dualidade é o que mais marca a canção.
Um dos grandes aspectos importantes para esse disco, foi ter trazido de volta o Dance Pop de forma tão gostosinha. Isso fica evidente na faixa “I Didn’t Just Come Here To Dance”. O álbum todo no geral se encaixa no gênero, mas aqui é onde ele brilha de fato. A artista também trabalha o Synth Pop no álbum todo, o que pode lembrar até algumas canções da Kylie Minogue.
A sequência “Gimmie Love” e “All That” pode mudar a vida de apaixonados que não entendem a reciprocidade do outro. A maneira como a artista é capaz de falar sobre amor é tão especial e diferente, ela realmente sente da mesma forma como nós LGBTs! Brincadeiras a parte. Ao pedir por amor e toque na quarta faixa, a cantora tem um toque em sua voz que ecoa como se ela estivesse derretendo de amor. A ponte com harmonias torna tudo muito especial e explosivo, e tudo isso ao longo do momento em que a voz da Carly está mais ardida. Em seguida, “All That” parece dar continuidade a essa sensação de “derretendo de amor” mas de forma muito dedicatória (antecipando o seu quarto disco Dedicated) e é a primeira balada do disco. Ela está tão apaixonada mas ela ainda precisa da confirmação de seu parceiro e que ele mostre se ela é tudo aquilo.
Jepsen também consegue entregar uma das faixas mais inusitadas e especiais ao fazer piada e tentar mentir para si mesma em “Boy Problems”. Sua amiga tá cansada de ouvir seus problemas com aquele garoto que nunca tem solução e já que vocês terminaram, você não se importa quando vê pelo ponto de vida dela. O que é uma completa mentira ao ver pelo lado de Carly, e essa ironia da artista traz uma visão da autossabotagem que cometemos após um termino, muito divertida e sem o clichê de ser uma balada.
O álbum além das faixas icônicas já citadas, conta com alguns hinos também. “Your Type” é um deles e marcou, sem nenhuma dúvida, minha adolescência. A crescente produção ao lado de uma letra tão devastadora que descrevem exatamente o sentimento de não reciprocidade. Ao cantar o pré-refrão a cantora expõe uma vulnerabilidade que não “deveria”, apesar de já aceitar que nada mais vai rolar entre eles dois. Mesmo ela fazendo de tudo por ele, e até arranjando mais tempo, ela não é o tipo dele e nada mais que uma amiga.
I love you, I’m sorry, I’m sorry, I love you
I didn’t mean to say what I said
I miss you, I mean it, I tried not to feel it
But I can’t get you out of my head
Chega de depressão! Em “LA Hallucionations” a cantora muda toda essa sonoridade e traz o Synthpop e Electropop enquanto fala sobre como a fama não pode comprar sua felicidade. E nenhuma luxuosidade é capaz de fornecer o que ela tinha antes dessas alucinações de Los Angeles. A produção aqui é muito diferente do resto sem fugir da sua coesão. Em seguida, na décima primeira faixa, “Warm Blood” traz um momento sexy e extremamente satisfatório. Os efeitos na voz da cantora trazem um quê muito distinto de até onde ela poderia ir, dando espaço pra produção brilhar mais que sua voz. As letras encaixam-se perfeitamente com toda a estrutura da faixa e é com certeza uma das surpresas mais apetitosas do disco.
A versão standard conta com apenas 12 faixas e encerra o EMOTION com o hino “When I Needed You” que mostra as influências dos anos 80 da artista. O disco todo é influenciado pela época, mas aqui as baterias, filtros e sintetizadores exploram isso mais ainda, até mesmo na maneira da artista cantar. Mas a faixa final pra mim é um hino por conta de sua letra em que ela finalmente aceita e entende que aquela pessoa que ela estava apaixonada não é merecedora do amor que ela tem pra dar. Onde ele esteve quando ela precisou de alguém? E essa realização é o que torna isso lindo.
Porém, na versão Deluxe temos 3 faixas a mais (“Black Heart”, “I Didn’t Just Come Here To Dance” e “Favourite Colour”). A última delas — “Favourite Colour” é uma das minhas músicas favoritas da Carly. É incrível as escolhas de palavras para a composição aqui e a forma como a música é construída. Dá a sensação de tantas cores e profundas que se misturam e é o que define a sensação de amor por alguém — novamente, de uma forma sinestésica. O álbum em um geral pra mim brilha em várias cores e o moletom que a artista está vestindo na capa do disco reflete exatamente isso. Quando você está cheio de emoções relacionadas ao amor, você fica colorido, você fica repleto de cores, um arco-íris ambulante e aquela pessoa é sua cor favorita.
Mesmo com “I Really Like You” na tracklist, o EMOTION marcou a minha geração de LGBTQIA+ que se identificaram com essas descrições do amor. Tanto nas partes doloridas (“Your Type”) quanto nas partes felizes (“Run Away With Me”). A artista ainda fez um compilado com algumas faixas que fariam parte do álbum e chamou de EMOTION SIDE B que também conta com muitos hits. Pra quem não conhece o trabalho da artista ainda, esse álbum é o disco certo para começar se você é um fã assíduo de Pop e de suas vertentes. Ela consegue trabalhar com maestria os variados ritmos, mostrando influências antigas mas também criando coisas novas — que influenciaram a nova geração de artistas também (Até a Rina Sawayama ja citou Carly em uma de suas músicas) e continuará influenciando.

9.6