HOLY FVCK: Demi Lovato volta ao rock mais madura, interessante e substancial (Review)
Novo trabalho da artista mostra uma Demi completamente diferente das vistas em seus primeiros discos, ainda que com a sonoridade muito parecida
Publicado em 22 de agosto de 2022, por João Schiavo • Lançamentos, ReviewsA onda de punk rock que assolou a música pop nos últimos anos segue fazendo história, e trazendo para seu novo capítulo uma velha conhecida do estilo: Demi Lovato, que estreou nos charts cantando produções cheias de guitarras e baixos à là canções de trilhas sonoras da Disney — sua também emissora na época — retorna ao estilo que a lançou, dessa vez mais certa de si, com muito mais bagagem e maturidade.
HOLY FVCK, o novo álbum da artista, foi lançado na última sexta-feira (19), mostrando uma Demi completamente diferente das vistas em Don’t Forget e Here We Go Again, seus dois primeiros discos; respectivamente, ainda que com a sonoridade muito similar à apresentada nos trabalhos.
Mais inspirada e coerente do que nunca, após uma era bastante terapêutica (no último ano, Demi lançou o álbum Dancing with the Devil… The Art of Starting Over, o primeiro com sua carreira sob nova gestão e após um delicado episódio de uma grave overdose), a cantora parece ter se encontrado por completo musicalmente. Absolutamente todas as 16 faixas soam confortáveis e interessantes, com letras provocantes e produções refinadas.

(Island Records/ Angelo Kritikos/Reprodução)
Com uma extensa carreira de hits grudentos e canções pop que marcaram a última década e toda uma geração, Demi cativou muitos fãs através de sua honestidade e sinceridade quanto aos problemas pessoais. Desde sempre cantando e falando sobre saúde mental, autocuidado e superações, a artista retoma essas narrativas em suas novas composições, dessa vez, muito mais robusta e crua.
O lead single da era, “SKIN OF MY TEETH”, escancara essa temática logo na frase de início da canção, que faz alusão a manchetes tendenciosas sobre o tratamento de Demi quanto à dependência química. O primeiro gostinho da fase rock n’ roll de Lovato trouxe um clipe bastante inusitado, quase assustador: um prato cheio para os fãs de carteirinha.
Altamente aclamado pela crítica especializada, todo o corpo do disco recebeu elogios como “triunfante”, “ousado” e “cativante”. Inclusive, concordo plenamente com o apontamento da Pitchfork, que disse que “HOLY FVCK cumpre sua promessa de excesso de suor e angústia com uma turnê pelo pop-punk e gêneros adjacentes.” É ainda mais interessante o fato de que, através dessa maturidade, Demi descobre que sua voz encaixa-se perfeitamente no gênero adulto contemporâneo.
Obviamente, os vocais da artista ficaram bem posicionados em todos os gêneros pelos quais já se aventurou — inclusive no R&B — mas o pop rock/ pop punk se provou um look impecável para Demi vestir com unhas, dentes, sangue e blasfêmia. Inclusive, a faixa título capricha ao usar e abusar da heresia em sua construção lírica, característica também presente na capa do disco e na estética proposta para a era.
Indo muito além do que aquela energia de adolescente pop rock que muitas vezes é até inocente, aqui Demi Lovato quer que você saiba, de muitas formas, como ela se ferrou. Como sua história é coberta por questões e imperfeições, e principalmente: como ela está furiosa com todo esse processo. A raiva, a impiedade e a dor constroem todo o pano de fundo de HOLY FVCK, e suas músicas produzem a narrativa mais carismática e promissora da carreira da cantora.
Com a mixagem bem cuidada, todas as músicas foram produzidas por Oak, Alex Nice e Keith “Ten4” Sorrells, e a canetada de Demi em todas as composições, os destaques ficam por conta de “HAPPY ENDING”, “CITY OF ANGELS”, “HEAVEN”, “EAT ME” (parceria com Royal & the Serpent) e a balada final, a belíssima “4 EVER 4 ME”.
A gravadora Island Records, atual da cantora, tem cuidado da era com um certo descaso, investindo muito menos do que o material merece. o CD é um respiro de autenticidade misturado à uma maturidade artística indiscutível, e deveria receber mais atenção dos responsáveis pela agenda de divulgação e marketing. Com os direcionamentos certos, HOLY FVCK pode facilmente entrar no imaginário popular – poiS no hall de melhores discos das artistas de sua geração, certamente já entrou.

8.0