Jack Harlow não promete nada e entrega o insosso “Come Home The Kids Miss You” (Review)
Sem personalidade, o rapper soa mais desesperado por números que preocupado com a qualidade do trabalho
Publicado em 14 de maio de 2022, por João Schiavo • Lançamentos, ReviewsSem graça. Insípido. Fraco. Aguado. Destemperado. Insuficiente. Ruim.
Essas são só algumas das características de Come Home The Kids Miss You, novo disco de Jack Harlow.
Lançado na última sexta-feira (6), o segundo trabalho de estúdio do rapper é, no mínimo, decepcionante. E digo isso sendo gentil.
Aguardado pelos fãs e pela crítica, que apostava algumas fichas no artista desde sua parceria com Lil Nas X, o álbum mais parece um apanhado de descartes de outros rappers que um trabalho próprio. Não dá vontade de ouvir mais vezes, não orgulha nem a produção e deixa a desejar em todos os quesitos. Nem as parcerias milionárias — o disco traz Drake, Justin Timberlake, Lil Wayne, Pharrell Williams (e até um sample da Fergie) — conquistam o ouvinte.
Os 45 minutos de duração do CD mais pareceram uma sessão de tortura pessoal, onde a grande arma era o tédio. Não há qualquer resquício de personalidade em absolutamente nenhuma das 15 canções. Se o disco fosse reduzido à metade e se transformasse em EP ainda assim seria terrível.
De ruim a pior
Começando pela horrorosa intro “Talk Of The Town”, que é uma bagunça sem ritmo e sem energia para ser a faixa pontapé do disco, onde por 1:22 o rapper tenta, tenta e tenta construir algum verso cativante, mas falha miseravelmente – e a música nem tem duração suficiente para tamanho fiasco. Ela seria um desastre maior se a segunda canção do álbum, “Young Harleezy”, fosse boa — o que não é.
A régua de qualidade vai abaixo do esperado já no começo do trabalho, que tenta mascarar a falta de originalidade de Harlow através de batidas construídas para virar challenge no TikTok. Talvez na rede social ele consiga algum crédito quando uma das péssimas músicas tornar-se viral, do contrário, o disco está fadado ao esquecimento absoluto, o que é ótimo para os fãs de cultura pop.
As faixas seguintes – incluindo o single “First Class”, que conta com a participação de Anitta no clipe — seguem o caminho da falta de graça. A música que leva o nome de Dua Lipa deveria ser encarada como ofensa à cantora. Aliás, não só a ela, mas a todas as fraquíssimas citações, analogias e referências que o álbum traz.
Feats poderosos em músicas ineficazes
Com a exceção da canção com Justin Timberlake, que é a menos desagradável do álbum, todos as participações grandiosas são mal utilizadas no corpo do trabalho. “Movie Star”, parceria com Pharell Williams, não só é escrita pelos dois como produzida. Sério que NINGUÉM da equipe responsável por essa bomba ponderou que era uma tragédia o resultado final?
Não é muito diferente da música com Drake, “Churchill Downs”. Apesar de um vocal feminino suave em algumas passagens, a produção é extremamente imemorável. Jack Harlow se perde na tentativa de parecer sério, mas se torna uma piada e arrasta o rapper de “Hotline Bling” para o mesmo buraco.
Com nenhum destaque a ser considerado, na minha opinião, Come Home The Kids Miss You é um dos capítulos mais tenebrosos do cenário musical contemporâneo. Entra para o hall de esquecíveis discos de rap com o The End of and Era, de Iggy Azalea, e, para nossa sorte, não prosperará no coletivo.
Basicamente, o carisma e o recente hype em cima do nome do artista não sustentam o disco, que poderia simplesmente não existir. O crivo dos executivos foi mais falho que a capacidade de Harlow em produzir free-styles de qualidade, e sabemos que não é uma questão pessoal com o rapper: o disco é, simplesmente, muito ruim. E torcemos para que o futuro do artista seja melhor que o presente.

1.2