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Karol Conká se livra do passado, trabalha sua cura e abraça a reflexão em Urucum (Review)

A Mamacita reflete seus erros, acertos e escolhas através de um trabalho potente, com referências musicais valiosas.

Publicado em 3 de abril de 2022, por Lançamentos, Reviews

Karol Conká, um dos nomes mais polêmicos e controversos dos últimos tempos, lançou na última quinta-feira (31/03) o seu terceiro álbum de estúdio, batizado carinhosamente de Urucum. Significando a cura após um ano atípico e turbulento, causado principalmente por sua participação inesquecível no Big Brother Brasil 21, Urucum é um convite à vulnerabilidade, ao reconhecimento e ao futuro. Com referências musicais ricas, Karol abandona seus looks do passado e discorre sobre sentimentos profundos ao longo de onze faixas.

Jaque Patombá é passado. Mamacita é o futuro!

“Fuzuê”, a intro do disco, é um aviso/ alerta para o futuro e o que ele prepara. Para o storytelling do álbum, a canção anuncia a viagem cheia de referências valiosas que Karol e o produtor RDD embarcaram após o caos generalizado que se tornou a vida da Mamacita no primeiro semestre do último ano. Animada e com mensagens agridoces, a faixa traz uma proposta inspirada no baião, um ritmo popular e muito brasileiro. Um detalhe interessante é que “Fuzuê” parece ter saído direto do excelente Batuk Freak, disco de estreia da artista curitibana.

Seguindo rumo ao delicioso samba reggae de “Se Sai”, encontramos uma Karol reflexiva, em alerta e, ao mesmo tempo, muito cativante. A produção é impecável e a composição afia ainda mais a língua de chicote da Mamacita, da melhor forma possível.

A terceira faixa do álbum, a já conhecida “Mal Nenhum”, é um trap de excelência com toques leves de pagodão baiano, onde a artista assume uma mira em sua testa, colocada pela própria após a polêmica no reality, mas absurda e gravemente inflamada pelo público após a sua saída. Com versos intensos que explicitam passado, sobrevivência e recuperação, Karol entrega uma das faixas mais interessantes do trabalho.

A força do hip hop, ritmo do coração da artista, está presente com maestria em “Cê Não Pode”, uma canetada que mescla ótimos elementos de rock com uma composição imponente, onde a artista retoma sua fúria positiva e anuncia para quem quiser ouvir: ninguém vai derrubar Mamacita. Ela pode cair, mas ela ressurge mais robusta do que nunca. Com ela, cê não pode, não.

(Des)cancelada

Uma das faixas favoritas dos fãs até agora, “Calma” é um contraponto na metade do disco. Livre, leve, solta e com um sambinha despretensioso, Karol canta sobre reencontrar a paz interior e a tranquilidade, mesmo no meio da perturbação exterior.

Após a leveza, encontramos uma reflexão potente em “Vejo o Bem”, faixa que ganhou visuais polidos e bem pensados, marca registrada de Karol. Ritmando sobre positividade e novos olhares para si e para o futuro, a música conta com um refrão otimista e versos intensos.

“Sossego” é como uma ‘parte 2’ da proposta de “Vejo o Bem”: ambas falam sobre o desejo de encontrar algo melhor no presente e no futuro, sempre olhando para cima e desejando que os demônios do passado nele permaneçam. A produção pincela elementos de funk com trap, oferecendo força e recuperação através de uma excelente composição.

Chegando na última parte do álbum, “Slow” é um pop soul alternativo, que capricha nas referências mas não entrega profundidade na composição. É uma filler peso pena, que até agrada, mas não agrega em nada no álbum.

Impecabilidade, descancelamento e maturidade: Karol Conká ressurge mais forte do que nunca. (Jonathan Wolpert/Reprodução)

Em “Por Inteira”, Karol resgata o afrobeat para cantar uma música bem fim de tarde com drink na mão, perfeita para ser escutada em um sunset com os amigos. A faixa mais low profile do disco é também a que menos contribui na composição reflexiva, mas talvez isso seja proposital. Aqui, Karol apenas flutua e te leva junto.

A penúltima música, “Subida”, também é conhecida dos fãs e tem um clipe simples mas extremamente bem produzido, com uma fotografia disruptiva, cores vivas e visuais atraentes. Pronta para decolar, Mamacita nos presenteia com esse delicioso reggae, que se mistura aos elementos do pagode e atualiza o status de artista que Karol possui.

Fechando com chave de ouro, temos A música do disco, “Louca e Sagaz”, parceria com WC no Beat. Muito aguardada e pedida no último ano, a música ficou conhecida quando Karol ainda estava no BBB. A ex-sister cantarolava pela casa mais vigiada do Brasil seus versos chicletes, fato que virou um dos memes mais conhecidos da última edição do reality. Na produção de reggaeton, Mamacita viaja em seu próprio beat e cria uma atmosfera onde é impossível não dançar. Original style, bem safada, a artista sabe que venceu – e continuará assim!

Urucum é um álbum que parece ter sido criado lentamente, com processos minuciosos e demorados. Mas o disco foi feito em surpreendentes duas semanas após o turbilhão midiático vivido por Karol em 2021, provando que o tempo nada mais é que um número dentro do aspecto musical. Boas ideias vem quando menos esperamos, mas as ótimas surgem quando mais precisamos.

Imersa em si e reflexiva ao ponto de construir novos caminhos para sua trajetória, Karol Conká reafirma sua posição no mundo: artista, mulher, independente e forte. Ela te convida a refletir e a exorcizar os seus demônios e os dos outros em onze faixas muito bem pensadas, resolvidas de forma completa e satisfatória. Tombar a Mamacita foi sinônimo de renascimento!

Urucum
Karol Conká
2022
Sony Music Brasil, Karol Conká Produções
Rap, Pop, Hip Hop

8.5


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Apaixonado por cultura pop, literatura, entretenimento e baboseiras úteis. Se Fernanda Young e Katy Perry tivessem tido um filho, seria eu.