Laurel Hell: a montanha russa que reflete a vulnerabilidade da carreira de Mitski (Review)
Após 4 anos desde o "Be The Cowboy", a cantora expõe seus sentimentos em relação a música em seu novo álbum.
Publicado em 21 de março de 2022, por Carlos Bueno • Lançamentos, ReviewsCom uma carreira consolidada pelo seu destaque desde a forma de escrever até a maneira de produzir músicas, a cantora Mitski nos permite em seu novo álbum mergulhar-se na sua arte — desta vez, nos aproximando da relação que a artista tem com a música.
Laurel Hell é o sexto álbum de estúdio da cantora, produtora e musicista nipo-americana e foi lançado no dia 12 de janeiro de 2022. Seu último trabalho Be The Cowboy foi uma grande alavanca para que novos ouvintes conhecessem seu trabalho. Apesar de não ser meu preferido da artista, é inegável que o disco foi um dos melhores da década passada.
Entretanto, todo esse estrelato e ascensão que a cantora conseguiu a partir de 2018 traz uma relação complicada entre a fama, a arte e a vida da artista. O primeiro single “Working for the Knife”, lançado em 05 de outubro de 2021, nos apresentou brevemente o que o álbum teria a nos contar, além de marcar o fim do hiato da cantora.
A introdução do álbum é feita por “Valentine, Texas” e em seu início, é possível ouvir praticamente apenas a voz da cantora — demonstrando a intimidade que ela quer trazer no disco. A faixa conforme avança nos mostra elementos que estarão presentes em todo o álbum – como a instrumentação, as produções e os sentimentos trazidos com si. A música tem o mesmo nome de uma pequena cidade no Texas. Quando vi esse nome na tracklist, tudo que me lembrei foi de “Texas Reznikoff” música que abre seu terceiro álbum Bury Me At Makeout Creek — infelizmente não encontrei semelhanças entre as duas faixas além do nome.
Em seguida, temos “Working for the Knife”, uma faixa mais carregada de elementos semelhantes aos seus antigos trabalhos. A música traz diversas quebras de expectativas que a cantora encontrou no seu caminho, e sobre a dificuldade de viver-se num sistema capitalista que nos torna em máquinas sem humanidade. Para contrariar essa negatividade e elementos pesados da faixa, temos “Stay Soft”. Apesar de descontraída sonoramente, a letra da faixa traz uma perspectiva sexual e sombria de momentos da vida. A cantora em uma entrevista a DIY falou sobre essa dualidade entre a sonoridade e a letra. Contudo, essa novidade dançante ainda soa estranha e parece até meio bobo em alguns momentos. A música tem um clipe super enigmático e cheio de metáforas e vale a pena conferir.
“Everyone” novamente fala sobre as escolhas que a cantora teve que fazer ao longo de sua carreira. A faixa segue uma produção simples e não muito cativante, chamando atenção apenas em seus últimos segundos. Apesar de ser a faixa mais longa do álbum, sua produção é apenas atmosférica e não causou tanto impacto quanto eu esperava. “Heat Lightning” em contrapartida trabalha diversos gêneros e tem um arranjo semelhante com as canções do “Be The Cowboy”.
Em sequência temos “The Only Heartbreaker” e “Love Me More” duas faixas que pegam inspirações dos anos 80 e foram lançadas previamente como single. Trazendo a característica dançante que Mitski quis trazer em “Stay Soft”, nessas duas faixas elas realmente funcionam. Com um clipe magnífico de “The Only Heartbreaker”, a artista conseguiu captar tudo que essas duas músicas tem como intenção fazer – sofrer e dançar. Todas as faixas do álbum já estavam sendo trabalhadas desde o fim do Be The Cowboy em 2018 segundo a cantora, e “Love Me More” explora temas como isolamento que ganharam novos significados desde a pandemia por covid-19.
Voltando as faixas atmosféricas temos “There’s Nothing Left for You”. Para mim, a letra é uma das melhores e mais emocionantes do álbum. E apesar de atmosférica a faixa conta com uma explosão crescente e rápidas mudanças de tons que encantam. “Should’ve Been Me”, no entanto, quebra esse clima atmosférico e tenta trazer uma diversão para o álbum, com uma produção quase que lúdica. Ainda que na primeira ouvida ter sido um tanto quanto surpreendente de forma negativa, a faixa contém elementos ótimos e diferentes do que estamos acostumados na carreira da cantora.
m sequência temos “I Guess”, praticamente nos avisando que estamos chegando ao fim. Em minha perspectiva, a música é quase um tributo que a cantora escreveu quando decidiu se afastar da carreira, sendo simplesmente muito graciosa. Finalizando, chegamos em “That’s Our Lamp”. Novamente aumentando o beat, Mitski encerra Laurel Hell, sonoramente falando, de maneira esperançosa e otimista. O outro é o que realmente se destaca nessa canção, finalizando esses altos e baixos que a cantora propôs no álbum. Em um primeiro momento, a música não me conquistou, mas com o passar da primeira semana, enxerguei o quão especial ela é.
Essas quatro últimas faixas e o álbum no geral dão uma certa sensação uma montanha russa de emoções. E, apesar de diferente e talvez até um pouco assustador para os fãs mais antigos, Laurel Hell é talvez o trabalho mais íntimo da cantora. Mitski consegue retratar as decepções, a quebra de expectativa e também as vulnerabilidades da humanidade que ela carrega e enfrentou durante sua carreira.

8.1