“Mr. Morale & The Big Steppers” prova a grandeza e a excelência de Kendrick Lamar (Review)
Lírico e potente, novo álbum do rapper é primoroso do início ao fim
Publicado em 15 de maio de 2022, por João Schiavo • Lançamentos, ReviewsForam cinco anos de espera para que tivéssemos acesso ao novo trabalho de Kendrick Lamar, um dos nomes mais respeitados e célebres da indústria musical nos últimos tempos, mas cada segundo valeu a pena. E na última sexta-feira (13), o excelente Mr. Morale & The Big Steppers viu a luz do sol — ele não poderia ter chego em melhor hora!
Dividido em dois discos, o trabalho conta com participações de Ghostface Killah, Sampha, Summer Walker, Kodak Black, Amanda Reifer, Blxst, Taylour Paige, Sam Dew, Tanna Leone, Beth Gibbons e Baby Keem. Apesar do número considerável de parcerias, em nada isso diminui a qualidade; pelo contrário, cada um dos nomes acima ajuda a contar a impecável história do álbum.
Mr. Morale & The Big Steppers traz considerações profundas envoltas de poesia, com uma coerência musical dificilmente vista. Não há nenhum tropeço no caminho trilhado pela narrativa do álbum. A obra é, acima de tudo, uma reflexão acerca do cotidiano de Lamar em família, entre amigos e enquanto pai e esposo.
A mistura intensa de ternura e rigidez
No começo da última semana, o artista já havia surpreendido o mundo com o lançamento de “The Heart Part 5”, faixa que ganhou um curioso videoclipe no qual o rapper se transforma em diversas personalidades, entre elas O.J. Simpson, Kobe Bryant, Kanye West e Will Smith.
A canção, entretanto, não entrou no corpo final do trabalho, mas foi um bom aviso da surpresa que teríamos. Ao longo de 18 faixas, ficamos mais próximos da intimidade de um homem que se despe da fama e do suposto glamour que carrega seu ofício, mostrando sua essência acima de qualquer coisa. Fugindo da futilidade que permeia muitas das propostas de colegas de trabalho de Kendrick Lamar, o trabalho do rapper inspira excelência, qualidade e coesão.
Existem destaques entre toda a produção, como a surpreendente “Savior”, que explode próximo da metade e transforma a canção em um hino para se ouvir no mais alto volume, entoando as vozes de fundo enquanto apreciamos a arte de Lamar.
Íntimo, mas abrangente
Com referências necessárias na realidade de um homem negro norte-americano, a narrativa do disco explora temas como violência policial, masculinidade, racismo e diferenças sociais. Uma meditação aprofundada acerca de lutas pessoais, mas que se comunica com milhões de pessoas. Talvez esse seja o segredo, mais uma vez, da impecabilidade de Kendrick Lamar.
Sonoramente, o álbum experimenta com maestria e proporciona toques de jazz com trap, hip hop com gospel e garante batidas intensas nas pontes e nos refrões. A mistura criativa de escolhas deixa o álbum interessante, refinado e bem apurado. É como se o artista entendesse a fórmula da nobreza cultural – e não tem medo de usá-la.
O disco é um trabalho que, necessariamente, precisa ser escutado do início ao fim, sem pular nenhuma faixa e sem perder nenhum segundo. A solidez de todas as faixas constrói a beleza da obra, que merece ser apreciada como um todo. Porém, como alguns detalhes brilham aos olhos com mais intensidade, destaco as faixas “Die Hard”, “Purple Hearts”, “We Cry Together”, “N95”, “United In Grief” e a excepcional “Mother I Sober”, coroada Best New Track pela Pitchfork na sexta-feira (13).
Com um conceito bem amarrado, estruturado, robusto e corajoso, Kendrick Lamar prova, novamente, sua posição de proeminência no cenário contemporâneo. O sucessor do aclamado DAMN. é um sopro de vida com superioridade, onde cada escolha traz uma qualidade criativa como assinatura do artista. Entendemos cada vez mais como o gênero se reinventou desde a chegada do rapper, e a tendência é que isso continue — para nossa sorte.

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