Portal Pop3

MUNA volta mais pop do que nunca em seu álbum autointitulado (Review)

Em seu trabalho mais recente, a banda norte-americana continua narrando a experiência queer com primor

Publicado em 21 de julho de 2022, por Lançamentos, Reviews

Os últimos dois anos não foram fáceis para ninguém da indústria da música, especialmente para o trio MUNA. Após lançarem dois albúms aclamados pela crítica, About U (2017) e Saves the World (2019), a banda descobriu no começo de 2021 que foram bruscamente dispensadas da sua gravadora, a RCA Records. Superando pensamentos de desistência, em maio do mesmo ano o trio assinou contrato com a gravadora independente Saddest Factory Records, criada por Phoebe Bridgers. Em seu primeiro álbum pela nova gravadora, MUNA mostra que voltou mais forte do que nunca e que a independência lhe serve extremamentente bem. 

O resultado positivo dessa parceria pode ser visto já na primeira faixa do álbum, “Silk Chiffon”, que conta com a participação da proprietária da gravadora e também queer, Phoebe Bridgers. O resultado é uma divertida música pop e otimista declaração de amor lésbico. Phoebe entra em cena junto com uma guitarra, adicionando pitadas de rock a canção, causando um equilíbrio perfeito. A faixa comprova o êxito dessa combinação entre as artistas, e evidência como trabalhar com alguém que as entendem faz toda a diferença. 

Na segunda faixa do álbum “What I Want”, o trio expressa o seu desejo de liberdade através de um delicioso synthpop com raízes oitentistas. A canção é um hino de emancipação e independência. Katie Gavin, vocalista principal da banda, canta sobre finalmente fazer o que deseja, seja usar drogas em uma balada gay, ou se apaixonar. Ao som de sintetizadores, Katie canta vigorosamente sobre todos suas vontades sem remorso algum ao som de uma produção extremamente dançante. A faixa é a exibição do que MUNA faz de melhor, música pop livre de arrependimentos. 

Emancipação é também o tema de “Runner’s High, terceira faixa do projeto. A separação aqui é um término de relacionamento que causa extrema euforia em quem o protagonizou. “Honey, you should see me fly / Since I ran out on you” (Querida, você deveria me ver voar / Desde que eu te deixei), Katie vocaliza antes de uma explosão de sintetizadores que captam os sentimentos eufóricos perfeitamente. 

Em “Home by Now”, MUNA mostra que apesar do dance pop divertido ser sua especialidade, elas também fazem músicas extremamente emocionantes e sentimentais com maestria.  Nessa canção o trio explora um pós-término com dúvida e familiaridade visceral. O dolorido questionamento “E se?” é o que guia a linha de pensamento do eu lirico nessa composição, que se questiona se o relacionamento teria dado certo com um pouco mais de empenho, ou se suas expectativas estão altas demais. 

A emocionante faixa é seguida por “Kind Of Girl”, uma música voz e violão com uma produção mais crua e limpa, e conta com uma linda composição sobre autoconhecimento. “Handle Me” dá continuidade a esse clima criado pela canção anterior, falando sobre inseguranças e medos encontrados ao entrar em um novo relacionamento. “Who taught you that / You gotta keep your hands clean / Or you’re gonna mess it all up? (Quem te ensinou que / Você precisa manter suas mãos limpas / Ou você vai estragar tudo?). 

O clima tranquilo é interrompido por “No Idea”, outra canção carregada de sintetizadores, em que o trio brinca com auto-tune nos vocais à la Charli XCX, criando uma música sexy, com uma composição provocante. Em “Solid”, o grupo retoma o Pop rock de “Silk Chiffon” com mais potência, relembrando seus trabalhos anteriores em uma declaração de amor digna de uma estrela do rock. 

“Anything But Me” segue a vibe pop-rock de sua antecessora, com uma das composições mais divertidas de todo o projeto. Entretanto, apesar do aspecto brincalhão e otimista da música, ela conta com uma ponte sentimental e extremamente sincera sobre a complicado ato de terminar relacionamentos amorosos, e a necessidade de se colocar em primeiro lugar. 

Para encerrar o álbum, temos “Loose Garment” e  “Shooting Stars”, canções que desde sua produção até as perfomances vocais relembram o indie-folk/rock de Phoebe Bridgers. As músicas adicionam uma melancolia bem-vinda aos minutos finais do disco, completando a experiência de se ouvir um álbum das artistas. 

Em MUNA, o trio continua orbitando sobre os mesmos temas de seus projetos anteriores, dessa vez ainda mais pop e destemidas. A banda narra a experiência de ser queer de forma divertida e apaixonada através de composições ora alegres, ora sentimentais, criando uma linda trilha-sonora para se apaixonar, terminar, aproveitar a vida e verdadeiramente abraçar quem você é. 

MUNA
MUNA
2022
Saddest Factory Records / Dead Oceans
Synthpop, Pop Rock

8.0


Tags: , , , , ,
Graduando em Letras - Inglês, professor e produtor de conteúdo, amante de arte em todas as suas formas. Constantemente com o fone no ouvido e sempre procurando algo novo para escutar.