Punisher: a profundidade da solidão de Phoebe Bridgers (Review)
Com apenas 25 anos, a cantora aborda de forma intimista a ansiedade de amadurecer, a dificuldade de se relacionar com outras pessoas e o obstáculo ao procurar propósitos na existência.
Publicado em 5 de março de 2022, por Carlos Bueno • Lançamentos, ReviewsDepois de Phoebe Bridgers, cantora, produtora e guitarrista estadunidense, lançar seu debut Stranger in the Alps, trabalhar em um EP colaborativo com Julien Baker e Lucy Dacus, que deu origem ao Boygenius, e ainda realizar parcerias com outros nomes como Fiona Apple, no dia 17 de junho de 2020, a artista disponibilizou seu segundo álbum: Punisher. Neste review, vamos devorar os minuciosos detalhes que encontramos ao longo de toda a obra, permitindo que você acompanhe e entenda como e porque ele se tornou um dos mais importantes em seu ano de lançamento!
A jornada é aberta com “DVD Menu”, que possui um sample da última música do longa “I Know The End”, possibilitando que você ouça o álbum em repetição sem se desconectar da sonoridade entre a música final e a que abre o disco. O lead single de Punisher foi “Garden Song”, música que sucede a abertura do álbum. Segundo a compositora, é sobre pesadelos que ela tinha enquanto estava em turnê. Entretanto, a música pode ser interpretada muito mais do que apenas isso visto que esses sonhos/pesadelos são escritos com metáforas que constroem uma história muito mais profunda que apenas pesadelos. Para mim, ela é sobre o fato de desejar coisas boas, fazê-las acontecerem — e ser grato por elas.
“Kyoto”, a terceira música, surpreende muito, pois possui um ritmo mais acelerado. Como em toda a sua discografia, Phoebe escreve numa perspectiva quase biográfica. A música conta sobre os problemas paternos que ela vive enquanto está passeando por Kyoto. Nela, Phoebe relata a frustração de perceber que muitas vezes, a figura paterna não é aquilo que se imagina quando criança.
I wanted to see the world
Through your eyes until it happened
Then I changed my mind
A música é encerrada com uma outra, o que pode te deixar confuso, já que ela mesmo se considera uma mentirosa – dessa forma, tudo que ela sente pelo seu pai é mentira, tanto seu amor, quanto seu ódio. Em uma entrevista para a The New Yorker em maio de 2020, Phoebe falou sobre esse relacionamento complexo que ela tem com seu pai, onde sente muita raiva e muita empatia ao mesmo tempo por ele.
Na faixa título do álbum, temos uma música dedicada a Elliott Smith. O cantor e músico faleceu aos 34 anos, no ano de 2003, e é um dos artistas que mais influenciaram Phoebe de acordo com ela mesma. Em “Punisher”, há um tributo ao artista que ela não pode conhecer, mas por quem sempre sentiu grande conexão.
What if I told you
I feel like I know you?
But we never met
It’s for the best
Além da homenagem, a canção também mostra outro lado da cantora. “Punisher” é o termo usado para definir pessoas que simplesmente não sabem quando parar de falar, e Phoebe se imagina na situação de conhecer um de seus ídolos, tendo medo de agir como um.
O próximo ponto alto do álbum é “Chinese Satellite”. A música trata sobre estarmos constantemente em busca de um sinal, a indagação de porque estamos aqui e questões em torno da falta de fé da cantora. Acreditar que a vida tem um propósito maior é muito mais reconfortante do que estarmos aqui sem motivo nenhum; o jeito que ela escreve isso é maravilhoso. Uma orquestra, baterias e guitarras constroem a faixa que a tornam ela uma das melhores do disco.
Em seguida da crise existencial de “Chinese Satellite”, “Moon Song” nos leva a uma das músicas mais românticas e tristes do álbum. Se a artista pudesse dar a lua para o seu par, ela daria, porém seu companheiro não corresponde esses sentimentos. Mesmo assim, Phoebe permanece naquela relação e a comunica com uma metáfora. Ela ficaria esperando seu parceiro a querer, como um cachorro com um pássaro fica na porta de seu dono. Nas canções “Savior Complex” e “Graceland Too”, a cantora relata mais sobre vínculos afetivos e a dificuldade de relacionar-se com alguém que se odeia.
Para encerrar a narrativa criada ao longo de todo o disco, temos a perfeita “I Know The End”. A música apresenta uma realidade apocalíptica onde tudo está para acabar, enquanto acompanha um ritmo lento que vai crescendo conforme o folclore é contado. Referências a outras músicas do álbum são vistas como:
And when I call, you come home
A bird in your teeth
*Referência a “Moon Song”.
Over the coast, everyone’s convinced
It’s a government drone or an alien spaceship
Either way, we’re not alone
I’ll find a new place to be from
*Contemplando a crise existencial iniciada em “Chinese Satellite”.
Acompanhada de muito barulho e um forte grito de Phoebe, ela é capaz de construir uma visão muito típica do fim do mundo. Quando tudo está acabando e você está fugindo em seu carro para um lugar qualquer. Com muita coesão, ela amarra todo o universo e os sentimentos imaginados e sentidos no CD.
Apesar da pouca diferença em questão de sonoridade com seu primeiro disco, Bridgers conseguiu criar uma história totalmente diferente e relatar seus sentimentos tão bem, talvez até melhor, quanto em Stranger in the Alps.
Punisher pode não ser a companhia favorita à primeira vista para aqueles que gostam de algo mais pop, por conta de seu ritmo lento e elementos similares e repetitivos entre as músicas. Mas com o tempo, os sentimentos ao redor do álbum crescem com você. E assim, cada uma das canções do disco se tornam únicas.

9.3