Serpentina é mais uma das tentativas de Banks em ser inovadora (Review)
Em seu quarto álbum, Banks é minimalista, menos provocativa e esforça-se para ser profunda
Publicado em 14 de abril de 2022, por Carlos Bueno • Lançamentos, ReviewsCom uma era iniciada em 25 de julho de 2021 junto do lead-single “The Devil”, Banks finalmente lançou o projeto completo Serpentina em 8 de abril de 2022. O disco teve cinco faixas lançadas previamente, nos deixando apenas com oito canções inéditas. Em seus 41 minutos, o disco consegue ser íntimo, em certos momentos dançantes e raramente ousado.
A faixa introdutória ao álbum, “Misunderstood”, é grandiosa assim como as aberturas de seus trabalhos anteriores. Com muitos elementos diferentes na voz, típico da artista, e instrumentações discrepantes, a cantora mostra ao ouvinte algumas indagações sobre não ser escutada, pedindo para deixá-la incompreendida, pois ela ama essa confusão. As letras aqui são bem expositivas, cruas e simples, não sendo um dos pontos fortes da faixa.
Em “Meteorite”, é possível perceber algumas inspirações vindas de trabalhos como: “Amnesia”, de Justin Timberlake. A produção encaixa-se muito bem com a voz da artista, que não está coberta de efeitos. A letra é provocante e sexy conseguindo cumprir seu objetivo. Apesar de não ser uma música que fique no seu repeat por horas, os backing-vocals e as palmas ao fundo podem perdurar alguns minutos após seu encerramento, pois são extremamente catchys.
Quebrando a progressão das faixas anteriores, “Fuck Love” possui uma das letras mais fracas em conjunto de uma produção genérica. Não que a escrita de Banks era o que sobressaia em seus outros trabalhos, mas nesse se destaca pela mediocridade. Apesar de agradável sonoramente, a faixa é composta de elementos já usados antes e sem acrescentar nada ao disco. “Deadend” segue o mesmo estilo, fazendo uma junção de uma balada em seu início mas com um refrão carregado de produções trap tal qual Ariana Grande em “thank u, next”.
“Holding Back”, um dos singles do disco, é uma das piores produções de toda sua carreira. Com referência a Alvin e os Esquilos (2007), a adição do efeito em sua voz no refrão não cativa e na verdade desestimula. Mesmo com uma produção que possa chamar atenção, toda a atmosfera da canção não é agradável. O que foi uma grande diferença de seu lead-single “The Devil”. Nesta, Banks explorava elementos iniciados em seu último disco III e acertava. A voz falada, os sintetizadores na medida certa e o efeito em sua voz clássico de sua discografia podem não ser inovadores, mas com certeza são mais agradáveis.
Em uma sequencia de faixas já lançadas previamente, temos “Skinnydipped”. O único aspecto relevante aqui é a voz de Banks e a maneira que ela mistura isso com os beats da música, o restante soa totalmente batido e repetitivo. Talvez a bridge e a lírica compense o esforço de ouvir a musica. Na canção, a artista fala sobre reconhecer seu valor e deixar alguém ir, depois de tanto tempo tentando. O videoclipe da faixa é lindíssimo e a cantora consegue servir visuais com êxito apesar da simplicidade.
Um dos pontos fortes de sua discografia sempre foram suas baladas. “To The Hilt” ou “Someone New”, faixas de seus respectivos álbuns The Altar e Goddess, são gigantescas. E o mesmo acontece em “Birds By the Sea”. Apesar da sua simplicidade, faixas lentas combinam muito bem com a voz da cantora ainda mais quando contam com uma letra tão tristes. “Burn” é uma das baladas de fim do disco e surpreende, pois não segue uma estrutura entediante e é de fato interessante. O encerramento da canção é linda e Banks faz um trabalho de excelência ao mesclar sua voz para criar o instrumental.
Numa tentativa de curar a depressão que ela causou nas faixas anteriores, há “Spirit (feat. Samoht)”; a faixa é composta por coros e é uma mudança de tom brusca do resto do disco. Ela foge dos elementos que estavam presentes até agora e chegam até a lembrar elementos gospel. Mesmo que não seja uma canção horrível, é estranho ouvi-la na sequencia proposta e toda a imersão é perdida. O featuring aqui é interessante e o vocal dos dois artistas mesclam de maneira muito gostosa.
Seguindo a proposta de escapar dos elementos da primeira metade do álbum, “Anything 4 U” já joga de cara sintetizadores e instrumentos muito distantes do resto de Serpentina. O fim do disco é uma completa bagunça e infelizmente não se equipara ao seu ínicio. Em “Unleavable”, encontramos uma tentativa de ser uma balada ao mesmo tempo que não quer ser. Com um excesso nos graves que destoam do trap acentuado, Banks cria um build-up que não dá muito certo. Não dá certo pois não é cativante, não é interessante e nem atraente.
A faixa que encerra o projeto é “I Still Love You”. Adivinha? Uma balada. Dessa vez criando a atmosfera através de um simples piano e a delicada voz da cantora, declarando-se a alguém que ela não possui mais contato mas ainda ama. A canção parece muito especial a cantora e podemos sentir as emoções em sua voz, mesmo que o ritmo e a construção não seja muito convidativa e animadora.
Um excesso de adições na voz da cantora que são usados sem propósitos e de uma forma confusa, canções com produções simplistas e um agregado de faixas que não se complementam caracterizam o quarto disco de Banks. Com todos esses aspectos, as faixas de Serpentina parecem uma excessiva tentativa da cantora em ser inovadora, mas sem conseguir.
É possível observar um padrão dos discos da cantora: eles podem facilmente ser divididos na metade. Uma metade com faixas inusitadas, com muitos erros e alguns acertos que podem ser interessantes. E outra metade na qual a artista não tenta inovar, criando uma atmosfera mais lenta e baladas que são impactantes, mas não acrescentam muito. E lastimavelmente, o quarto álbum da artista possui os mesmos erros.

4.9