Sling de Clairo demonstra sua evolução após primeiro disco (Review)
Com sua voz calma e graciosa, a cantora canta sobre temas delicados enquanto exibe sua maturidade e conforta
Publicado em 20 de abril de 2022, por Carlos Bueno • (G)old, ReviewsDepois de um primeiro álbum consistente e que atraiu a atenção de certas bolhas, Clairo tenta expor sua evolução em seu novo disco. A artista, de 23 anos, é cantora e compositora e em 2021 deu continuidade a sua discografia com Sling. Diferentemente de Immunity, um álbum debut focado nas experiências e sentimentos da artista, seu novo projeto dá enfoque em novas questões como a maternidade, saúde mental e sexualização ao longo de baladas e um som que foge do genérico e industrial. O disco traz inspirações de Elliot Smith, The Carpenters e outros artistas de décadas passadas — podendo ser caracterizado como Folk.
Nos introduzindo ao projeto, temos “Bambi” como a primeira faixa. A primeira frase do disco relaciona-se muito bem a produção dos primeiros seguintes e realmente parece que estamos entrando em um novo universo (I’m stepping inside a universe). A música fala sobre as angustias da artista diante da indústria, expondo uma vulnerabilidade de seus sentimentos, ao passo que busca mostrar uma maturidade e evolução desde seu último disco.
O lead-single “Blouse” foi produzido pelo queridinho da indústria Jack Antonoff e só isso já é o suficiente pra garantir a qualidade. A faixa ainda conta com backing vocals de Lorde. Fugindo dos aspectos de produção, a letra da faixa é explicita e não precisa de muito pra sua interpretação — mas isso não é um defeito aqui. É evidente uma denuncia de atitudes sexistas do cotidiano, mas feito da maneira certa.
A sonoridade do lead-single não é seguido pelo projeto todo. “Blouse” soa como uma conversa, refletindo na letra da canção. O disco não é composto apenas por faixas lentas e temos hits como “Amoeba”. Apesar de não conseguir mais ouvir essa música pelo excesso de ouvidas que tive no TikTok, ela é muito gostosa de cantar e conta com um beat mais animado. A cantora traz uma reflexão na faixa a respeito dos momentos em que ela dava prioridade às coisas erradas, até perceber que não estava bem.
O ritmo animado é seguido em faixas como “Zinnias” que conta com inspirações fortíssimas dos anos 70, presentes ao longo do disco todo, com a presença de guitarras eletrônicas e a leve voz da cantora. Os primeiros momentos de “Partridge” soam animados também, mas rapidamente o som volta a reverberar em uma produção mais intima, fugindo de momentos ousados e permanecendo em sua zona de conforto.

(Adrian Nieto/Reprodução)
Algo a destacar-se é a adição de diversos instrumentos ao longo das faixas e as mudanças no tom da cantora. Isso são características que marcam “Wade” e “Little Changes” em conjunto de suas letras. “Wade” reflete de forma simples a visão pessimista que a artista tem sobre seu passado e a busca pela solitude em seu futuro, apontando sua maturidade, que em certos momentos parecem forçados, mas não são. A produção presente em Sling é muito diferente da vista em Immunity e mostram influências de projetos maduros como o de Taylor Swift em folklore e evermore — que dão ótimos “irmãos” ao disco.
“Little Changes” de acordo com Clairo é sobre descobrir e entender de fato o que é estar em depressão ao mesmo tempo que fala a respeito de manipulações dentro de um relacionamento. Em “Harbor”, a artista também aborda outras questões ao redor desses vínculos e exterioriza a importância de escolher a si mesma diante de relacionamentos não saudáveis.
O projeto é encerrado com “Management” e é sobre a dificuldade de realizar suas vontades, mesmo sabendo de suas capacidades. Dificuldades como não saber quando ou como aquilo será concretizado. Essa ansiedade e inquietude acompanham toda a geração da cantora e que ela busca confortar ao longo de Sling. A faixa encerra o disco com uma junção de diversos instrumentos e uma produção que brilha.
Apesar dos pontos altos do disco citados, a fuga de uma estrutura para as canções e para o disco no geral não tem nenhum propósito e é um dos aspectos que dificultam a criação de um laço e vínculo com o segundo álbum da cantora. Entretanto, existe a criação de um ambiente muito confortável que essas músicas proporcionam, mas que são muito específicos. Dessa forma, em certos momentos pode soar tedioso e repetitivo, levando um tempo para que todas as faixas cresçam e causem o impacto que podem ter.
Mesmo assim, Sling é composto por diversas inspirações sólidas e contam com a visão artística de Clairo, sendo importante para construir uma discografia que mesmo com alguns erros, acerta.

7.9