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Solar Power: a Lorde não quer mais saber de depressão (Review)

Fugindo da ansiedade e da melancolia de seus outros trabalhos, a cantora nos mostra sua outra face em seu novo disco.

Publicado em 22 de março de 2022, por (G)old, Reviews

Depois de pouco mais de 4 anos, Lorde retornou com seu ansiosíssimo terceiro álbum de estúdio, Solar Power. Em 21 de junho de 2021, por um e-mail, fomos notificados sobre a tracklist e a data de lançamento (20 de agosto de 2021) do sucessor do Melodrama. Desde o primeiro momento, com a capa do álbum, podíamos ver a dissociação daquilo que a Lorde havia feito no passado. Com cores fortes, radiantes e alegres, Solar Power vinha para complementar a pequena discografia da artista neozelandesa.

Em uma jornada que demonstra a felicidade e a ausência de preocupações, iniciamos o álbum com “The Path”. A música segue um ritmo simples, mas com personalidade. Com um violão prazeroso, nos remetendo à praia desde o início, a cantora reforça seu pensamento, já trabalhado em outras canções como “Royals” e “Team”, de que ela não quer ser vista como um líder ou Deusa salvadora.

A faixa seguinte, “Solar Power”, foi o lead-single e é a faixa título do disco. Foi um ótimo primeiro capítulo para nos introduzir a era, mas, diferente e assustador para as viúvas de seus antigos trabalhos. A música conta com um clipe magnífico, assim como todos dessa etapa da cantora. Esse, em especial, foi o certo para começar, já que deixou os fãs com um gostinho de quero mais.

Em 2014, a cantora venceu duas categorias do Grammy (Melhor Performance Pop Solo e Música do Ano) ainda em seu primeiro álbum, Pure Heroine. E em faixas como “California” e “Stoned at the Nail Salon”, a cantora descreve seus sentimentos diante de sua fama repentina, sua maneira de lidar com isso e a mudança que ela viveu. As duas faixas diminuem um pouco o ritmo e possuem simplicidade e leveza em suas produções.

Próximo a metade do álbum, “Fallen Fruit” parece dividi-lo em dois. A canção aprofunda-se a respeito das crises climáticas e as consequências que a geração da cantora terá de lidar. Lorde utiliza-se de uma metáfora relacionando o fruto proibido, do livro de Gênesis, para mostrar e questionar gerações passadas que causaram todo esse estrago ambiental que serão consequências do futuro.  A cantora, em seus e-mails a respeito da era, sempre deixou claro que seu trabalho futuro iria trazer questões ambientais que a artista estudou nos últimos anos. Embora os clipes sejam uma retratação e uma crítica direta a isso, as letras e a produção do disco parecem vazias dessas ideias.

Apesar da escrita profunda – e linda – de faixas como “Stoned at the Nail Salon”, “Big Star” e “The Man with the Axe”, a sonoridade pode ser um problema para quem não é fã de baladas. Esse lado frágil e vulnerável de Lorde traz um sabor agridoce muito importante para o álbum. Não é apenas um sentimento depressivo e melancólico, é também um aconchego.

Infelizmente, essa fragilidade e complexidade não está presente em “Dominoes”. A música parece um pouco desconexa do trabalho, apesar da semelhança com algumas outras faixas pela sua produção simples, crua e desinteressante. Talvez tentando desassociar-se do mundo real e alienar-se, a cantora tentou criar uma diversão aqui, mas não conseguiu. O que não acontece em “Secrets from a Girl (Who’s Seen it All)”. A faixa é extremamente divertida e gostosa de cantarolar, porém o disco começa a soar um pouco enjoativo e entediante (a não ser que você esteja numa praia e feliz). O encerramento da canção é feito pela cantora sueca Robyn, dona de hits como “Call Your Girlfriend” e “Dancing on My Own”. Seu verso, ao contrário do resto da música, é muito íntimo – tratando sobre a aceitação de seu passado, nos permitindo que, assim que lidarmos com isso, poderemos entrar no nascer do sol. A musica ganhou clipe nesta terça-feira (22/03/2022), acrescentando mais ao visual da era. Confira!

Próximo ao fim, semelhante a um interlúdio, “Leader of a New Regime” é dispensável e esquecível sonoramente. A cantora aqui reforça o conceito a respeito das crises climáticas e funciona no contexto visual que é trazido nos clipes, mas no disco em si, a canção parece desconexa e sem sentido algum, além de ser desinteressante.

O terceiro single do álbum, “Mood Ring”, não destoa do trabalho, mas decepciona por seguir a simplicidade já citada por todo o álbum. A letra aqui é um pouco interessante, como uma sátira as pessoas que tentam conectar-se espiritualmente no mundo moderno. Mas ainda é estranho ver Lorde cantando sobre temas tão supérfluos e rasos.

Encerrando majestosamente um álbum não tão grandioso, “Oceanic Feeling” supre um pouco as expectativas existentes para o terceiro álbum da cantora. A faixa é profunda e extremamente imersiva – tanto liricamente quanto sonoramente, dando um gosto amargo para as outras canções do CD.

Talvez por criarmos grandes expectativas, a simplicidade de Solar Power tenha decepcionado. O álbum não é ruim. Ele é coeso, de certa maneira interessante, e cumpre seu papel de se imaginar na praia e distrair-se um pouco da negatividade. Os conceitos que a cantora quis trazer, infelizmente, são desperdiçados. O tema interessante a respeito das crises climáticas e consequências da nossa geração não são trabalhados o suficiente para ser um choque, como tivemos em seus antigos discos. Mas temas comuns desconexos da nossa realidade sobre ser feliz e despreocupado enquanto louvamos o sol são reforçados excessivamente. É possível que talvez Solar Power foi lançado apenas num momento errado. Em um contexto em que todos estávamos presos em casa e passando por dificuldades, Lorde estava curtindo praias na Nova Zelândia. Pelo lado bom, fomos agraciados com trabalhos como “The Path”, “The Man with the Axe” e “Oceanic Feeling”. Há duas faixas bônus disponíveis na versão Deluxe: “Helen of Troy” e “Hold No Grudge”.

Ouça Solar Power no Spotify:

Solar Power
Lorde
2021
Universal Music
Pop

7


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.