Two Ribbons de Let’s Eat Grandma compacta toda a experiência e maturidade do duo (Review)
O dueto em seu novo trabalho exalta a conexão de sua amizade e os temas vivenciados ao longo dos últimos 4 anos sem lançamentos
Publicado em 4 de maio de 2022, por Carlos Bueno • Lançamentos, ReviewsLet’s Eat Grandma é um duo musical formado por Rosa Walton e Jenny Hollingworth. Elas são amigas desde os quatro anos de idade e decidiram criar arte, basicamente, aos 13. As artistas já contam com três álbuns em sua discografia, sendo Two Ribbons lançado no dia 29 de abril de 2022, seu mais recente trabalho. Seus últimos dois discos: I’m All Ears e I, Gemini foram importantes para definir o estilo do dueto. Classificado como experimental pop e mesclando nos gêneros techno e synth, as cantoras sempre demonstraram muita maturidade em seu som.
O novo disco da dupla aborda temas delicados como o luto e celebra a amizade das duas diante de todas as dificuldades que passaram desde seu último disco lançado em 2018. Em março de 2019, Billy Clayton, namorado da Jenny, estava diagnosticado com sarcoma de Ewing e veio a falecer. Enquanto isso, Rosa passava por dificuldades já que havia se mudado para Londres com seu namorado da época, passou pela separação e voltou a morar com os pais, passando por um tempo de redescoberta de si. Histórias vivenciadas que possibilitaram a criação do novo projeto.
O disco é aberto com “Happy New Year”, contando com um sintetizador contagiante e de certa forma até chocante — barulhento para uma primeira musica. Desde a primeira faixa do disco já podemos ver um amadurecimento e uma evolução na produção. Existe uma jogada, quase que uma diversão para elas, com o ritmo da musica responsável pela energia animada característico da produção de David Wrench (mesmo produtor do I’m All Ears). “Levitation” entretanto, não carrega essa energia e te deixa esperando algo que não satisfaz em seu refrão. Talvez pela faixa ser um pouco repetitiva com uma formula simples, não tenha me cativado, tendo destacado-se apenas próximo ao encerramento e em seus primeiros segundos que lembram alguma das produções de SOPHIE.
É possível notar ao longo de todo o disco e até desde o primeiro trabalho do dueto, influências diretas da banda CHVRCHES, algo que fica bem evidente em “Watching You Go”. O que mais encanta na faixa é a sensação agridoce, que apesar de ter uma letra sem muito impacto em um primeiro momento, com o passar do tempo tem potencial de crescer. Isso, pois cada segundo que passa da faixa, ocorre uma construção do ritmo muito coesa e interessante, sólida e orgânica. Ainda mais depois de ler um pouco sobre a historia das duas.
Em “Hall Of Mirrors”, temos uma musica muito romântica que faz o coração derreter. A faixa em si não tem muito elementos surpreendentes, mas alguns fatores como a mudança no ritmo quando Walton fala “Hall Of Mirrors” quase que representando a confusão de estar numa casa de espelhos é ótimo. A faixa em conjunto dos espelhos fazem uma analogia sobre se enxergar e descobrir a si mesma na minha opinião.
A partir daqui, as canções começam a ficar mais softs e fogem um pouco do sintetizador, característicos das primeiras quatro composições. “Insect Loop” conta com guitarras eletrônicas que lembram uma junção do The Strokes com as características de Jenny e Rosa. Toda a liricidade do álbum e principalmente aqui são descritas de forma muito interessante e ao longo da canção toda proporcionam quase que uma historia vivida, de tantos momentos que a canção tem.
Para simbolizar essa divisão do disco, “Half Light” é uma interlude de 30 segundos que não acrescenta em nada além dessa separação do disco em dois. Em sequência, “Sunday” constrói um lado mais frágil, sensível e íntimo do álbum. A produção não é tão carregada e é possível perceber algumas influências de baladas dos anos 2000. Durante o início da faixa, pode até ser um pouco estranho e desanimador pela estranheza de uma criação mais lenta, mas o outro destaca-se aqui. Com certeza a canção pode se sobressair se ouvida fora da ordem proposta no projeto, já que nessa sequencia ela acaba se apagando um pouco. O refrão da faixa me lembrou momentos da letra de “I Will Be Waiting” e me deixou muito nostálgico.
Seguido de outra interlude, “In The Cemetery” é mais impactante que “Half Light” criando a sensação de estar em um show das meninas no meio de um cemitério cheio de pássaros que dá inicio a “Strange Conversations”. A faixa é composta basicamente por um violão e a voz encantadora de Jenny. A partir daqui, já podemos perceber que o trabalho está chegando ao fim e ao longo de toda essa jornada as letras são muito coesas possuindo conexão entre uma faixa e outra. Porém, é necessário um pouquinho de esforço para entender a complexidade como um todo do disco (dá até um artigo inteiro essa profundidade).
“Two Ribbons”, a última faixa e também a que dá nome ao álbum amarra toda essa sensibilidade falando sobre o luto da cantora. Sendo muito dolorosa e deixando seu coração quebrado, a música fala sobre as mudanças pessoais das artistas e é claro aqui a evolução vocal e sonora das duas desde o I, Gemini. Ao fim, a repetição da frase “Watch them wash away” me lembrou uma das minhas canções favoritas de Florence + The Machine, “The End Of Love”, que apesar de não possuir nenhuma relação, me deixou muito emocionado ao longo da produção minimalista e delicada.
Ao contrário do que acontece no segundo disco das Let’s Eat Grandma, Two Ribbons não parece experimentar, mas sim expor o que elas aprenderam ao longo desses anos, juntando tudo que fora apresentado anteriormente e compactado. Na casa dos 20 e 25 anos, as artistas destacam-se pela reflexão de todas suas experiências vividas que são expostas no projeto. Mesmo com faixas que podem demorar a “engatar” pela sua diferente estrutura e uma duração maior quando comparada com os hits de hoje em dia, é necessário visualizar sob a ótica proposta e pela sensibilidade das artistas.

8.2