Versions Of Me mostra que Anitta ainda está no auge da carreira (Review)
De forma completamente estrategista, Anitta mostra que novo álbum é um compilado de hits e versões de sua carreira
Publicado em 22 de abril de 2022, por Matheus Soares • Lançamentos, ReviewsNão é novidade que Anitta possui várias versões e é dona de uma versatilidade musical invejável. A própria sabe disso e faz questão de abordar estas facetas ao longo da discografia. Ainda em 2014, no seu segundo álbum No Ritmo, a arte que serviu de capa mostrava três versões da artista em poses diferentes. Anos depois, Kisses apresentava duas Anittas interligadas por um beijo. O projeto Checkmate também mostrou a cantora em estilos musicais variados, do eletrônico ao icônico funk que marcou sua carreira.
E em 2022, chegamos ao ápice das velhas e novas versões de Anitta: a cantora finalmente debuta seu tão aguardado álbum internacional, Versions of Me (ou ex-Girl From Rio). E a espera pareceu valer a pena, pelo menos enquanto o tribunal musical da Internet não decidiu se o álbum envelheceu como vinho ou leite.

(Warner Music Brasil/Reprodução)
Ao longo de 15 faixas e 43 minutos, somos apresentados a uma Anitta que pensou, botou a equipe pra trabalhar, deu o sangue e entregou um TCC-Musical que resume sua carreira e inicia um novo passo para o estrelato internacional. Em inglês, espanhol e português, a cantora viaja em ritmos e letras não tão profundas, mas que preencherão sets de DJs que querem fazer o público dançar sem parar e pessoas que desgastam caixas de som por ouvir músicas no volume máximo em churracos.
A faixa que inicia o álbum é “Envolver”, smash hit que ocupa atualmente o 10 Global do Spotify e compartilha o sucesso entre diversos países ao redor do mundo.
A primeira trilogia do álbum é muito boa. Após “Envolver”, “Gatas”, música com Chencho Corleone, mostra que as versões de Anitta podem surpreender quem esperava só canções no estilo Reggaeton Genérico. “Gata” ganha um “plot” durante sua reprodução, o que torna o ritmo ainda melhor. “I’d Rhather Have Sex” é um dos maiores destaques do álbum e clama por ser o próximo single do álbum já no primeiro minuto. A música mistura o som latino com um Pop Dance com batidas e detalhes que chamam a atenção do ouvinte, sendo uma ótima surpresa para quem gosta de Anitta misturada com eletrônico. Por aqui, conto os dias para conferir o videoclipe da canção.
“Gimme Your Number” é a quarta faixa e soa propositalmente como uma faixa que foi pensada para se tornar um dos maiores hits do álbum. As batidas, os vocais e a parceria com Ty Dolla $ign exaltam como a canção é radiofônica para as estações musicais estadunidenses, e o sample de “La Bamba” é acertado e traz aquela sensação de “Já ouvi isso antes…”. Embora não seja minha favorita do álbum, é um dos destaques positivos para quem gostou de “Envolver”. Em seguida, somos apresentados a “Maria Elegante (feat. Afro B.)” e “Love You”, duas que não me agradaram após uma sequência tão acertada.
Gigantesca aposta da gravadora, “Boys Don’t Cry” renova a discografia de Anitta como uma canção puramente pop que lembra os já clássicos synthpops lançados entre 2019 e 2020. Bebendo de uma fonte do The Weeknd, este parecia ser o grande hit internacional da cantora até “Envolver”. A música é muito bem produzida e o videoclipe é um ouro da artista. Talvez ele ganhará a fama de injustiçado daqui alguns anos. Por enquanto, fica o parabéns pela ousadia de se jogar à um pop dance em meio ao Reggaeton.
Música que deu origem ao nome do álbum, “Versions of Me” é um grande destaque Pop do álbum. Com uma batida que lembra Katy Perry e os hits pop-farofa da década de 2010, a música é desprentiosa, com um refrão pegajoso e um potencial hit futuro. Nas plataformas digitais, a música já mostra força e é uma das mais executadas. Que vire single em breve, amém!
O álbum soa como um disco de vinil oitentista quando se pensa em tracklist. Mas enquanto o Side A de Versions of Me preenche as maiores canções do álbum, o Side B enfraquece e traz algumas canções bem, mas BEM genéricas. “Turn It Up” é fraquíssima, enquanto “Ur Baby” com Khalid tenta salvar você de cansar do álbum.
Finalmente, o álbum chega na filha injustiçada e que acabou apagada quando o caçula nasceu. “Girl From Rio” foi uma aposta GIGANTESCA de Anitta e sua equipe no ano passado, com uma grande campanha de Marketing, uma capa de single que viralizou, um lançamento estrondoso e muitas performances nos programas de televisão e premiações. O ápice dessa aposta foi uma parceria com o Burger King dos Estados Unidos, onde Anitta ganhou um próprio sanduíche. Vale destacar que esse assunto já foi abordado anteriormente em nossa página.
Por algum motivo, seja pelo ritmo, pela letra ou por apenas não ser a hora certa, “Girl From Rio” não passou de um buzz single e não ganhou a atenção que era esperada. A recepção foi boa nas rádios adultas dos Estados Unidos, mas nada que compensasse o tanto que foi gasto (não só financeiramente) no single. Existia uam expectativa que a faixa seria o carro-chefe do álbum e que, ao invés de Versions of Me, ele se chamaria Girl From Rio.
Porém não foi isso que aconteceu; houve uma grande pausa nos lançamentos principais da cantora e a próxima faixa do álbum real também foi lançado no ano anterior: a ótima “Faking Love” com Saweetie. Mas de ótima só a música mesmo, o videoclipe é bem mediano. Anitta mesmo reconheceu isso ao criticar a produção em uma entrevista para um podcast.
“Que Rabão” é um destaque nostálgico para mim. A faixa leva imediatamente ao tempo de Furacão 2000, principalmente na época que meu colégia ouvia “Solta Esse Ponto” de MC Copinho e Valesca Popozuda no intervalo do colégio. Um belo sample, mas o que se destaca na música é a participação do Mr. Catra, que já não está mais entre nós. Uma música com participação dele já era de conhecimento entre a fanbase de Anitta por anos, e finalmente ouvir a música não só concluiu um desejo antigo como também trouxe uma vibe funk carioca que ainda não havia aparecido no álbum. A faixa é a única em que a língua portuguesa é destaque.
“Me Gusta” com Cardi B e Myke Towers é a penúltima do álbum. Juro, entendo quem ama, mas essa música é intragável pra mim. Péssima. Com todo respeito.
“Love Me, Love Me” foi uma ótima escolha para o encerrar Versions Of Me. A canção contém um vocal limpo de Anitta e uma batida calma e tropical. Me lembrou muito de Zen e Cobertor. Os fãs saudosos com certeza tiveram o coração preenchido com uma canção sem “intenção de hitar”. Após tanto barulho, dança e letras provocativas, Anitta conclui Versions of Me como se estivesse andando em uma praia e concluindo uma missão iniciada anos atrás.

(Twitter/Reprodução Adaptada)
Sem delongas, aqui vai minha conclusão sobre Versions of Me: FINALMENTE, quatro anos depois, Anitta pareceu entender o recado “queremos CD novo, com conceito, todo organizado, clipes bons e muita divulgação.” dita por um fã em 2018. Na época, na melhor versão Anitta-Versão-Passiva-Agressiva, a cantora respondia com “Tendi… faz um”. Hoje, a cantora deveria entregar uma cópia autografada de Versions of Me para o fã que fez a crítica construtiva. Anitta entregou o CD novo, com conceito (mesmo que não tão bem aceito pelos fãs), com tracklist coesa — apesar de falha em algumas canções, um clipe digno de VMA com “Boys Don’t Cry” e uma divulgação que tornou Versions of Me o número #1 no Spoify Global Albuns desta semana.
Assim como a capa do disco, Versions of Me reflete o camp-style-of-living que Anitta parece tentar atingir fora do país. Assim como Cardi B, catch phrases e uma persona divertida refletem melhor a versão internacional de Anitta. Nada boba, todas suas entrevistas soam descontraídas e prontas para tomarem recortes para viralizar no Twitter e Tik Tok. E o mesmo vale para as músicas: elas são minimamente estudadas para não serem levadas tão a sério, com profundidade ou reflexão. O Tik Tok está para viralizar trechos específicos, minutagens exatas e batidas perfeitas para festas. É um álbum genérico? Sim, mas isso não quer que é totalmente ruim. Deixe a seriedade de lado e dê logo o play!

7.3