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Honey: Samia transforma, com sinceridade, suas emoções em poesia no seu novo álbum (Review)

O segundo álbum da cantora Samia consegue ser ainda mais pessoal do que seu primeiro trabalho, expondo suas emoções de forma visceral com coragem e vulnerabilidade

Publicado em 28 de janeiro de 2023, por Lançamentos, Reviews

Lançado na última sexta-feira de janeiro, Honey é o segundo álbum da artista Samia Finnerty, que se apresenta artisticamente simplesmente como Samia. É como se desde a escolha do nome, a cantora deixasse claro que escreve sempre de um lugar pessoal.

Suas músicas são marcadas pela sinceridade, vulnerabilidade e coragem necessárias para expor os próprios sentimentos e experiencias de vida por meio da música. Características que já estavam presentes em seu primeiro álbum The Baby e em EPs e singles anteriores, mas que são levadas a um outro nível em Honey.

Características que só parecem ser reforçadas pela escolha de Samia de trabalhar com amigos próximos e pessoas de confiança com as quais ela se sente segura o suficiente para expressar seus sentimentos mais profundos. O álbum foi co-produzido por Caleb Wright, que além de trabalhar como produtor é amigo da cantora e integrante da banda Baby Boys. Além disso, conta com contribuições de Briston Maroney, Jake Luppen, Raffaella Meloni e Cristian Lee Hutson, esse último tendo co-escrito a maioria das músicas.

A primeira música, “Kill Her Freak Out”, foi também o primeiro dos seis singles lançados antes do trabalho completo ser liberado. O lançamento foi acompanhado de um video clipe co-dirigido pela artista e sua amiga e fotógrafa Muriel Margaret. Samia também co-estrela o vídeo com seu amigo, o ator Lucas Hedges, e a atriz Ruby Aleeme Jackson.

“Kill Her Freak Out” é uma música profunda e viseral, uma das melhores do mundo, com destaque para a sequência “I hope you marry the girl from your hometown / and I’ll fucking kill her / and I’ll fucking freak out” que não soa como uma assustadora vontade homicida, mas como uma emoção feral.

“Do you ever wish you weren’t a coward?” indaga o segundo single, “Mad at Me” trouxe o único feat do álbum, com a participação do rapper Papa Mbye. Samia contou que as letras dessa música foram criadas a partir de um poema, em que ela imagina como seria parar de se importar com o que os outros pensam, e foram co-escritas por Rostam Batmanglij.

Os lançamentos desses singles foram seguidos por duas estreias duplas, em que músicas que retratam as mesmas experiências de diferentes formas foram apresentadas ao público em conjunto. Como dupla inicial conhecemos “Pink Ballon” e “Sea Lions”, sendo que a primeira música foi construída ao longo de 7 meses, enquanto a segunda nasceu de um momento de raiva. Elas retratam os sentimentos de uma amizade que deu errado depois de ficar muito “próxima e complicada”.

“Pink Ballon” começa com confissões sobre a vida pessoal da outra pessoa com “Your mom keeps threatening suicide on holidays / your sister’s in LA making dinner with fresh produce”, linhas que me lembram imediatamente da canção “Colors” da cantora Halsey, onde ela começa “Your little brother never tells you but he loves you so / Your mother only smiled on her TV show”. Letras que mostram um engajamento com a vida pessoal da outra pessoa, uma proximidade necessária para que um relacionamento possa resultar em sentimentos tão viscerais.

O segundo duo musical é composto por “Breathing Song”, sobre o qual Samia compartilhou se tratar da “coisa mais assustadora que eu já compartilhei e, também, provavelmente a mais importante para mim”, e “Honey”.

A primeira música é marcada por uma repetição da palavra não e o uso de auto-tune para demonstrar o sentimento de recordar um evento traumático. É uma das canções mais marcantes do álbum, e enquanto Samia agradeceu ao público por escutá-la, cabe agradecê-la de volta por compartilhar sua dor e transformá-la em arte.

Honey retrata as mesmas situações, uma época em que a artista diz que estava bebendo todos os dias para se distrair de si mesma. No entanto, essa versão se transformou em uma composição agridoce, mudança que Samia atribui ao trabalho de produção de Calleb Wright.

Além dos singles, o álbum possui outras cinco músicas. “Charm You”, a segunda do álbum, foi escrita há 3 anos com seu amigo Nick Cianci. É uma música sobre relutar em encantar alguém, em que as letras que mais me chamaram atenção foram “I could fetishize you for the whole damn day / Flying while I’m lying that I hate LA”. 

Em “To Me It Was” também é abordado o tema recorrente do álcool, em que as ações da pessoa bebada são recordadas, assegurando que tudo está bem “You didn’t say anything weird, I promise / But maybe you didn’t need tequila for this”.

A música termina de forma linda com um áudio da avó de Samia, em que ela comenta estar orgulhosa e canta uma canção em libanês para a neta. A parte musical do áudio já havia sido utilizada na música “Pool”, a primeira do álbum de estreia da artista.

O álbum é encerrado com a sequência “Nanana”, que se assemelha a uma doce canção de ninar, Amelia, em que Samia fala de várias pessoas envolvidas no processo de criação do álbum, e “Dream Song”.

A última é uma das minhas favoritas, marcada pela repetição da frase “you get your dreams for free” inspirada no filme Waking Life (2001) que Samia disse ter assistido muitas vezes enquanto produzia o Honey com seus amigos.

De forma geral, Honey é um álbum sincero e de tom confessional que promete ser um dos meus favoritos do ano que acabou de começar. Eu recomendo as músicas da Samia para aqueles que são fãs de outras artistas com letras profundas e emotivas como Phoebe Bridgers e Boygenius.

Honey
Samia
2023
Grand Jury Music
Indie-pop

9.5


24 anos. Jornalista com interesse em Estudos Culturais. Cohost do podcast Cadelinhas da Indústria Cultural. Fã de artes em diversas mídias, tentando acumular o maior número de hobbies possíveis.