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This Is Why é o ápice da sintonia de Paramore (Review)

Mais angustiados e bravos do que nunca, a banda retorna com seu novo disco tratando sobre a complexa realidade dos sentimentos que enfrentaram depois de um mundo afetado por uma pandemia.

Publicado em 16 de fevereiro de 2023, por Lançamentos, Reviews

Cinco anos e meio depois de um álbum sólido, animado sonoramente falando e totalmente inovador na carreira da banda, Paramore lança seu mais novo disco This Is Why. Abandonando os ritmos groove, pop e funky de After Laughter, o grupo relembra um pouco de suas origens e aposta numa pegada mais Punk Pop com letras e composições cheias de raiva e angústia diante da vida depois de uma pandemia mundial que ganham vida com a voz da cantora Hayley Williams, as guitarras de Taylor York e bateria de Zac Farro.

A faixa título do disco “This Is Why” é ótima e foi o retorno da banda aos holofotes. Mesmo com um refrão de certa forma repetitivo, ele não soa nada enjoativo e surpreende nos vocais de Hayley, que nunca soou tão verdadeira, ríspida, crua e raivosa. Tudo isso da melhor maneira possível. Essa sensação ao redor da voz da cantora é perdurada por todo o disco e ganha destaque em faixas como: “The News” e “You First”.

Além desses aspectos, o álbum também é repleto por momentos onde a cantora parece estar apenas lendo versos sem necessariamente acompanhar a melodia dos instrumentos. Como nos versos da não tão agradável “C’est Comme Ça”. Faixa que fala um pouco sobre a perspectiva de aceitar a realidade como ela é e que as coisas não são sempre como queremos, ela é o que é — tradução do título em francês. Apesar de contar com uma letra curiosa, a faixa é a menos interessante do projeto pela excessiva repetição do refrão composto por apenas uma frase e a reiteração da sílaba “Na-na-na-na”.

Nos últimos anos, a cantora também falou muito sobre como ela teve de lidar com pensamentos e a realização de talvez ela ser de fato alguém egoísta e/ou ruim. Aqui, essas concepções se fazem presente em diversos trechos, mas se destaca em “Running Out Of Time” em que Williams mostra situações em que ela nunca faz o que tem de fazer, está sempre atrasada, mas sempre tem uma desculpa e no meio disso tudo ela se pergunta: “What if I’m just a selfish prick? No regard, ah!“. O gritinho dela aqui é estonteante e é impossível não ficar boquiaberto para quem acompanha a banda a certo tempo.

As faixas mais lentas do disco são “Liar” e “Big Man, Little Dignity”. A primeira é provavelmente a faixa mais romântica da banda desde “The Only Exception” — que parece uma declaração da cantora para Taylor (guitarrista) referenciando até a canção solo de Hayley “Crystal Clear” de seu disco Petals for Armor. Já a segunda é uma das melhores faixas do disco em todos os aspectos possíveis. A produção é algo que Paramore nunca fez, com harmonias que acompanham Hayley falando sobre homens que não são responsabilizados pelas suas ações. O encerramento da faixa é de arrepiar com uma outro surpreendente que amarra toda a sensação passada desde os primeiros segundos da música.

A raiva da cantora também transborda em sua voz em “You First” no momento em que ela percebe o paradoxo da vida humana em que todas as pessoas podem ser vistas como ruins dependendo do ponto de vista. Chegando até ao momento em que ela não consegue nem se diferenciar se ela é a garota sobrevivente de um filme de terror ou o próprio Serial Killer. O máximo que ela pode esperar é que o karma venha primeiro para o outro, e não para ela. O refrão aqui é delicioso e extremamente cativante e grudento, uma ouvida é o suficiente para você ficar alguns minutos cantarolando.

As duas últimas canções passam a ser mais introspectivas quando comparadas com as anteriores, mas emocionam nas suas letras. Em “Crave”, Williams relembra os momentos difíceis que lidou nos últimos anos, retornando a aspectos da saúde mental e abordando temas como a romantização da depressão. Aqui, a cantora já se encontra em outra fase de sua vida, mas por instantes chega a lembrar com um certo brilho nos olhos de seu passado, almejando viver novamente até as piores de suas fases. Particularmente, minha faixa favorita é a que fecha o disco. Em “Thick Skull”, vemos a reflexão sobre as inseguranças e o criticismo que a banda e a Hayley sentiu durante todos esses anos. Sobre algumas projeções que fãs e haters faziam sobre a banda que nunca foram verdade. E tudo isso trazendo novos aspectos na produção e nos pavorosos gritos da cantora.

This Is Why mostra um crescimento e uma evolução nos pensamentos da banda desde seu último, e já maduro trabalho, After Laughter. Mas mistura a sonoridade dos antigos trabalhos como o Brand New Eyes e Riot!. Entretanto, dessa vez estáveis e felizes com o momento da vida que estão vivendo, o que permitiu que eles entregassem um dos melhores e mais coesos trabalhos da banda. Paramore sempre se reinventou ao longo de seus projetos, e era óbvio que em seu novo disco não seria diferente. O fascinante é visualizar que independente do gênero que eles trabalham, eles consigam seguir com a mesma qualidade e até melhorando cada vez mais.

This Is Why
Paramore
2023
Atlantic Records
Rock, Pop Punk

9.0


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Apaixonado por música e viciado em last.fm. Amo cinema e o mundo pop no geral. Ah, e também sou biólogo.