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Luísa e os Alquimistas: a energia de uma diva pop multiplicada por 6 no show em Curitiba

Show da banda Potiguar em Curitiba contagia e ultrapassa fronteiras musicais

Publicado em 26 de junho de 2022, por O Pop de Curitiba, Shows

Na noite do dia 24 para 25 de junho ocorreu em Curitiba a festa Brasilidades, com discotecagem de Gil Preto, Claudia Bukowski e Tone RMS. O ponto alto da noite, no entanto, foi o show da banda Luísa e os Alquimistas.

Para quem não conhece, a banda nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, possui muita história. Iniciada em 2014 com 4 integrantes (hoje 6), a banda sempre se propôs a trazer uma mistura muito ampla de ritmos com referências profundas no R&B, Blues e Rock, assim como ritmos mais contemporâneos como o certas referências no Pop Brasileiro e até os mais populares em localidades específicas como o Piseiro, Brega, Brega Funk e Forró. Sim, o grupo mistura tudo isso e a junção é maravilhosa.

A qualidade da música vai muito além para a produção de massas, pois as alusões ao experimental ajudam muito na criação de um som similar, porém bastante único. Luísa Nascimento, a criadora e coordenadora deixa sempre sua marca de misturar além de ritmos, línguas como francês, espanhol e inglês, além do português, em suas letras.

Contando com 3 álbuns de estúdio e 1 EP, Luísa e os Alquimistas possui um material diverso para se consolidar no imaginário de seus fãs, mas até então não é tão conhecida do grande público. Que erro. Principalmente em cidades que possuem a possibilidade de receber shows da banda. Estar presente num show de Luísa e os Alquimistas é uma experiência única que todos deveriam ter a oportunidade de realizar (sendo fãs ou tendo seu primeiro contato ali). Felizmente estava em Curitiba e consegui minha entrada para o evento, que também não era muito caro — mas que poderia pagar muito mais após ver com o quê exatamente eu estava lidando.

No show, além de Luísa sempre marcar muito o palco com sua presença que encanta pelo estilo de roupas, cabelo e acessórios, todos os seus músicos atuam em total sincronia com ela, além de parecerem ser escolhidos a dedo pela maneira impecável de tocar acordes complexos e misturar instrumentos eletrônicos em sonoridades de alta complexidade.

Alguns de meus amigos que estavam presentes não conheciam nada ou muito pouco do trabalho da banda, enquanto eu já estava acostumado com os sons e com o material produzido principalmente após a era Jaguatirica Print (2019). Infelizmente o microfone principal teve interferências constantes e pegava microfonia com facilidade, deixando a vocalista alguns tons mais baixos dependendo da música. Isso não impediu a energia maravilhosa da banda ser transmitida.

Para quem não conhecia nada, bastaram 2 músicas para o guitarrista Carlos Tupy começar com seus solos complexos e sua linguagem corporal que lembram grandes astros do rock, e após as músicas “Aquela Saudade” e “Tous Le Jours” essas pessoas já haviam sentido um impacto muito forte, notando que o grupo teria algo especial na veia. “I Love You Lulu”, lançamento recente do EP Gang da Leoa, é uma música brega feita especialmente para os moldes do TikTok e brinca com esses refrãos chicletes pré-estabelecidos por um modelo de produção de música, pois foi escrita em um dia em participação com MC Tchelinho.

Nesse momento o show brilha, pois o som está em alta. Independente do nível de intelectualidade que as músicas passem, se ela conseguir mexer seu corpo, para Luísa e os Alquimistas pelo visto está tudo bem. A alternância entre músicas bastante animadas com ritmos bregas e suas músicas mais lentas ou mais intelectualizadas em outras línguas faz muito bem para a continuidade do show.

Da esquerda para a direita: Carlos Tupy, Luísa Nascimento e Thales Pessoa (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Fechando o conjunto do EP, tivemos “Bota Essaki Pa Tocar” e “WBYB” (ou Wanna Be Your Bitch para os íntimos). Até este momento quem não estava contagiado já podia se retirar, pois, querendo ou não, aquele era o tom de todo o resto do show. E fazendo um desvio na velocidade das músicas a banda foca em “Furtacor”, em uma música nova de seu próximo álbum e “Horizonte”.

Assim, reiteram o fato de não serem qualquer banda, mas um grupo musical atravessado por ritmos e sensações muito distintas e que se unem todas ao mesmo tempo. Nessa mistura de Blues com Brega, os toques do baixo de Thales Pessoa são simplesmente transcendentais. Ele deu o sangue em todas as músicas e era visível o quanto se dedica trabalhando e tocando daquela maneira. o 2º baixista Pedras Leão dá seu toque especial nas músicas com um jeito mais contido em questão de palco, mas não deixa de brilhar e levar o público à loucura.

Com as músicas do Jaguatirica Print, que puxam mais o lado do brega, os meninos da música eletrônica como o DJ Gabriel Souto e o tecladista Pedro Regada fazem uma mistura absurda de ritmos. Com “Cadernin (versão Piseiro)”, “Descoladinha” e “Calor no Rio”, Pedro altera entre seu teclado sintetizador e sua sanfona trazendo o melhor dos ritmos mais característicos do Norte do país. Gabriel Souto é sempre muito apurado com seus toques, não diferenciando muito da versão em estúdio, mas às vezes dando um toque mais pessoal a sua sonoridade.

Capa do Álbum Jaguatirica Print (Spotify/Reprodução)

Numa cidade como Curitiba, fazer todo um grupo de pessoas dançar Brega Funk não é tarefa fácil, pois não é um ambiente cercado por festas de Aparelhagem nem pelo ritmo que contagia várias periferias do Norte e Nordeste. Mesmo assim, Luísa e os Alquimistas conseguiram fazer vários curitibanos replicarem a famosa “sarrada” característica do funk brega, parando também a própria banda para dançar em conjunto. “Olhos de Tocha”, a melhor música para isso, foi um momento único não apenas no show, mas na cidade em geral. No encerramento, “Vekanandra” e “Brega Night Dance Club”, fecham com muito brega e animação, sendo esta última um deleite para os ouvidos, com momentos sonoros muito bons para os dois baixistas e o guitarrista.

Numa tradicional pedida de Bis da plateia, a banda aproveitou para tocar músicas do especial de São João que iriam fazer no sábado (25) em Florianópolis.

Pode-se perceber que o texto é de um fã apaixonado, mas mesmo que não fosse ele teria a mesma energia e empolgação de uma pessoa que acabara de conhecer o som e a mensagem da banda. Um grupo com muito o que dizer, muito o que contar e que não sei ainda por que ****** não está sob os olhares de todos.

Na realidade, o que me fez aproximar a sonoridade deles foi justamente sua maneira única de lidar com sons distintos e sinto que para algumas pessoas isso ainda é um impedimento, principalmente para quem está geograficamente distante de onde os ritmos tocados são populares. Saio do show de Luísa e os Alquimistas extasiado, apaixonado e pedindo por um bis constante em minha cabeça, que é tão exclusivo que só será reavivado quando encontrar com eles de novo. Um grupo com jeito de famoso, sabe ser goxtoso e que eu daria muita corda para ver outra cachorrada vinda deles.

Não deixe de conhecer mais sobre a Luisa e os Alquimistas!

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Estudante de Cinema e Audiovisual em formação, "sériéfilo" por consequência, entusiasta de efeitos visuais e crente no poder de transformação social através das artes.