TERÇA TILT: uma das festas mais importantes de Londrina segue na ativa desde 2003 (Entrevista)
A Tilt é praticamente um ponto turístico para jovens que completaram 18 anos, passaram na faculdade ou são fãs de Indie, Pop e Funk
Publicado em 14 de junho de 2022, por Matheus Soares • Entrevistas, O Pop de LondrinaLondrina, no Paraná, é uma cidade que passou por muitas fases em termos de entretenimento, mais especificamente quando se fala de rolês e festas. Algumas gerações frequentaram bares e baladas como Kalahari, Glass Night Club, Friends e Maria Vai Cazoutras. Algumas festas também marcaram época, como Metamorfose, Cecê Bebi e Bapho Party. Todas as citadas possuem algo em comum: entraram em hiato e nunca mais voltaram, permanecendo na memória de quem viveu enquanto vivia.

(Portal Pop3/Reprodução)
Embora as citadas tenham pausado suas atividades sem retorno até o momento, uma festa londrinense continua firme e se atualizando conforme as gerações mudam: a Terça Tilt. Inicialmente uma festa para fãs de Indie Rock, o evento dominou as “paradas festivas” de Londrina e, se considerássemos uma lista de festas mais importantes da cidade, a Tilt facilmente estaria no topo por quase 20 anos consecutivos.

(Terça Tilt/Reprodução)
Evento que vive na memória de quem não reside em Londrina e praticamente um ponto turístico importantíssimo para quem completara 18 anos ou venha para a região seja estudar ou trabalhar, a festa ocorre fixamente no Bar Valentino e conta com a participação de três DJs por edição, alternando entre nomes consagrados da cidade e iniciantes que gostariam de uma oportunidade na cabine de discotecagem.

(Facebook/Reprodução)
A festa passou por diversas fases, sendo inicialmente um evento mais voltado para o Rock. Na metade da década de 2010, o Indie Pop ganhou muito espaço, ao lado de sons que marcaram a época — a festa até ganhou o meme de tocar The Strokes e Psycho Killer em todas as edições. Nessa mesma época, a Terça Tilt era tão disputada que você não entrava no evento caso chegasse após escurecer. Em experiência pessoal, já cheguei no Valentino 19h30 e inúmeras pessoas já esperavam na frente. O único detalhe é que o bar abriria apenas às 21h.
sei lá, queria ter 18 anos com a única preocupação de conseguir entrar na terça tilt antes de tocarem cool for the summer
— matevs (@matevsrosa) October 9, 2020
Mas, felizmente, a Tilt não é uma festa com feitos do passado: ela se mantém ativa até hoje, com seu retorno pós-covid em abril de 2022. Dessa maneira, o Portal Pop3 entrevistou o idealizador da festa, Nelson Sato, jornalista da cidade e uma pessoa que você facilmente encontrará nos cantos da Terça Tilt observando o público ou conversando com amigos e admiradores do evento. Confira nossa conversa logo abaixo!
Matheus: Primeiramente: qual seu nome e atuação na Terça Tilt?
Nelson: Meu nome é Nelson Sato. Sou idealizador e produtor da Terça Tilt. Durante alguns anos, fiz a discotecagem de abertura em todas as noites, mas este ano decidi me “aposentar”. Talvez eu toque em alguma noite para matar a vontade, mas será muito esporádico. A Tilt continua com três DJs por edição.

(Terça Tilt/Reprodução)
Matheus: Quando a Terça Tilt surgiu?
Nelson: A primeira Terça Tilt foi em dezembro de 2003 (vejam só: no ano que vem completará 20 anos!) no antigo endereço do Valentino, na Rua Jorge Velho, próximo ao Zerão e ao Moringão. Criei a festa depois de me entusiasmar com a discotecagem do jornalista Fabio Galão numa festa restrita a jornalistas realizada na Usina Cultural. Na época, ele tinha um gosto musical parecido com o meu. Ambos ouvíamos muito indie/rock alternativo. Além disso, ele tinha uma coluna no Portal Bonde em que resenhava discos.
Então idealizei uma festa com periodicidade fixa em algum bar da cidade para o Galão discotecar. Na ocasião, não havia (pelo menos eu não conhecia) nenhum estabelecimento com uma festa dedicada a esse estilo de som. Apresentei-lhe a ideia e ele topou. Foi o começo de tudo. Na sequência, fui direto ao Bar Valentino porque lá já rolava discotecagens de “anos 1980” com o DJ João Durval, de música latina com a Janaína Ávila e também uma festa de música eletrônica.
Matheus: Ela foi uma festa pensada exatamente para as terças-feiras ou essa ideia surgiu posteriormente?
Nelson: Quando propus a festa para o Chammé, um dos proprietários do Valentino, ele disse que o único dia disponível para fazer a festa era terça-feira. Fiquei frustrado, porque imaginava emplacá-la entre quinta e sábado, que eram os dias mais movimentados da casa. Mesmo assim, a contragosto, acabei aceitando. Nem imaginava que uma balada numa terça atrairia tanta gente, como ocorreria depois transformando a Terça Tilt num fenômeno de público em Londrina. Assim, vários amigos (quase todos jornalistas) que curtiam indie rock ajudaram a promover a festa. O nome, aliás, foi cunhado pelo Claudio Yuge, que era amigo do Galão e fez o cartaz da primeira edição junto com o Papito (designer).

(Terça Tilt/Reprodução)
Matheus: Quais suas memórias boas e ruins dos primeiros anos da festa?
Nelson: Durante o primeiro ano da festa, o público era mais ou menos o mesmo – a galera que curtia aquele estilo de som, jornalistas e estudantes de jornalismo. No início, só o Galão discotecava. Posteriormente, decidi abrir espaço para outros amigos e amigos dos amigos – todos amadores, nenhum dj profissional com rodagem pela noite londrinense. Ao longo do primeiro ano, ainda era um público segmentado. O negócio explodiu e virou um “fenômeno” depois da noite de aniversário do primeiro ano da festa, quando convidamos a banda Mudcracks (já extinta) para fazer um show comemorativo. O Valentino ficou entupido de gente. Daí em diante, um público numeroso passou a frequentar a Tilt e continuou assim no novo endereço da casa.
Matheus: Ao longo dos anos, a Tilt se tornou uma referência para jovens universitários e fãs de Indie. Como você enxerga essa transição, se lembra quando esse público passou a frequentar a festa?
Nelson: A Tilt tornou-se uma referência para um segmento do público jovem porque tocava o som que estava em alta na época mas que, no entanto, não era executado em outros estabelecimentos. O som da festa ecoava o indie que explodia no mundo, além do alternativo dos anos 1980 e 1990: The Strokes, The Killers, Franz Ferdinand, The White Stripes, Yeah Yeah Yeahs, Interpol, The Kings of Leon, Libertines, The Smiths, Pixies, Oasis, Blur, Radiohead, Supergrass, Weezer, The Cardigans, além de incontáveis bandas pouco conhecidas do grande público. Com o passar dos anos, os novos frequentadores passaram a exigir novos sons refletindo as mudanças no gosto musical do público em geral. Assim, a festa incorporou o pop, o funk, o rap, o trap, o reggaeton e outros ritmos.
Matheus: Antes da pandemia, a festa chegava em um ponto de ter quadras de filas antes mesmo das 19h. Possui memórias dessa época, era difícil controlar a quantidade de pessoas?
Nelson: As filas intermináveis da Terça Tilt ficaram lendárias, principalmente nos meses de férias universitárias. Davam muito trabalho para os seguranças. As pessoas reclamavam nas redes sociais que passavam “horas” na fila. Mas não eram queixas carrancudas do tipo “nunca mais volto lá”. Pelo contrário: tudo era falado com bom humor. Na Tilt seguinte, tava todo mundo lá.

(Terça Tilt/Reprodução)
Matheus: A última Terça Tilt antes da pandemia foi no dia 3 de março de 2020, com a line-up NELO, CAROL DUTRA e NOZOR. Você lembra como foi esta festa? Já havia murmurinhos sobre a covid-19?
Nelson: Quando fizemos a última Tilt antes da “suspensão das atividades”, ainda não havia temor de nada porque não havia registro de caso de covid em Londrina, o que só ocorreria duas semanas depois.
Matheus: A partir de março de 2020, festas foram suspensas no mundo todo. Como a falta da Terça Tilt afetou sua vida profissional e pessoal?
Nelson: A paralisação da Tilt impactou na minha vida, como a pandemia afetou a todo mundo: psicologicamente, emocionalmente, financeiramente.
ouvindo as melhores e clássicas da terça tilt (só londrinenses entenderão esse tweet)
— myllena dalla (@stwrtdalla) November 9, 2021
Matheus: Quando você começou a enxergar uma esperança para a volta da Terça Tilt?
Nelson: O avanço da vacinação trouxe a esperança com a queda de óbitos, internações hospitalares e controle da contaminação. Está mais do que demonstrado que as vacinas salvam vidas, contrariando a infame campanha dos negacionistas de plantão (todos sabem “quem” são).
Matheus: A parceria com o Valentino foi estendida com esse retorno, como vocês se organizaram para 2022? Quem sugeriu o retorno?
Nelson: Os proprietários do Valentino e eu decidimos juntos pelo retorno da Tilt, que só voltou (primeira edição foi em 5 de abril) quando o governo estadual flexibilizou as medidas restritivas adotadas até então para o controle da epidemia.
Matheus: Anteriormente, o evento de retorno foi anunciado para o início de janeiro e cancelado em seguida. O que levou a decisão de adiar a Tilt para Abril de 2022?
Nelson: Ao longo da pandemia, acompanhei diariamente os boletins epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde e só retornaria com a Tilt quando apresentassem dados positivos sobre redução de casos e internações hospitalares. Cancelei três edições consecutivas porque ainda não estava totalmente seguro para voltar.

(Terça Tilt/Reprodução)
Matheus: Falando diretamente do retorno, pode nos contar como foi a festa? Atingiu as expectativas?
Nelson: O retorno foi ótimo. Depois de dois anos, nada como retomar as atividades, poder rever os amigos e ver as pessoas se divertindo na pista.
Matheus: Existem pessoas que ansiavam pelo retorno da Tilt por ser sua festa favorita, mas também pessoas que nunca conheceram a festa ou o Valentino. Sobre o público, você enxergou mais novos rostos, velhos conhecidos ou um pouco dos dois?
Nelson: Notei que o público mudou. Aquela galera que frequentava dois anos atrás, talvez já esteja em outra vibe. Muitos se formaram, muitos deixaram Londrina. Vi muita gente nova. Teremos que começar a divulgação da festa do ponto zero.

(Terça Tilt/Reprodução)
Matheus: Com os casos de covid-19 cada vez menores em Londrina, podemos presumir que a Terça Tilt tenha edições quinzenais daqui pra frente. O que o público pode esperar da Tilt 2022?
Nelson: A Tilt volta com a mesma periodicidade (quinzenal), novos djs e com a expectativa eufórica de comemorar os 20 anos na próxima temporada.
Matheus: Por último, a festa já está partindo para 20 anos de existência. Olhando para toda essa caminhada, como poderia definir a experiência de organizar a Terça Tilt?
Nelson: Trabalhei mais de duas décadas como jornalista e nunca imaginei que poderia me tornar um produtor na área de entretenimento. São duas atividades apaixonantes. Festas com discotecagem são experiências efêmeras em Londrina. Não são marcadas pela longevidade. A Terça Tilt quebrou essa “tradição”. Talvez seja a mais duradoura das últimas décadas. Espero que continue viva no Valentino e pulsando na agenda dos jovens locais e da região.

(Terça Tilt/Reprodução)
Para saber mais sobre a Terça Tilt, acesse a página do Instagram e Facebook. Os eventos ocorrem quinzenalmente no Bar Valentino, iniciando sempre às 22h. Nesta terça-feira, 14 de junho, a festa será comandada por Ana Spessato, Juice e Daniel Queiroz. Vale a pena conhecer!