WE LOVE 90’s: festa londrinense se mantém atual celebrando uma década marcante
Uma das maiores festas de Londrina, a We Love 90's: Axé & Pop focou num som brasileiro que pareceu ter sido revisado por algum DJ que trabalhava em programas de auditório da época!
Publicado em 5 de maio de 2022, por Lucas Ricci • O Pop de LondrinaA década de 1990 é, sem dúvidas, uma das épocas mais marcantes da história da indústria musical, seja internacional ou nacional. Foi aqui que grandes nomes da música surgiram, se consagraram ou acabaram — para alguns, infelizmente, todas as opções anteriores. É a década que o pop, o axé e o eletrônico se expandem e se consagram com a criação de hits que reverberam até hoje entre diversas gerações. Essa é a história que a festa We love 90’s buscou celebrar em sua última edição “Axé & Pop”.
O evento aconteceu no dia 22 de abril, tomando conta das duas pistas do Bar Valentino — localizado na Rua Faria Lima e já consagrado na cena noturna londrinense. Apesar de já ter muito ouvido falar, foi pela festa We love 90’s que decidi ir ao bar pela primeira vez, arrastando duas amigas comigo e outros dois integrantes da equipe do Portal Pop3. As primeiras impressões foram de surpresa, um local que aparentava não ser tão grande olhando de fora se revelou um ambiente extremamente espaçoso por dentro. O Bar Valentino conta com duas pistas, ambas com bar, além de uma área externa, que inclui mesas e cadeiras, privilegiando seus clientes com a opção gastar suas energias na pista de dança e logo depois se sentar para repô-las enquanto joga conversa fora com seus amigos ou até mesmo come algo.

(Portal Pop3/Reprodução)
A We love 90’s soube utilizar bem esse espaço, deixando a pista externa nas mãos do DJ Caê e logo após a DJ Kansha, que proporcionaram uma música eletrônica extremamente agradável, cativando todas as (poucas) pessoas que optaram por sentar nas mesas perto do bar ou arriscaram dançar no pequeno espaço destinado para esse ato. Os DJs apresentaram sets cheios de energia, cumprindo bem a missão de fazer o aquece para a parte “principal” da festa que ocorre na pista interior. Os mixes dos DJs alternavam entre referências ao eurodance de 1993-1995 e eletros mais “recentes” da virada do milênio (como “Sandstorm”, de Darude). Adendo aqui: só fui encontrar essa pista interior após mais de duas horas de festa e a indicação de um amigo. Ato falho que poderia ter sido evitado talvez por alguma sinalização por parte do evento — ou mais esperteza por parte desse que vos escreve.
Enquanto perdia esse ambiente, quem comandava a pista principal era a DJ Dani Black, conhecida e aclamada por trazer um pouco da MPB, Samba, Pagode e o Pop Nacional, que beira o romântico e sofrência. Logo durante a noite, uma colega em quem esbarrei comentou que foi para a festa apenas para conferir a DJ e que se acabou de dançar com os hits de Claudinho e Bochecha. Essa assinatura nacional conversa perfeitamente com o público do Valentino, que forma longas filas para conferir as edições das festas Funk-Me, Barbada e Baile do LP. Uma jogada de mestre da organização da We Love 90’s, que soube dialogar com essa parcela apegada aos clássicos performados em exaustão no Planeta Xuxa durante os anos 90.

(Portal Pop3/Reprodução)
A pegada nacional sofreu um pequeno corte durante o set de Schöreder, que escolheu abordar o Pop Internacional e mixes que referenciam diretamente desta pegada. Embora tenha soado como uma quebra e possivelmente desagradado quem estava ali pelo nacional, foi por meio de Schröder que o público que frequentava as edições antigas nos bares LGBT se conectaram com a festa. Entre hits como “Believe”, de Cher, o grande destaque foi o mashup inesperado e inusitado de “Better Off Alone” e “Unlock It”, de Charli XCX e Kim Petras. Esse foi um momento em que Schröder confundiu a cabeça de quem não conhecia Charli e levou os Frootinhas londrinenses à loucura — e nós, principalmente, pelo plot twist. Apesar de muito bom, o set não durou muito tempo e deixou uma sensação de “quero mais”. Acredito que por ter focado em músicas de 1996 em diante, o set dele conversou mais com nossa roda, que reconheceu praticamente todas. Uma surpresa final do seu set foi “My Oh My”, um sucesso que envelheceu como um lado B do grupo Aqua. Seria demais pedir “Turn Back Time” na próxima?
O próximo DJ unia o internacional e nacional em uma sequência de hits que só não saberia quem nasceu após 2022. WETTO, que já atua praticamente como residente na festa, lidou com o ápice do público que se recusava sair da pista até para consumir bebidas. Foi neste momento em que a pista atingiu seu ápice e ganhou sua própria Scheila Carvalho, com um rapaz sem camisa performando absolutamente todas as canções reproduzidas ali. Esse foi um momento em que É O Tchan foi reproduzido em exaustão, para acompanhar um público que queria saber cantar e performar o que seria reproduzido ali. A virada do milênio também esteve no set, com Rouge, Kelly Key e Sandy & Junior — “Vâmo Pulá!” foi a música de abertura, causando euforia e êxtase no público presente. O set foi dominado por músicas nacionais até nas internacionais — o DJ reproduziu a versão Olodum de “They Don’t Care About Us” de Michael Jackson, incluindo a famosa e icônica frase: “Michael, eles não ligam pra gente”.

(Portal Pop3/Reprodução)
Um dos grandes momentos da noite aconteceu com “All I Want For Christmas Is You”, de Mariah Carey. Apesar de estar muito cedo para querer algo para o Natal deste ano, o público presente com certeza não ligava e queria para o Natal uma festa tão boa quanto a que estava rolando. Melhor do que a música em si, a Drag Queen presente, Helga Haggen-Dazs, se consolidou como a melhor atração do evento. Incorporando cada palavra da música, ela interagia com o público — e nós — com tanto carisma, que era difícil decidir se seria melhor cantar a música com meus amigos ou olhar para sua performance. A Drag, que já é figura presente no evento e no Carnaval de 2022 havia se vestido de Xuxa na Contra-Capa do Xou da Xuxa 2 e dominado a pista com “Lua de Cristal”, desta vez continuou consolidando o evento com apresentações divertidas e interativas. Merecia uma edição especial, We Love 90’s e Helga Haggen-Dazs!
Se “All I Want For Christmas” já havia sido recebido com muita gritaria e confusão, a transição de sets mostrava que a festa estava apenas na metade. Quem entrou para comandar a pista desta vez foi o artista Dan Murata, que aproveitou a deixa de 1994 e foi para 1999 com o batidão de “It’s Not Right, But It’s Okay (Thunderpuss Remix)”, música indispensável para as pistas que relembram o passado da música pop. Os vocais poderosos de Whitney Houston se conectaram com uma performance conjunta de Dan e Helga, que faziam um lipsync em conjunto — parecia que o número tinha sido ensaiado por semanas de tão perfeito. No ápice da canção, ambos realizaram uma coreografia conjunta em que levantavam os braços e giravam.

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Por algum imprevisto do equipamento, o set do Dan Murata foi interrompido algumas vezes, mas nada que atrapalhasse o desempenho geral do sua apresentação, que foi uma ótima farofada para todos os gostos. Acho que o conceito de seu set foi “Vamos fazer o pessoal ficar com dor nas pernas o fim de semana inteiro de tanto dançar”, e posso garantir que funcionou. Buscando agradar todos os presentes, seu set ainda passeou entre Pop, Rock, Funk, Axé e até atualidades — em um momento em que o som sofreu uma nova falha, Glória Groove viajou de 2022 para os anos 1990 e fez o público presente ir à loucura com um pequeno gosto da atualidade, se juntando com Charli XCX nas viajantes do tempo no evento.

(Portal Pop3/Reprodução)
A bebedeira e coreografias foram interrompidas com a distribuição de pirulitos de chupeta, que formou uma fila ao redor do DJ Caê, ao distribuir o doce sorrindo com tantos adultos desesperados por puro, puro, PURO açúcar. Enfatizo o puro açúcar porque este pirulito fez toda minha roda de amigos ficarem sóbrios conforme iam consumindo o doce. Mimo noventista ou estratégia para consumirmos mais drinks? Um mistério para ser discutido nas lendas urbanas do Domingo Legal.
Antes de irmos embora, aproveitamos um pouco a área externa do Bar Valentino, um lugar perfeito para descansar após tantas loucuras na pista interna. Ali, discutimos um pouco sobre o evento, como algumas festas específicas seriam boas ali e que os ambientes diferentes do bar combinavam com o clima da festa. Discorremos sobre algumas festas do evento não lembramos de ouvir algumas sofrências de Sandy & Junior ou baladas românticas internacionais. Mas, para uma festa com duração longa, estes ritmos poderiam ter passados desperbecidos quando saímos para procurar banheiros ou o fumódromo.

(Portal Pop3/Reprodução)
Um dos grandes pontos que observamos é a versatilidade que os anos 1990 traz: há como abordar uma edição Blond Ambition, se pensarmos no ápice Madonna em 1992, uma edição da dominação nacional variada de 1994 a 1997, o Axé (desta edição), Rock, Teen Pop e até a virada do milênio, que mesmo ganhando o número 2000, ainda bebeu muito da fonte do fim dos anos 1990. E a versatilidade da década é um grande fator positivo para a festa, que conseguirá produzir edições variadas sem se preocupar em perder público — graças às rádios, programas de auditórios, vinis e CDs de compilações, quem cresceu nessa década viveu em uma variada playlist, seja dos pais, amigos da escola ou consumindo seus artistas favoritos.
Em conclusão, a festa We love 90’s, apesar das adversidades, fez jus à essa década tão especial da música. Os DJs apresentaram uma boa seleção de hits que contagiaram todos da pista de dança em diversos momentos. Ainda, vale destacar a preocupação em inovar e tentar surpreender o público com a temática, fugindo um pouco do que já era esperado — principalmente por nós, que esperávamos um pouco mais de canções internacionais. Entretanto, em minha opinião ainda faltaram vários artistas essenciais dessa época, mas, ao mesmo tempo, compreendo as limitações que eventos como esse podem ter e as escolhas artísticas de cada um. Cabe ressaltar, que parte desse mérito se dá também ao Bar Valentino, que, sinceramente, oferece uns dos melhores lugares que esse humilde escritor já viu para esse estilo de evento.

(Portal Pop3/Reprodução)
Porém, como nem tudo são flores, as bebidas do bar estão bem caras (pelo menos para mim), o que resultou na necessidade de recorrer às famosas doses de Ypióca, a bebida mais barata que você irá encontrar no cardápio. Com um Brasil tão complicado financeiramente desde a era Collor, seria uma ótima trabalhar com algumas promoções em horários limitados, principalmente ao pensar que estamos em uma época na qual Londrina e região já retomaram eventos com público fiel; está cada dia mais difícil conseguir participar de vários eventos dentro de um único mês. Apesar disso, adoraria retornar ao bar para prestigiar uma próxima We love 90’s e ouvir muitas músicas boas. Só faria um esquenta antes… E guardaria o pirulito de chupeta para a ressaca do dia seguinte!