Conversas Entre Amigos tem resposta morna da crítica e do público; entenda!
Minissérie tenta o mesmo efeito de Pessoas Normais, mas falha na química dos personagens e no ritmo da narrativa
Publicado em 3 de junho de 2022, por Maisa Carvalho • Notícias, Séries e TVEm resposta ao grande sucesso de Sally Rooney com a venda de livros e da adaptação de seu segundo romance, Normal People (Pessoas Normais, em português) no ano de 2020, a mais nova adaptação do trabalho da autora, Conversas Entre Amigos, tem uma resposta morna da crítica e do público.
O trabalho de Rooney sempre dividiu opiniões, desde o lançamento do livro de mesmo nome publicado no Brasil pela editora Alfaguara, em 2017. A autora parece ter aquela aura de “ou você ama ou odeia” em volta de suas obras. Mas o sucesso estrondoso do primeiro livro foi logo seguido, e aumentado, por sua segunda obra, no caso Pessoas Normais (Cia. Das Letras), em 2018.
Esse romance foi o primeiro da autora a fazer um grande sucesso por aqui, já muito antecipado e hypado pela crítica de fora, no Brasil, ele também dividiu opiniões entre crítica e público. A adaptação, que só veio em 2020, pegou a todos (até quem não amou o livro) de surpresa, gerando muito burburinho durante os primeiros meses de isolamento social e até concedendo a Paul Mescal uma indicação ao Emmy Awards. A série capturava a essência das personagens e da narrativa de Rooney, então é claro, que uma adaptação de Conversas Entre Amigos teria tudo para dar certo, mas por que a resposta não foi a mesma?
Conversas Entre Amigos: saiba mais sobre a série
A série estreou em 15 de maio no Hulu, sem previsão de estreia no Brasil ainda, mas sabemos apenas que será distribuída pelo HBO Max. O elenco, assim como em Pessoas Normais, é novo e relativamente desconhecido, com exceção de Jamima Kirke (Girls). A estrutura da adaptação também é bem parecida, com episódios curtos e uma fotografia mais orgânica, lenta, trilha sonora muito bem escolhida. No entanto, diferente de sua antecessora, o elenco parece não ter química alguma.
Em 12 episódios de menos de 30 minutos, a minissérie deveria prender o espectador do início ao fim, mas não é isso que acontece. Conversas Entre Amigos parece não ter carisma algum até o quarto episódio, quando as coisas passam a acontecer e ficar mais interessantes, ainda assim, o ritmo da série parece mais lento, quase entediante. A partir do episódio 6 melhora muito, a mudança de cenário faz bem à trama, mas não é o suficiente para salvar o projeto todo.
A minissérie tem essa qualidade de fazer com que as personagens pareçam pessoas reais o tempo todo, que falam e agem como pessoas reais, em nenhum momento parece roteirizado, isso muito se deve ao trabalho de Rooney, mas no fim, não funciona, é quase caricato, esterilizado, sem emoção. Enquanto em Pessoas Normais foi capturada a intimidade perfeita entre duas pessoas, com um elenco mais abrangente em foco e sem química alguma, Conversas Entre Amigos parece indiferente.
Em uma matéria exclusiva, logo após o lançamento da minissérie, o The Hollywood Reporter informou que por estar focada em seu terceiro romance, Sally Rooney não participou da produção ativamente. A falta da autora como produtora e roteirista é sentida, talvez seja esse afastamento de criadora e criatura tenha resultado em todos esses defeitos.
O livro apresenta personagens cativantes, complexas e cheias de defeitos, que fazem o leitor amá-los e odiá-los ao mesmo tempo, com muitas nuances e debates que podem ser representações perfeitas de como jovens adultos falam, se comportam e se contradizem em discurso e ação, além de estar sempre relacionados às agonias e mazelas da juventude no século XXI.
A adaptação não conseguiu transparecer nada do que é tão pontual no livro, e na obra geral de Sally Rooney, embora tenha bebido da mesma fonte de uma adaptação de sucesso, Conversas Entre Amigos parece não entender muito bem o ponto da autora.