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Mythic Quest: uma joia perdida no Apple TV+

Personagens amáveis, diferentes umas das outras, mas colocadas em um elenco mais que competente e cheio de química, fazem essa série pequena ficar viciante a cada episódio

Publicado em 30 de agosto de 2022, por Séries e TV

Lançada em fevereiro de 2020, Mythic Quest é uma das melhores séries disponíveis no Apple TV+ atualmente.

Da brilhante mente por trás de It’s Always Sunny in Philadelphia, Rob McElhenney, com Charlie Day e a veterana de sitcoms Megan Ganz (Modern Family, Community), Mythic Quest une o mundo dos games em um formato único de comédia.

Não, um escritório com adoráveis personagens navegando o mundo do trabalho e a vida pessoal, não é um conceito inovador e uma série de comédia. O que faz de Mythic Quest uma série especial atualmente é que, para além do dia a dia da empresa desenvolvedora de um super jogo RPG com uma legião de fãs, que envolve todas as mesmices de um escritório e as relações interpessoais das personagens — o que já dá muitas camadas para a série —, os roteiristas não têm medo de ousar.

Em apenas duas temporadas, com 9 episódios cada e 2 episódios especiais, Mythic Quest apresenta dois episódios em formatos inesperados no meio de cada temporada, o que agrega à narrativa fugindo do convencional flashback de personagens ou exposição através de diálogos e um episódio especial filmado durante a pandemia totalmente em isolamento, com cada ator fazendo as cenas de suas casas.

(Apple TV+/Reprodução)

A 1ª temporada, lançada antes de o mundo parar totalmente em isolamento por conta da pandemia de covid-19, segue a história de lançamento do pacote de expansão do jogo Mythic Quest, intitulado Raven’s Banquet. Já introduzindo a dinâmica das personagens principais, o idealizador e criador do jogo Ian Grimm (Rob McElhenney) e a programadora e engenheira chefe, Poppy Li (Charlotte Nicdao).

Durante a temporada, como espectadores, acompanhamos as personagens após o lançamento da expansão, dependendo das avaliações dos gamers, principalmente streamers que fazem críticas do jogo. Além de comentar muito sobre empresas mais “descoladas” e como esses ambientes de trabalho são diferentes de empresas “tradicionais” apenas na teoria. As dinâmicas de Mythic Quest são novas comparadas a sitcoms que se passam em ambientes de trabalho.

(Apple TV+/Reprodução)

 

Além da relação de total confiança, amizade e quase co-dependência de Poppy e Ian, o chefe da empresa, David traz consigo uma figura de chefia quase patética, que chega a provocar insubordinação. As personagens de núcleos do trabalho “de escritório” como secretária irreverente Jo e a representante de RH Carol, são bons pontos de balanço tanto no humor, como na história, trazendo equilíbrio ao grupo geral.

As game testers, ou “testadoras” trazem um romance fofo e perspectivas diferentes sobre não apenas o trabalho, mas o mundo dos jogos através de visões femininas. Brad, o chefe do setor de monetização é um contraponto a todas as personagens por não dar a mínima para jogos ou o MQ em si, apenas os ganhos. O escritor das histórias que acompanham cada fase do jogo, CW, que é apresentado como um escritor decadente que acabou caindo ali aleatoriamente.

Personagens amáveis, diferentes umas das outras, mas colocadas em um elenco mais que competente e cheio de química, fazem essa série pequena ficar viciante a cada episódio, a cada pequena história, plot e subplot apresentados.

O mais surpreendente de tudo, é que a série não apresenta uma ponta solta. Do primeiro ao nono episódio da primeira temporada, é fácil assistir à tudo com um sorriso no rosto, não apenas pela comédia apresentada, mas a originalidade da história, como cada personagem é único e cativante.

Logo no meio da temporada, no quinto episódio, uma surpresa maravilhosa, o episódio “A Dark Quiet Death”, é como um curta metragem, no meio da temporada, sobre um casal e um jogo independente, como esse jogo foi financiado e mudou a vida deles, de início parece não ter nada a ver com o jogo ou a equipe de MQ, mas é possível fazer paralelos com a história e a relação de Ian e Poppy e seu amor pelo jogo que desenvolveram juntos, com a tentativa de se manter puro à sua criação em meio a um mundo/indústria comercial que visa, ao final de tudo, lucros.

(Apple TV+/Reprodução)

O episódio não é apenas uma das coisas mais lindas que eu assisti esse ano, mas uma das coisas mais surpreendentes de se encontrar em uma comédia, que até então, parecia seguir os moldes tradicionais de sitcoms.

O primeiro episódio especial da 1ª temporada, intitulado “Quarentena” também é uma surpresa mais que agradável, não apenas pelo formato, que em 2020 já não era 100% original, feito somente em telas, uma vez que Modern Family já fez isso.

A diferença do episódio de Mythic Quest é que o formato foi feito durante a pandemia da covid-19, como uma tentativa dos produtores de manter os salários de toda a equipe da série durante o tempo de isolamento, tudo isso não usando o formato apenas como chamariz para MQ, mas de fato utilizando as conversas em Zoom de forma inteligente e agregando às relações das personagens principais. Além de ser feito de forma extremamente coordenada e 100% em isolamento, as cenas foram gravadas em iPhones (a equipe convenceu a Apple a liberar mais de 70 telefones para o episódio).

(Apple TV+/Reprodução)

Uma das cenas mais emocionantes da série faz parte deste episódio e foi gravado um abraço entre Ian e Poppy, no qual o marido da atriz Charlotte Nicdao faz o papel de Ian. Uma cena simples, que se em 2022 já foi emocionante (sim, eu chorei), em 2020 o peso seria ainda maior.

O segundo episódio especial extra da 1ª temporada, foi um reencontro da equipe depois de quase 1 ano do último episódio lançado, quando já se tinham permissão para seguir com as gravações seguindo as normas da OMS, em 2021,  é uma grande celebração do amor da equipe pelo jogo que eles desenvolveram, além de ser um grande “foda-se” para 2020, o episódio é divertido, engraçado e ao final, com uma cena de menos de dez minutos, vira um mundo de fantasia mais bem feito eu muita série de outros streamings por aí.

Estes episódios extras, embora tenham sido lançados após o final da primeira temporada e não “avançam” a história no enredo, agregam muito emocionalmente para as relações entre as personagens e até fortalecem o apego do expectador com a série.

(Apple TV+/Reprodução)

A 2ª temporada, também com nove episódios e sem especiais também contém um episódio surpresa, que de início parece não se encaixar na série, com bastante apelo emocional e informações relevantes para histórias de personagens. Uma viagem no tempo que faz com que algumas coisas sejam melhor entendidas na série, um episódio que mistura comédia e drama, amarrado por uma direção linda e um roteiro impecável.

(Apple TV+/Reprodução)

A 2ª temporada parece ter mais riscos e ser mais incerta, enquanto o mundo de MQ ainda existe e o jogo continua sendo a prioridade das personagens, a mensagem de que não é possível criativamente ficar no mesmo lugar e evoluir, assim como deixar suas criações tomarem formas para além de você pegam forte e se tornam pertinentes uma vez que a própria série parece não estabelecer um único formato em si mesma, brincando com as liberdades criativas (e o orçamento, claro) dadas à equipe. A segunda temporada, dá ao espectador um sentimento de que o melhor de Mythic Quest ainda está por vir, acabando num tom esperançoso para a terceira.

(Apple TV+/Reprodução)

Em uma entrevista recente, Rob McElheeney contou que embora sua vida tenha mudado com It’s Always Sunny in Philadelphia, em Myhtic Quest, ele tem mais liberdade para ousar na história, para brincar com formatos e com ideias. A terceira temporada foi anunciada na San Diego Comic-Con, para esta primavera, sem uma data exata, mas uma coisa é certa, se Mythic Quest seguir o caminho das primeiras temporadas, não vai decepcionar e vale a pena ser acompanhada.

Confira o teaser da terceira temporada logo abaixo!

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Jornalista viciada em cultura pop, uso a ficção e a arte para tentar navegar o caos do mundo e vivo tentando escrever sobre coisas legais internet afora.