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2ª temporada de Undone é uma das melhores coisas que o Prime Video tem a oferecer (Crítica)

Volta da série mistura raízes mexicanas, indígenas e polonesas como influentes nos traumas do passado no streaming do Amazon Prime Video

Publicado em 29 de maio de 2022, por Críticas

Muita gente ainda não deve saber, pois a divulgação do Amazon Prime Video é bastante irregular, mas o streaming lançou em 29 de abril a 2ª temporada de uma série que já havia causado um burburinho na 1ª: Undone. A produção narra a vida de Alma Winograd-Diaz (Rosa Salazar) ao tentar desafazer os “erros” de sua linha do tempo e salvar seu pai, Jacob (Bob Odenkirk) da morte causada por um acidente de carro. Na primeira temporada, acompanhamos seus poderes psicodélicos e irregulares tomarem parte na vida de Alma e ela aprende a controlá-los. O que causa dúvida no espectador e nas personagens é sobre seus poderes serem talvez ilusórios e se alma realmente possui essa capacidade.

Durante a 2ª temporada, os possíveis problemas psicológicos de Alma são deixados de lado e focamos apenas na realidade secundária que foi tão almejada durante a 1ª temporada. Nela, muitas coisas são diferentes mas os problemas familiares se tornam mais acentuados. Jacob não morreu, Becca (Angelique Cabral) possui poderes de viagem no tempo e Alma agora é professora de Filosofia numa universidade. Com tantas situações diferentes, Alma e Jacob continuam os mesmos, com as mesmas memórias, diferente do resto dos personagens. Nesta confusão entre as duas linhas do tempo, a nova versão da família deles se mostra problemática e Alma tenta consertá-la novamente, assim como fez na primeira linha do tempo.

(Amazon Prime Video/Reprodução)

Neste novo esquema, Alma continua uma personagem ávida, necessitada de respostas e procura saber em detalhes quais os problemas da família. Becca deixa de ser a coadjuvante de eventos importantes e passa a ser uma “co-protagonista” ao dividir os poderes com ela; a relação passa a ter mais camadas e ela rapidamente se tornou uma das personagens mais carismáticas da série. A mãe, Camila Diaz (Constance Marie), passa por uma mudança drástica se mostrando como uma pessoa cheia de segredos, o que a afasta do público – mas com os melhores motivos do mundo.

Durante o período de investigação no México, a série aparenta se voltar para um passado obscuro, e com uma história relativamente simples resolve todo seu mistério num episódio maravilhoso (“Pulmões – 2×5) . A simplicidade da trama de passado e futuro, não tira da mira dos roteiristas uma sensibilidade e coerência ao dar motivações para seus personagens, como a entrada do meio-irmão Alejandro (Carlos Santos).

(Amazon Prime Video/Reprodução)

Após os novos momentos de delicadeza, somos apresentados com uma segunda subtrama, logo quando pensamos que não há mais nada a se resolver: a mãe de Jacob, Geraldine (Holley Fain) havia passado muito tempo de sua vida internada numa casa para pessoas com problemas psicológicos algo que se torna um efeito borboleta dentro da família e cria uma sucessão de traumas de dentro da família, culminando na não-adoção de Alejandro. Neste outro lado da família, há um passado com raízes na cultura polonesa e também se torna alvo para Alma buscar mais um conserto da linha do tempo.

Ao longo da temporada, o que é desenvolvido não é exatamente essas pequenas correções na linha do tempo, mas pelos poderes de Alma (e agora Becca) serem muito aleatórios na maneira de funcionarem, nunca sabemos até que ponto ela podem intervir na linha do tempo a seu bel prazer. Isso deixa o espectador aflito em vários momentos, pois a ansiedade da personagem é brilhantemente traduzida para a tela com a linguagem corporal de Rosa Salazar.

É incrível uma série com temas tão regionais ter tanto dinheiro envolvido (rotoscopia de animação é um processo caro e demorado), uma produção muito competente e falar tanto sobre rituais indígenas, raízes mexicanas, curanderismo, adoção, imigração, abandono parental, rituais oraculistas poloneses, traições e tantos outros que a obra ousa tocar e nunca passa batido, apesar de sua rapidez. Parece que não há tema de que a série não possa falar, a seriedade para comoção a partir da alteridade sempre permanece no mesmo lugar.

(Amazon Prime Video/Reprodução)

A animação mistura rotoscopia, 3D e pinturas a óleo e engradece esta temporada a cada segundo. Distorções misturadas com VFX psicodélico dão à série um ar único e original, semelhante ao que ocorreu na primeira temporada, mas ainda diferente, devido aos ambientes e situações apresentadas.

Undone se reinventa, inova e mostra um novo lado seu a cada episódio, e para a minha surpresa a segunda temporada claramente mostra um cacife maior e melhor, coisa que achei que não fosse possível. Ainda deixa um gancho tanto quanto duvidoso para uma possível terceira temporada, mas depois do avanço que tivemos nessa, os showrunners Raphael Bob-Waksberg e Kate Purdy não deverão ter mais problemas para dar continuidade e quem sabe um fim para a história.

Undone
Undone
Prime Video
Kate Purdy & Raphael Bob-Waksberg
Raphael Bob-Waksberg, Kate Purdy, Noel Bright, Steven A. Cohen, Tommy Pallotta, Femke Wolting, Bruno Felix, Hisko Hulsing
2

Nota: 4.5

Nota: 4.5
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Estudante de Cinema e Audiovisual em formação, "sériéfilo" por consequência, entusiasta de efeitos visuais e crente no poder de transformação social através das artes.